segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O escritor açoriano Pedro da Silveira e a Seara Nova


O escritor açoriano Pedro da Silveira e a Seara Nova

Pedro Laureano Mendonça da Silveira foi um escritor açoriano que nasceu na Fajã Grande, ilha das Flores, a 5 de setembro de 1922 e faleceu, em Lisboa, em 2003.

Depois de ter feito estudos na ilha Terceira, a partir de 1945 fixou residência em Ponta Delgada. Nesta cidade colaborou assiduamente com o jornal “A Ilha”, tendo aí influenciado culturalmente vários jovens, como Bruno da Ponte que num testemunho publicado no livro “A oposição ao Salazarismo em São Miguel e em Outras ilhas Açorianas (1950-1974)” escreveu que foi através dele que conheceu vários autores brasileiros e a literatura de viagens.

Sobre a sua passagem por São Miguel, Eduíno de Jesus, no mesmo livro, faz referência a um grupo, de que fazia parte Pedro da Silveira, “que apareceu em Ponta Delgada logo a seguir ao fim da guerra e que aderiu francamente às ideias modernas, causando uma grande perturbação no meio micaelense”. No mesmo livro, o encenador e ator açoriano, Mário Barradas, após referir que foi através de Pedro da Silveira que contatou com o neorrealismo, relata um episódio caricato que envolveu a polícia. Segundo ele, Pedro da Silveira foi “preso por uma acusação que nunca se soube qual era; o que se dizia é que ele, conversando connosco no Bar Jade, teria afirmado que o Afonso de Albuquerque era homossexual”.

Em 1951, Pedro da Silveira troca Ponta Delgada por Lisboa, tendo aí residido o resto da sua vida, onde foi primeiro delegado de propaganda médica e depois funcionário da Biblioteca Nacional.

Foi curiosamente numa reunião realizada na Biblioteca Nacional que surgiu a revista Seara Nova, de que Pedro da Silveira foi colaborador, entre 1957 e 1974, que teve como fundadores Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Azeredo Perdigão, Câmara Reys, Faria de Vasconcelos, Ferreira de Macedo, Francisco António Correia, Jaime Cortezão, Raul Brandão e Raul Proença, pessoas que não se conformaram com o que “ designavam de "desastre colectivo" e pugnavam pelos valores da inteligência, da cultura, da ética, da justiça e do progresso”. No primeiro número da revista, publicado a 15 de outubro de 1921, o Grupo Seara Nova definia-se como «opondo-se ao espírito de rapina das oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes e partidos» e condenando os constantes movimentos revolucionários em nome da verdadeira Revolução - a dos espíritos “

Em 1957, Pedro da Silveira foi autor de dois textos publicados na Seara Nova. O primeiro “Uma viagem por velhos papéis ...e algumas lembranças” que saiu no número duplo 1343-1344, datado de agosto, setembro e outubro e o segundo, “Luís da Silva Ribeiro Mestre da Açorianidade”, grande mestre da etnografia açoriana, publicado no número 1345-1346, de novembro-dezembro.

O ano da chamada Revolução dos Cravos, 1974, foi um dos anos em que a Revista Seara Nova contou com mais colaborações de Pedro da Silveira, a primeira das quais intitulada “Avril au Portugal” foi publicada no primeiro número da Revista, o nº 1543 relativo ao mês de maio, que depois de muitos anos não foi alvo censura prévia.

No seu texto, Pedro da Silveira mencionou as mentiras ditas na televisão por um dos porta-vozes do Estado Novo, o sr. César Moreira, sobre a Revolta dos Açores e Madeira. Segundo ele, na conversa surgiram “as “biscas” soezes diretamente arranhando os povos insulares então rebelados, com alguns metropolitanos, contra a ditadura. Irresponsáveis foi o mínimo que chamou aos vencidos…”.

Sobre a presença das principais figuras do Estado Novo na Madeira, a seguir ao 25 de abril, Pedro da Silveira insurge-se pelo facto de não estarem lá como presos mas como “turistas”. Sobre o assunto, aqui fica um pequeno extrato do seu texto: “…E o espanto é tanto maior, e vai crescendo, porque ainda não houve (ou não me chegou notícia de que houvesse) um madeirense que, sentindo suja, insultada a sua ilha com a presença de tais “hospedes”, passasse às vias de protesto ou até…e era natural…às de facto: com um par de bofetadas”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31423, 9 de janeiro de 2018, p.16)

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