terça-feira, 26 de maio de 2020




José Sebastião Ávila Júnior e a Revista Pedagógica (1)

O professor primário Ávila Júnior, da ilha Terceira, foi um dos colaboradores da Revista Pedagógica, de Maria Evelina de Sousa, que se publicou na ilha de São Miguel.

Republicano antes da implantação da República, José Sebastião Ávila Júnior, teve uma participação ativa na comunicação social da sua ilha. Com efeito, foi diretor de O Académico, revista que se publicou em Angra do Heroísmo, em 1907, que, entre outros, abordava temas educacionais, de O Alarme que se publicou, na mesma cidade, em 1911, e no ano seguinte, dirigiu o semanário A Luta.

A primeira participação como redator da Revista Pedagógica ocorreu no dia 9 de novembro de 1911, com um texto intitulado A Escola e a República I. Nele, sem poupar nas palavras, o autor dá a conhecer o que defende para a educação, isto é, “a escola livre, a escola popular, em couraçarmos cuidadosamente a sociedade de amanhã- a infância- que é incontestavelmente a base mais sólida em que a República se há-de firmar e com a qual a Pátria há-de florescer extraordinariamente e também em acordarmos, de mansinho, mas teimosamente, este generoso povo narcotizado pela terrível indiferença, abatido por uma longa servidão, envenenada pela mais que muito perigosa sífilis católica, quase moralmente morto pelo desprezável e ignóbil jesuíta”.

A 16 de novembro, Ávila Júnior dá continuidade ao texto, defendendo que é com a educação do povo que a sociedade portuguesa se poderá transformar radicalmente e ser implantada a verdadeira República. Não acreditando no retorno da monarquia, Ávila Júnior era de opinião de que sem uma escola como deve ser o futuro seria “uma república retintamente reacionária”.

Na terceira parte do seu texto, publicado a 23 de novembro, Ávila Júnior critica a “lei de instrução primária” da responsabilidade do governo republicano por conter “coisas verdadeiramente horrorosas”, como permitir que “indivíduos não diplomados, mas que exerciam o magistério particular à data da publicação da reforma” continuassem a ser professores do ensino particular.

Se, segundo ele, a medida era acertada para as grandes cidades onde havia professores de qualidade, para o resto do país não, pois, as escolas particulares eram “pseudoescolas -verdadeiros antros onde as crianças se inutilizavam e pervertiam”. Ao permitir a sua continuação “e com a guerra odienta e surda do padre, a escola oficial laica ficará deserta e as tenras criancinhas, já tão supersticiosas lá irão agravar mais o seu lastimável estado de ignorância com a perniciosa educação jesuítica desses perigosos covis reacionários”.

A 30 de novembro, Ávila Júnior começa a publicar uma série de artigos sobre a Lei de Instrução Primária.

No primeiro texto, Ávila Júnior critica o “liberticida” e “ditador carrasco” João Franco que nada fez para melhorar a vida dos professores. No texto, o professor da Terceira conta que João Franco, “esse homem sem talento, sem dignidade e sem brio” despediu um grupo de professores, que foi recebido por ele para expor as suas dificuldades, mandando-os cavar “batatas nas horas vagas para melhorarem a sua situação”. No mesmo trabalho, Ávila Júnior mostra a sua desilusão com o ministro António José de Almeida que “deu-nos uma lei deformada…que é apenas o produto híbrido do avariado bestunto de algum ex-lente de teologia, que não a reforma primária de que tanto carecemos”.

No dia 7 de dezembro, no segundo texto sobre a lei mencionada, que entregava às Camaras Municipais  a administração do ensino, Ávila Júnior que era a favor da descentralização, levanta algumas dúvidas, pois as futuras comissões administrativas serão eleitas pelo povo que “é ignorante e ainda está, e continuará por muitos anos, subordinado ao caciquismo, fiel aliado da reação religiosa que, tendo como primordial elemento de vida a ignorância do povo, há-de guerrear tenazmente a instrução e a escola e perseguirá cruelmente o professor liberal que lhe contraria os baixos intuitos, porque sabe o que quer e para onde vai”.

Em próximo artigo, continuaremos a divulgar o pensamento do professor Ávila Júnior que foi perseguido na Monarquia e alvo de processo disciplinar na República.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32141, 27 de maio de 2020, p.15)

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