O Dr. Guilherme Fraga Gomes e a sua mata (1)
O Dr. Guilherme João de Fraga Gomes, filho de Maria Carlota de Faria de Fraga (natural do Corvo) e de João Cipriano de Gouveia Andrade Gomes, nasceu no Funchal no dia 11 de junho de 1875 e faleceu na mesma cidade no dia 9 de outubro de 1952.
O Dr. Fraga Gomes, formado na Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, tendo concluído o seu curso no dia 13 de julho de 1897, veio para São Miguel a convite do seu conterrâneo Dr. José Maria dos Passos Henriques que exercia medicina na freguesia da Bretanha.
A 23 de julho de 1898, chegou a São Miguel, tendo-se fixado na Bretanha onde permaneceu um ano. O Dr. Fraga Gomes concorreu ao partido médico municipal da Maia, tendo sido nomeado para ocupar o cargo, passando a viver na Maia a 7 de agosto de 1899. Foi na Maia que passou grande parte da sua vida a exercer clínica geral, segundo ele “ a princípio desde a Lomba de São Pedro até à Ladeira da Velha, três anos depois, da Lomba da Maia até ao Porto Formoso, Ladeira da Velha”.
O Dr. Fraga Gomes não se limitou a exercer medicina, teve, também, uma participação cívica exemplar, sendo segundo o Dr. Francisco Carreiro da Costa “um dos grandes beneméritos da terra”.
De acordo com numa nota publicada no segundo volume do “Apontamento Histórico-Etnográfico de São Miguel e Santa Maria”, publicado, em 1982, pela Direção Escolar de Ponta Delgada “a 27 de outubro de 1919, reuniu-se um grupo de amigos da Maia que elegeram uma comissão iniciadora e fundadora de um pequeno hospital, constituindo a Assembleia Geral o Professor Manuel Jacinto da Ponte, Jaime Hintze e o Dr. Jacinto Gago de Faria e Maia, e a Comissão executiva o Dr. Guilherme de Fraga Gomes, José Melo Nunes, Padre João Joaquim Borges, Manuel de Sousa Leite e José Bento do Couto”.
Só cerca de 24 anos depois, a 8 de agosto de 1943 foi colocada a primeira pedra e no ano seguinte, no dia 24 de setembro de 1944, o mesmo foi inaugurado.
Mas, não foi apenas à medicina e à solidariedade ao próximo que o Dr. Fraga Gomes se distinguiu e se dedicou. Sobre o assunto, ele escreveu “o que fiz na Maia fora da minha profissão – o meu violino, foi a floricultura e a arboricultura”.
Sobre a sua paixão pelas plantas, o Dr. Carreiro da Costa, em artigo publicado no jornal “Açores”, de 11 de novembro de 1952, escreveu:
“ O seu amor às flores e às árvores esse ficou para sempre traduzido na magnífica mata do Outeiro Redondo, por ele criada e desenvolvida e hoje considerada uma das mais belas e ricas coleções botânicas existentes em São Miguel, a avaliar pelo que nos deixou escrito sobre “A Beleza dos Fetos”, ali existentes, em primoroso artigo publicado no nº 10 do Boletim da C.R.C.A.A. [1949]”.
No blogue da Associação Amigos da Mata, pode-se ler que a construção da mata “remonta ao século XIX, tendo sido finalizada na parte final dos anos 90 quando o seu proprietário terá introduzido a maior parte dos melhoramentos que são conhecidos com o propósito de valorizar a coleção botânica” e mais adiante refere-se à visita régia nos seguintes termos: “Conta-se que foi neste local que o rei D. Carlos e D. Amélia foram recebidos aquando da visita régia a São Miguel, em 1901”.
Temos algumas dúvidas em relação ao atrás mencionado, a não ser que a mata tenha começado a ser construída antes da chegada do Dr. Fraga Gomes à Maia e relativamente ao acolhimento dos reis de Portugal, até ao momento, não encontramos nenhum documento que o comprove.
O único relato que conhecemos da visita dos reis às Furnas com passagem pela Ribeira Grande é da autoria de Hintze Ribeiro e foi transcrito no jornal “A Estrela Oriental”, de 3 de agosto de 1901, não fazendo qualquer referência à mata. De acordo com o mesmo na Ribeira Grande ocorreu “a mais tocante e grandiosa receção”. Depois do acolhimento na então vila nortenha “ o almoço foi a meio caminho da Ribeirinha (….). Às 6 horas da tarde chegaram Suas Majestades às Furnas, hospedando-se em casa do Sr. Marquês da Praia”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31186, de 22 de maro de 2017, p.16)
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