terça-feira, 27 de agosto de 2019

Notas sobre Agostinho Sá Vieira


Notas sobre Agostinho Sá Vieira

A leitura do livro, de Augusto Cymbron, “Açorianos Ilustres” que reúne notas biográficas de alguns açorianos que de algum modo se distinguiram, fez-me pensar num conjunto de outros que também mereciam figurar entre os que é justo não ficarem esquecidos.

Antes de dar a conhecer alguns aspetos da vida de Agostinho Sá Vieira, um dos açorianos que, parafraseando Camões, da lei da morte se libertou, recomendo a leitura e a divulgação junto dos mais novos do livro referido que poderá ser ponto de partida para trabalhos de investigação ou pequenos trabalhos de projeto nas escolas.

Ainda relativamente ao livro, numa eventual futura reedição, sugiro que seja revista a bibliografia, pois tal como está, não obedecendo a nenhuma regra por mim conhecida, dificulta quem quer pistas para aprofundar os seus conhecimentos sobre as personalidades escolhidas pelo autor.

Agostinho de Sá Vieira (1896-1988), advogado natural da Ribeira Seca da Ribeira Grande, dedicou parte da sua vida aos outros e com coragem combateu o regime ditatorial instalado em Portugal depois da Primeira República.

O primeiro facto que se recorda é a sua participação na Primeira Guerra Mundial, onde como posto de alferes integrou o Corpo Expedicionário Português, tendo sido ferido e feito prisioneiro na Batalha de La Lys, em França. No regresso a Portugal foi promovido a capitão e condecorado. Sobre o assunto, o jornal “A República, de 27 de fevereiro de 1919, regsita o seguinte: “…sr. Alferes Agostinho Sá Vieira, nosso patrício e que em França, desde a primeira hora afirmou grandes qualidade de valentia e competência. Pende-lhe do peito a Cruz de Guerra e esse simples facto mostra bem os seus relevantes serviços à Pátria”.

Em 1931, Agostinho Sá Vieira participou na chamada Revolta da Madeira ou dos Deportados que se estendeu aos Açores, tendo feito parte da Junta Revolucionária em representação dos micaelenses. Com a derrota dos revoltosos que pretendiam “a instalação definitiva da perfeita Democracia – governo do povo pelo povo e para o povo- e única garantia da unidade e prosperidade da República de Portugal”, Sá Vieira foi afastado do exército e preso.

Se é muito conhecida a participação política de Agostinho Sá Vieira como opositor ao Estado Novo, menos divulgada é a sua dedicação ao próximo. Com efeito, em 1972, de acordo com notícia publicada no Diário dos Açores, de 8 de novembro daquele ano, aquele “instituiu um prémio anual de 5 mil escudos para galardoar o aluno do Externato Ribeira-grandense, natural da Ribeira Seca, sua terra natal, que melhor classificação obtivesse no curso geral dos liceus”. O prémio foi atribuído pela primeira vez, em 1973, à aluna Maria da Conceição Arruda Botelho.

De acordo com a notícia citada, outra prova do seu altruísmo foi a doação, à Junta de Freguesia da Ribeira Seca, de 20 mil euros destinados “à compra dum terreno para a construção de moradias para as pessoas necessitadas”.

Com a chamada Revolução dos Cravos, Agostinho Sá Vieira volta à sua terra, trinta e quatro anos depois de ter saído, tendo saudado os seus conterrâneos nos seguintes termos: “Com o espírito em alvoroço, apetece-me saudar os homens da minha terra, que não me voltaram a cara, que não me olhavam torvamente quando a pisava e afirmar-lhes com a dura experiência de 48 anos de ostracismo a que nos restaram os esbirros de negregado fascismo que a Democracia, bem compreendida e justamente interpretada, é o único sistema de vivência humana capaz de satisfazer todas as aspirações e todas as carências do trabalhador, em qualquer departamento da vida social” (A Ilha, 25 de maio de 1974).

Numa entrevista concedida ao Emissor Regional dos Açores, no dia 28 de maio de 1974, transcrita no jornal “A Ilha” no dia 1 de junho seguinte, perguntado sobre que deliberações deviam ser tomadas pelo governo, respondeu: “devem ser tomadas medidas de precaução e emergência tendentes a corrigir injustiças flagrantes e reparar danos inadiáveis de modo a proporcionar a formação de um clima nacional de harmonia e de compreensão que permita o melhor rendimento do trabalho e a sua mais adequada e justa remuneração, com vista ao progresso da Nação e bem estar de toda a gente”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31913, 28 de agosto de 2019, p.14)

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