José Pimentel, um operário exemplar (2)
Hoje, concluímos o
texto sobre operário portuário José Carreiro Pimentel que morreu vítima de “um
trágico acidente” no dia 9 de abril de 1978.
O Secretariado da UDP
de São Miguel, no dia 9 de novembro de 1978, emitiu um comunicado onde, para
além de denunciar a atuação do principal responsável pelo Porto de Ponta
Delgada, levanta a seguinte questão: “Quem é o responsável pela morte de José
Pimentel?”
Na primeira parte do
referido comunicado pode-se ler o seguinte:
“A 9 de novembro faz 7 meses que morreu José Pimentel,
operário do Porto de Ponta Delgada, delegado sindical e militante da UDP.
Corajoso como poucos, José Pimentel morreu esmagado por um guindaste quando
levantava um contentor com 3 toneladas a mais do peso regulamentar.
Sete meses após a sua morte ainda os responsáveis por
este verdadeiro crime, que causou revolta ao povo açoriano, não foram apurados.
As autoridades desta terra ainda não nos disseram por que motivo o contentor
manifestado como tendo apenas 8 toneladas, tinha mais de 11 toneladas.
Quem é o responsável por esta aldrabice que causou a
morte a um trabalhador revolucionário, chefe de família (que deixou esposa e
dois órfãos numa situação difícil) e companheiro de trabalho exemplar? Quem é o
responsável pelo abafar do inquérito e pelo abafar deste crime?”
A 23 de janeiro de
1979 num comunicado o Secretariado de Zona da UDP veio “mais uma vez exigir do
governo e da JAPPD o completo esclarecimento público das causas da morte do
dirigente sindical e nosso militante José Pimentel, assim como o castigo
exemplar dos responsáveis pela sua morte”.
Ainda no mês de
janeiro de 1979, um grupo de “Trabalhadores do Porto de Ponta Delgada” tomou a
iniciativa de recolher fundos para apoiar a família de José Pimentel que, de
acordo com o texto do apelo, “era delegado sindical dos trabalhadores
portuários tendo sempre se destacado pela forma incansável como se dedicou a
ajudar os seus colegas de trabalho na luta pela conquista de melhores condições
de trabalho e por melhores salários, tendo desempenhado importante papel
aquando das greves dos trabalhadores da Função Pública.”
O texto, que vimos
citando, termina do seguinte modo:
“Seguindo o exemplo dado pelos camaradas do Porto de
Setúbal, os abaixo assinados trabalhadores portuários e amigos do saudoso
companheiro de trabalho, José Carreiro Pimentel, vêm pela presente, manifestar
o seu apoio solidário à família enlutada, colaborando através da sua
contribuição económica para melhorar a situação da viúva e dos seus filhos.”
No dia 21 de junho de
1979, numa pequena notícia publicada na primeira página do Correio dos Açores,
a Comissão de Inquérito ao acidente que vitimou José Pimentel considerou que
“era de excluir qualquer hipótese de sabotagem a causa da morte do operador
José Carreiro Pimentel”.
A mesma comissão
chegou à conclusão de que as causas do acidente foram:
“a- Excesso de peso do contentor, pois ultrapassava em
cerca de cinquenta por cento o valor estabelecido;
b- Erro de manobra, com concorrência de fatores
desfavoráveis que, com toda a certeza, não eram do conhecimento do operador.”
Concluindo, para os
ilustres inquiridores, o operador ainda é “culpado” por desconhecer as
trafulhices de gente sem escrúpulos e como é costume não se apuraram os
verdadeiros culpados pela vigarice do excesso de peso não declarado e uma vez
mais a culpa morreu solteira.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32344, 27 de janeiro de 2021,
p.14)
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