Humberto
Furtado Costa, um ambientalista social-democrata
Humberto
Manuel Furtado Costa, filho de Luís Furtado Costa e de Fernanda Maria Costa,
nasceu a 3 de novembro de 1950 e faleceu a 20 de agosto de 1989.
Foi
funcionário da SATA com a categoria de empregado de escritório e um amante da
atividade física, sendo um frequentador diário da antiga piscina de São Pedro,
em Ponta Delgada, e um apaixonado pelo pedestrianismo que praticava sozinho,
com grupos de amigos e mais tarde no âmbito da associação Amigos dos Açores.
Politicamente,
o Humberto Costa, por mais de uma vez me confidenciou que era adepto da social-democracia
escandinava, sendo admirador de Olof Palme, primeiro ministro sueco que fez com
que a Suécia, a par de uma forte economia, tivesse os mais altos níveis de
assistência social do mundo.
Humberto
Costa foi admitido como associado dos Amigos dos Açores, com o número 41, a 2
de setembro de 1985. Em 1987, fez parte da direção do Núcleo dos Açores dos
Amigos da Terra-Associação Portuguesa de Ecologista (designação inicial) e no
mesmo ano, juntamente com Eduardo Lopes, Francisco Botelho, Gualter Cordeiro, Lúcia
Ventura, Luís Cordeiro, Mário Melo, e Teófilo Braga, assinou a escritura
criação dos “Amigos da Terra/Açores” (a segunda designação da associação). Foi seu
presidente do conselho fiscal em 1988 e 1989.
No
seu boletim “Vidália”, de outubro/dezembro de 1989, a associação Amigos dos
Açores, homenageou-o com um texto que, parcialmente, a seguir transcrevemos:
“… Este desde
sempre grande amante da Natureza e da Vida, com apenas 38 anos de idade, viu-se
repentinamente a braços com uma injusta doença incurável que em menos de 1 ano
o venceu, perante a impotência e a dor de todos os Amigos da Terra, em especial
daqueles com quem mais conviveu em inúmeras reuniões, passeios e visitas de
estudo. Até à última hora preocupado e revoltado com a falta de consciência
ecológica que por aí vai, o Humberto Costa era um profundo conhecedor de todos
os cantos naturais da sua ilha de S. Miguel, aproveitando todos os tempos
livres para explorá-la em longas caminhadas a pé. (…) Os Amigos dos
Açores-Associação Ecológica recordá-lo-ão sempre com saudade e tudo farão para
cumprir o seu desejo de fazer dos Açores uma terra onde o respeito pela
Natureza e a Vida seja uma realidade.”
A
partida do Humberto Costa foi muito sentida pelos seus amigos e colegas de
trabalho. Um deles, José Artur Jácome Correia, escreveu um belo texto, intitulado
O dobrar dos sinos”, publicado no Correio dos Açores a 24 de outubro de 1989.
Por subscrevermos na integra o que o seu autor escreveu sobre o Humberto,
abaixo transcrevemos um extrato:
“(…) Desta última
não poderia deixar de realçar – por ter falecido há poucos dias – o meu grande
amigo Humberto Furtado Costa, com o qual comungava em grande medida dos mesmos ideais,
ideologias e sentimentos.
Ironia das
ironias. Eu que não o via desde que acometido pela doença que o havia de
vitimar oito meses mais tarde, vi-o por mero e fortuito acaso, no hospital,
dois dias antes da sua morte. O choque de que fui acometido ao constatar o seu
estado debilitado, de completa transfiguração e de sofrimento, acompanhar-me-á
por muitos anos.
…
Afinal, o que
existe de mais belo neste mundo – para além das maravilhas criadas por Deus-
são o amor e a amizade. Mas a amizade sincera liberta de interesses, geradora
de elos tão fortes que perduram mesmo para além da morte.”
Terminamos
este texto de homenagem a um amigo e companheiro de luta por um Mundo Melhor,
referindo que infelizmente o Humberto apenas nos deixou dois textos escritos
que foram publicados no jornal “Açoriano Oriental”, ambos a chamar a atenção
para a grave situação em que se encontrava o nosso património natural”.
No
último texto, publicado a 25 de março de 1987, Humberto Costa para além de
denunciar vários atropelos à boa gestão do território, denuncia o facto das
leis ficarem no papel, nos seguintes termos: “… foi, entretanto, aprovado pelo
Parlamento, diversas leis de proteção da natureza, como são os casos da lei de
proteção dos arvoredos, criação de diversas reservas naturais, etc. só que
(muito embora seja de louvar a iniciativa) uma coisa é fazerem-se leis, outra é
aplicá-las efetivamente”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32362, 17 de fevereiro de 2021,
p.11)
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