Apontamentos sobre o
Padre João José de Amaral (1)
A
19 de julho de 2016, publiquei neste jornal um texto intitulado “O Padre João José do Amaral e a perseguição
às aves”, onde o mesmo pôs em causa o combate aos “pássaros daninhos” promovido
pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que o mesmo ajudara a criar
em janeiro de 1843.
Através
de leituras posteriores, fiquei a conhecer melhor a biografia daquele sacerdote
e por ter sido exemplar decidi tornar públicos alguma da sua obra e pensamento.
João
José de Amaral, nasceu, em Água de Pau, no dia 1 de outubro de 1782 e faleceu,
na Fajã de Baixo, a 19 de julho de 1853.
Filho
de modestos proprietários naturais da Povoação, foi através da proteção de uma
“família ilustre” que conseguiu efetuar os estudos que o levaram a ser
sacerdote e a professor da instrução secundária.
João
José de Amaral, depois de ordenado presbítero foi nomeado vice vigário da
Paróquia de São José, em julho de 1818, permanecendo lá até julho de 1813, por
ter sido nomeado professor de Filosofia Racional.
O
vila-franquense Urbano de Mendonça Dias, na sua obra “Literatos dos Açores”
refere que toda a vida do Padre João José do Amaral foi orientada para o
ensino, tendo afirmado que o mesmo “preferiu ser Mestre a ser Vigário, porque
mais lhe sorria o ensino literário que a paroquiação”.
Segundo
o autor referido, o Padre João José de Amaral era original nas suas aulas, pois
começava sempre as mesmas contando uma anedota e só depois partia para a lição
propriamente dita. Segundo ele: “Anedota …é o melhor meio de despertar o
interesse e atrair a atenção dos rapazes.”
Sobre
a sua singularidade como pedagogo, Francisco Maria Supico, nas suas
“Escavações”, escreveu o seguinte:
“….
Falemos claro. João José de Amaral devia ser professor de instrução secundária,
e o modelo dos Professores; e foi-o efetivamente. As cadeiras que por largos
anos exerceu foram as de Filosofia, Retórica e Poética. No aturado ensino
destas disciplinas, mostrou-se conhecedor da ciência do seu tempo, amenizando
suas lições com uma infinidade de anedotas e passagens de autores clássicos
antigos e modernos de diferentes nacionalidades que ou serviam de distração ao
abstrato das doutrinas, ou, e era este o seu principal intuito, infundiam nos
ânimos dos seus discípulos noções práticas de ciências e de moral. “
No
âmbito do ensino, em 1932, o padre João José de Amaral, por carta-régia de 18
de junho, foi colocado na regência das cadeiras de Filosofia e Retórica, em
Ponta Delgada, onde se manteve até à sua reforma ocorrida a 5 de fevereiro de
1850.
A
30 de agosto de 1851, o Padre João José de Amaral foi nomeado para o cargo de
Comissário dos Estudos e enquanto tal foi incumbido, por Decreto de 2 de
setembro do mesmo ano, da reitoria do Liceu que seria criado em Ponta Delgada.
Por ter falecido, não esteve muito tempo como reitor daquela instituição de
ensino.
De
entre os escritos da sua autoria ou traduções que efetuou, destacamos, por
estarem relacionadas com o ensino, as seguintes publicações, editadas pela
Sociedade Auxiliadora das Letras Açorianas:
- “Elementos ou
primeiras lições de Geografia e Astronomia de J. A. Commings; traduzidos do
inglês, reformados e consideravelmente aumentados para uso das escolas
nacionais, servindo como introdução aos estudos geográficos e astronómicos”
(1852).
- “Glossário
Retórico”, destinado aos alunos do curso de Retórica e Poética do Liceu
Nacional de Ponta Delgada (1854).
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32436, 19 de maio de 2021, p.14)
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