Angelina Vidal, uma estranha redatora do “Ecco
Michaelense” (1)
Angelina Casimira do Carmo da Silva Vidal
nasceu, em Lisboa, no dia 11 de março de 1853 e faleceu, na mesma cidade, a 1
de agosto de 1917.
Ativista pelos direitos das mulheres e
acérrima defensora dos mais desfavorecidos, Angelina Vidal, que abraçou os
ideias republicanos e socialistas, foi jornalista, tradutora, escritora e
professora.
Com uma vida atribulada, Angelina Vidal
teve um fim muito triste. De acordo com Norberto de Araújo, citado por Mário
Vidal, no seu livro “Angelina Vidal-escritora, jornalista, republicana,
revolucionária e socialista”, editado pela Tribuna da História, em 2010, “a
poetisa que escreveu versos sublimes, a prosadora que moldou contos sublimes, a
propagandista da República que pregou ideias sublimes morreu de fome, morreu de
todas as fomes.”
Angelina Vidal, com cerca de 30 obras
publicadas, dedicou uma delas ao ilustre açoriano que foi presidente da
República, Manuel de Arriaga, intitulada “Avé charitas! Ao grande coração de
luz do ilustre sr. dr. Manuel d’Arriaga”, editada em 1912.
Angelina Vidal deu o seu contributo a mais
de 60 publicações periódicas, uma parte significativa delas ligadas à defesa
das classes trabalhadoras. No que diz respeito aos Açores, prestou a sua
colaboração ao “Ecco Michaelense”, tendo durante algum tempo partilhado a
redação do jornal com José Ferreira Martins.
Neste texto, darei a conhecer um pouco do
pensamento de Angelina Vidal e no próximo farei referência à sua colaboração no
referido jornal micaelense.
Angelina Vidal esteve ligada ao Partido
Operário Socialista de que Antero de Quental foi seu filiado, tendo colaborado
no seu jornal “O Protesto Operário”. Neste jornal, a propósito da caridade,
escreveu o seguinte:
“Entre
as várias perfídias com que a burguesia tem envenenado o espírito das massas
ignorantes e narcotizado a consciência dos fracos, destaca-se a esmola, fruto
venenífero da vaidade e do orgulho das classes privilegiadas. […] Quem concedeu
ao homem o direito de dar esmolas ao homem? A distinção de classe. E o que
autoriza essa distinção? A propriedade. E no que se funda a propriedade? No
capital. E quem sustenta e produz esse capital? O trabalho. E quem é o factor
do trabalho? O obreiro. […] Só a força da astúcia, só a malevolência da
perfídia, devem ter sido a origem da desigualdade na partilha de bens,
destinados pela natureza à comunhão de todos os seres na medida das
necessidades individuais.”
Ela que se tinha filiado no Partido
Republicano, acabou por se desiludir com os republicanos, que perseguiram
outros republicanos, aceitaram de braços abertos antigos monárquicos (adesivos)
e exercerem uma violência por vezes brutal sobre os operários e os sindicatos.
Sobre o seu alvo principal, Afonso Costa, escreveu:
“O coração d’Ele! Ora vejam. Sob o ponto de
vista plástico é igual ao de todos os vertebrados, incluindo o mano biológico.
Quatro divisões, dois auricolos, dois ventrículos. O aurículo direito está
ocupado pela raiva à Igreja, o esquerdo pelo ódio aos talassas; um
ventrículo regurgita de furor contra os sindicalistas; o segundo abarrota de
ira contra ricos, pobres, remediados e tutti quanti não traz coleira
afonsina…”
Como acérrima feminista, Angelina Vidal
culpava pela má situação da mulher, o clericalismo, a burguesia e a monarquia.
Ana Barradas, no seu “Dicionário de
Mulheres Rebeldes” defende que “os escritos de Angelina Vidal oscilam entre uma
defesa feminista dos direitos da mulher e as ideias conservadoras sobre as
funções que lhe estão reservadas”.
Maria Helena Vilas-Boas e Alvim sobre o
assunto escreveu, no “Dicionário no Feminino (séculos XIX -XX)” que para
Angelina Vidal “o mal-entendido da situação feminina provém do seu próprio
desamor ao estudo disciplinado, progressivo, despretensioso, sem prejuízo da
santíssima missão da maternidade”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32326, 6 de
janeiro de 2021, p. 13)
Sem comentários:
Enviar um comentário