José Pimentel, um operário exemplar (1)
José Carreiro
Pimentel, que nasceu no dia 20 de maio de 1943, era natural da freguesia da Feteira
Pequena-Santana, no concelho do Nordeste. Filho de Maria Vitória Carreiro e de
António de Jesus Pimentel, era casado com Maria Irene Duarte Soares. Foi
operário do Porto de Ponta Delgada, tendo sido um sindicalista corajoso muito
estimado pelos seus colegas de trabalho.
José Pimentel
considerava que era insuficiente a sua atividade cívica no seu local de
trabalho pelo que também foi um ativo militante político-partidário. Depois de
ser ter desiludido com o PCP- Partido Comunista Português, aderiu à UDP-União
Democrática Popular, partido político que se formou em dezembro de 1974 e que
em 2005 se transformou em associação política.
Como delegado sindical
ou como presidente da Delegação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores
Portuários, José Pimentel fazia várias intervenções públicas, onde imprimia
sempre muito entusiasmo, tendo por diversas vezes denunciado irregularidades
pelo que foi ameaçado verbalmente e chegou a estar suspenso do trabalho por
trinta dias.
A 9 de abril de 1978, José
Pimentel morreu vítima de “um trágico acidente” que foi exemplarmente noticiado
no Correio dos Açores de 11 e 13 de abril daquele ano, pela pena do jornalista
Tomás Quental Mota Vieira.
No seu último texto,
aquele jornalista levantou uma questão que me parece que até hoje está por
responder: “A terminar, queremos aqui deixar uma questão que pela sua
complexidade tem de ser esclarecida: Se o peso máximo que os guindastes do
porto suportam é de 8000 kg e se carrega um contentor com 11880 kg, de quem é a
responsabilidade de que tal aconteça?”
A morte de José
Pimentel foi muito sentida não só pelos seus familiares, amigos e colegas de
trabalho, mas também por organizações das mais diversas orientações.
O Correio dos Açores,
de 14 de abril de 1978, publicou um telegrama da responsabilidade de um Grupo
de Antifascistas Açorianos no Continente, com o seguinte teor: “Manifestamos
publicamente nossa dor acidente de trabalho vitimou companheiro e amigo José
Pimentel reconhecido defensor classe. Transformemos nossa dor em força seguindo
seu exemplo.”
A 19 de abril de 1978,
o jornal Bandeira Vermelha, órgão central do PC (R) - Partido Comunista
Reconstruído, que se extinguiu em 1992, noticiou a morte de José Pimentel,
afirmando que o mesmo “foi mais uma vítima da ganância capitalista, a sua vida
foi mais uma vida ceifada pela lógica do lucro. Trabalhador consciente, lutador
incansável pelos direitos da sua classe, a sua morte deixa, no entanto, bem
vivo o seu exemplo. E o seu exemplo é o chamamento a que todos prossigam o seu
combate, a sua luta por uma outra sociedade onde não seja o lucro a comandar e
a matar, mas todos os homens, todos os trabalhadores a mandar e a viver uma
sociedade socialista”.
O jornal “O Milhafre”,
dirigido por José de Almeida, de 28 de abril de 1978, depois de lamentar “a
trágica ocorrência em que perdeu a vida um homem”, acrescentou o seguinte:
“Fosse ele quem fosse, simpatizante ou adversário da causa que defendemos, as
circunstâncias em que perdeu a vida jamais deixariam de merecer as nossas
atenção e solidariedade”.
O mesmo jornal condena
a comissão da JAP nos seguintes termos:
“Ter consciência de que o equipamento de que dispõe
não é. Nem nunca foi, o apropriado para movimentar contentores é igualmente da
sua responsabilidade. Moral. Civil. O material substitui-se. As vidas não.
Pode ter havido fraude na declaração do peso. Terá de
ser denunciado para que se conheça quem por ela deva ser responsabilizado. Terá
havido, igualmente imprevidência da parte de quem, sem exato conhecimento do
peso, ordenou a sua movimentação. Também é imperioso que tal se conheça para
que se assumam responsabilidades solidárias.”
(continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32338, 20 de janeiro de 2021, p. 14)
Sem comentários:
Enviar um comentário