quarta-feira, 6 de maio de 2020

A propósito da batata-doce e do género Ipomoea





A propósito da batata-doce e do género Ipomoea

De acordo com uma “Lista das Plantas Vasculares (Tracheobionta)” da autoria de Luís Silva, Mónica Moura, Hanno Scherfer e Elisabete F. Dias, nos Açores, do género Ipomoea, existem as seguintes espécies: Ipomoea imperati, Ipomoea indica (Bons-dias) e Ipomoea batatas (Batata-doce).

De acordo com os mesmos autores, no nosso arquipélago, a Ipomoea imperati não está presente nas seguintes ilhas: Flores, Corvo, Graciosa, São Jorge e Santa Maria. A Ipomoea indica apenas não existe na ilha do Corvo.

Através da consulta do Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, de Ruy Telles Palhinha, editado em 1966, verifica-se que apenas são referidas a Ipomoea imperati e a Ipomoea batatas, o que nos leva a concluir que a Ipomoea indica é de introdução mais recente.  Para além destas espécies é bem possível que existam outras cultivadas em jardins e quintais.

A Ipomoea imperati, do Sul da Europa, é rara, com poucas populações e aparece geralmente em locais arenosos perto da costa. A Ipomoea indica, do Sul e Centro da América, aparece sobretudo em locais de mais baixa altitude, abaixo dos 400 metros, em arribas, terrenos cultivados ou em bosques de incensos e outras exóticas.

A Ipomoea indica está incluída na “Flora e Fauna Terrestre Invasora na Macaronésia- TOP 100 nos Açores, Madeira e Canárias”, publicação que tem como editores Luís Silva, Elizabeth Land e Juan Luengo.

De acordo com a informação constante no livro acima mencionado, a Ipomoea indica tem: “Reprodução assexuada (fragmentos do caule; nos Açores não produz semente). Introdução intencional (ornamental). Dispersão natural por propagação vegetativa, fragmentos do caule transportados acidentalmente. Utilização como ornamental.” Para além dos impactos nos habitats e nos espaços protegidos, a espécie afeta algumas espécies da nossa flora, como a urze (Erica azorica), o tamujo (Myrsine africana), a faia (Morella faya) e o alegra-cão ou alegra-campos (Smilax canariensis).

No que diz respeito à batata-doce (Ipomoea batatas), segundo uma nota publicada no nº 12 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, assinada por C.F., já existia em São Miguel e na Terceira, desde o século XVI e o seu cultivo generalizado só ocorreu nas Flores e no Corvo na segunda metade de 1800.

De acordo com Gaspar Frutuoso, a sua introdução em São Miguel terá começado em Vila Franca do Campo, em casa de Sebastião Pires, através de “umas pequenas batatas, delgadas e murchas” que foram oferecidas a sua mulher por passageiros de uma nau das Índias de Castela que ficaram em sua casa.

A geógrafa Raquel Soeiro de Brito, no seu livro “São Miguel a Ilha Verde”, apresenta um pequeno texto sobre o seu cultivo em São Miguel, onde descreve as duas fases: a dos canteiros, em março, e a da plantação no seu local definitivo, de maio a julho.

A batata-doce foi cultivada para servir de matéria prima para a indústria do álcool e para a alimentação humana. Em Vila Franca do Campo, a que era de inferior qualidade, também, era usada na alimentação dos porcos.

Hoje, produzida em pequenas áreas, em toda a ilha de São Miguel, geralmente para autoconsumo, de acordo com a geógrafa referida, o núcleo principal da sua cultura foi a área de Arrifes-Relva, seguida da de Lagoa-Água de Pau e da de Ginetes-Feteiras.

Para além do tubérculo ser rico em vitaminas, A, C e E, e possuir nutrientes como potássio, cálcio e ferro, a batata-doce é analgésica, anti-inflamatória e antioxidante, antirreumática e emoliente.

Yolanda Corsépius no seu livro “Algumas Plantas Medicinais dos Açores”, publicado em 1997, refere que “a polpa cozida e amassada, aplica-se morna sobre as partes inflamadas”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32123, 6 de maio de 2020, p. 12)

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