José Sebastião Ávila
Júnior e a Revista Pedagógica (1)
O
professor primário Ávila Júnior, da ilha Terceira, foi um dos colaboradores da
Revista Pedagógica, de Maria Evelina de Sousa, que se publicou na ilha de São
Miguel.
Republicano
antes da implantação da República, José Sebastião Ávila Júnior, teve uma
participação ativa na comunicação social da sua ilha. Com efeito, foi diretor
de O Académico, revista que se publicou em Angra do Heroísmo, em 1907, que,
entre outros, abordava temas educacionais, de O Alarme que se publicou, na
mesma cidade, em 1911, e no ano seguinte, dirigiu o semanário A Luta.
A
primeira participação como redator da Revista Pedagógica ocorreu no dia 9 de
novembro de 1911, com um texto intitulado A Escola e a República I. Nele, sem
poupar nas palavras, o autor dá a conhecer o que defende para a educação, isto
é, “a escola livre, a escola popular, em couraçarmos cuidadosamente a sociedade
de amanhã- a infância- que é incontestavelmente a base mais sólida em que a
República se há-de firmar e com a qual a Pátria há-de florescer
extraordinariamente e também em acordarmos, de mansinho, mas teimosamente, este
generoso povo narcotizado pela terrível indiferença, abatido por uma longa
servidão, envenenada pela mais que muito perigosa sífilis católica, quase
moralmente morto pelo desprezável e ignóbil jesuíta”.
A 16 de
novembro, Ávila Júnior dá continuidade ao texto, defendendo que é com a
educação do povo que a sociedade portuguesa se poderá transformar radicalmente
e ser implantada a verdadeira República. Não acreditando no retorno da
monarquia, Ávila Júnior era de opinião de que sem uma escola como deve ser o
futuro seria “uma república retintamente reacionária”.
Na
terceira parte do seu texto, publicado a 23 de novembro, Ávila Júnior critica a
“lei de instrução primária” da responsabilidade do governo republicano por
conter “coisas verdadeiramente horrorosas”, como permitir que “indivíduos não diplomados,
mas que exerciam o magistério particular à data da publicação da reforma”
continuassem a ser professores do ensino particular.
Se,
segundo ele, a medida era acertada para as grandes cidades onde havia
professores de qualidade, para o resto do país não, pois, as escolas
particulares eram “pseudoescolas -verdadeiros antros onde as crianças se
inutilizavam e pervertiam”. Ao permitir a sua continuação “e com a guerra
odienta e surda do padre, a escola oficial laica ficará deserta e as tenras
criancinhas, já tão supersticiosas lá irão agravar mais o seu lastimável estado
de ignorância com a perniciosa educação jesuítica desses perigosos covis
reacionários”.
A 30 de
novembro, Ávila Júnior começa a publicar uma série de artigos sobre a Lei de
Instrução Primária.
No
primeiro texto, Ávila Júnior critica o “liberticida” e “ditador carrasco” João
Franco que nada fez para melhorar a vida dos professores. No texto, o professor
da Terceira conta que João Franco, “esse homem sem talento, sem dignidade e sem
brio” despediu um grupo de professores, que foi recebido por ele para expor as
suas dificuldades, mandando-os cavar “batatas nas horas vagas para melhorarem a
sua situação”. No mesmo trabalho, Ávila Júnior mostra a sua desilusão com o
ministro António José de Almeida que “deu-nos uma lei deformada…que é apenas o
produto híbrido do avariado bestunto de algum ex-lente de teologia, que não a
reforma primária de que tanto carecemos”.
No dia
7 de dezembro, no segundo texto sobre a lei mencionada, que entregava às
Camaras Municipais a administração do
ensino, Ávila Júnior que era a favor da descentralização, levanta algumas
dúvidas, pois as futuras comissões administrativas serão eleitas pelo povo que
“é ignorante e ainda está, e continuará por muitos anos, subordinado ao
caciquismo, fiel aliado da reação religiosa que, tendo como primordial elemento
de vida a ignorância do povo, há-de guerrear tenazmente a instrução e a escola
e perseguirá cruelmente o professor liberal que lhe contraria os baixos
intuitos, porque sabe o que quer e para onde vai”.
Em
próximo artigo, continuaremos a divulgar o pensamento do professor Ávila Júnior
que foi perseguido na Monarquia e alvo de processo disciplinar na República.
Teófilo Braga
(Correio
dos Açores, 32141, 27 de maio de 2020, p.15)
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