quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

José Pimentel, um operário exemplar (1)


 

José Pimentel, um operário exemplar (1)

 

José Carreiro Pimentel, que nasceu no dia 20 de maio de 1943, era natural da freguesia da Feteira Pequena-Santana, no concelho do Nordeste. Filho de Maria Vitória Carreiro e de António de Jesus Pimentel, era casado com Maria Irene Duarte Soares. Foi operário do Porto de Ponta Delgada, tendo sido um sindicalista corajoso muito estimado pelos seus colegas de trabalho.

 

José Pimentel considerava que era insuficiente a sua atividade cívica no seu local de trabalho pelo que também foi um ativo militante político-partidário. Depois de ser ter desiludido com o PCP- Partido Comunista Português, aderiu à UDP-União Democrática Popular, partido político que se formou em dezembro de 1974 e que em 2005 se transformou em associação política.

 

Como delegado sindical ou como presidente da Delegação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Portuários, José Pimentel fazia várias intervenções públicas, onde imprimia sempre muito entusiasmo, tendo por diversas vezes denunciado irregularidades pelo que foi ameaçado verbalmente e chegou a estar suspenso do trabalho por trinta dias.

 

A 9 de abril de 1978, José Pimentel morreu vítima de “um trágico acidente” que foi exemplarmente noticiado no Correio dos Açores de 11 e 13 de abril daquele ano, pela pena do jornalista Tomás Quental Mota Vieira.

 

No seu último texto, aquele jornalista levantou uma questão que me parece que até hoje está por responder: “A terminar, queremos aqui deixar uma questão que pela sua complexidade tem de ser esclarecida: Se o peso máximo que os guindastes do porto suportam é de 8000 kg e se carrega um contentor com 11880 kg, de quem é a responsabilidade de que tal aconteça?”

 

A morte de José Pimentel foi muito sentida não só pelos seus familiares, amigos e colegas de trabalho, mas também por organizações das mais diversas orientações.

O Correio dos Açores, de 14 de abril de 1978, publicou um telegrama da responsabilidade de um Grupo de Antifascistas Açorianos no Continente, com o seguinte teor: “Manifestamos publicamente nossa dor acidente de trabalho vitimou companheiro e amigo José Pimentel reconhecido defensor classe. Transformemos nossa dor em força seguindo seu exemplo.”

 

A 19 de abril de 1978, o jornal Bandeira Vermelha, órgão central do PC (R) - Partido Comunista Reconstruído, que se extinguiu em 1992, noticiou a morte de José Pimentel, afirmando que o mesmo “foi mais uma vítima da ganância capitalista, a sua vida foi mais uma vida ceifada pela lógica do lucro. Trabalhador consciente, lutador incansável pelos direitos da sua classe, a sua morte deixa, no entanto, bem vivo o seu exemplo. E o seu exemplo é o chamamento a que todos prossigam o seu combate, a sua luta por uma outra sociedade onde não seja o lucro a comandar e a matar, mas todos os homens, todos os trabalhadores a mandar e a viver uma sociedade socialista”.

 

O jornal “O Milhafre”, dirigido por José de Almeida, de 28 de abril de 1978, depois de lamentar “a trágica ocorrência em que perdeu a vida um homem”, acrescentou o seguinte: “Fosse ele quem fosse, simpatizante ou adversário da causa que defendemos, as circunstâncias em que perdeu a vida jamais deixariam de merecer as nossas atenção e solidariedade”.

 

O mesmo jornal condena a comissão da JAP nos seguintes termos:

 

“Ter consciência de que o equipamento de que dispõe não é. Nem nunca foi, o apropriado para movimentar contentores é igualmente da sua responsabilidade. Moral. Civil. O material substitui-se. As vidas não.

 

Pode ter havido fraude na declaração do peso. Terá de ser denunciado para que se conheça quem por ela deva ser responsabilizado. Terá havido, igualmente imprevidência da parte de quem, sem exato conhecimento do peso, ordenou a sua movimentação. Também é imperioso que tal se conheça para que se assumam responsabilidades solidárias.”

 

(continua)

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32338, 20 de janeiro de 2021, p. 14)

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