Da cidadania e dos prémios escolares
“Minha avó queria que eu me educasse, por isso jamais me deixou ir à
escola” (Margaret Mead)
Hoje, nas escolas há dois temas que são
discutidos, o da Educação para a Cidadania e o da bondade ou não dos prémios
escolares.
Sobre o primeiro,
considero que a cidadania não se transmite em aulas específicas, mas deve ser
praticada na escola e na sociedade em que vivemos.
De igual modo não
considero que a escola, a nadar contra a maré (será que o faz ou nada ao sabor
da corrente da maioria amorfa da comunidade onde está inserida?), seja um instrumento
de mobilidade social. Sobre este assunto a socióloga Maria Filomena Mónica, em
entrevista ao Jornal Público, no dia 20 de março de 2014, afirmou: “Nos anos a seguir ao 25 de Abril, acreditava-se que a
escola devia servir de instrumento de mobilidade social. A prova de que isso
não funcionou é que continuamos com a maior taxa de desigualdade social da
Europa: o rendimento médio dos 20% mais ricos é sete vezes superior ao dos 20%
mais pobres, enquanto a média europeia é de quatro”.
Nos
Açores, parece-nos que a situação será semelhante, se não for pior do que no
resto do território nacional. Com efeito, consultando as estatísticas,
verifica-se que “é nos Açores que a desigualdade é mais acentuada na
distribuição de riqueza em Portugal” (Correio dos Açores, 8 de maio de 2029).
Quanto ao papel da
disciplina de Cidadania e de outras afins no que diz respeito à alteração de mentalidades tenho também as
minhas dúvidas, pois uma disciplina não consegue combater todos os meios
informação acessíveis aos alunos que são para eles mais atraentes, como a
televisão ou a internet?
Ainda no que toca à disciplina de Cidadania, que formação
receberam os docentes? Que critérios são seguidos para a atribuição da mesma a
alguns docentes e não a outros? Não tendo recebido qualquer formação, que
experiência de participação cívica (ou política) têm os docentes da mesma para
partilhar com os alunos?
A outra questão que considero
polémica, mas que é muito pouco contestada, é a atribuição pelas escolas de
prémios de excelência aos alunos pelo seu desempenho escolar. Embora não tenha
dados, que não serão nada difíceis de obter, parece-me que os alunos excelentes
são, com raras exceções, filhos de pais excelentes, em termos da sua situação
financeira ou do seu grau de escolaridade.
Face ao exposto,
podemos refletir sobre a chamada igualdade de oportunidades. Sobre a mesma, no
seu livro “A escola está morta”, Everett Reimer escreveu: “…Todo o mundo
entende o significado de igualdade de oportunidades. Se assim é, por que
esconder a verdade? Chamem-na loteria social. Em verdade, é uma loteria social-
jogada com dados viciados, onde cada criança tem tantas oportunidades de vencer
quantos forem os dólares na conta bancária de seu pai”.
Sobre os prémios
escolares creio que parece serem mais importantes para os pais do que para os
alunos, já que não vejo estes a vangloriarem-se por os terem recebido e, pelo contrário,
vejo alguns pais a fazerem a sua divulgação nas redes sociais.
Se não ponho em causa
o facto de todos devermos reconhecer os bons resultados e incentivar quem,
sobretudo com esforço próprio os alcançam, acho totalmente desnecessárias as
cerimónias para a atribuição de prémios.
José
Fontana da Silveira, na Revista Pedagógica de Maria Evelina de Sousa, no dia 19
de dezembro de 1912, manifestou a sua discordância com os prémios como estímulo
aos alunos porque “recompensar o dever, a virtude é sempre um mal: a consciência é o único juiz das nossas ações
que legisla, ou antes deve legislar, sem o anseio de qualquer prémio material.
Além disso o premiado está sempre em risco de ser atacado do desejo de superioridade
sobre os outros, que muitas vezes não podem atingir o nivelamento do colega
premiado por uma questão de pobreza física ou intelectual, faltas de que não
tem culpa”.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32129, 13 de maio de 2020, p.12)
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