José Maria Álvares Cabral: a ornitologia e
a botânica
Ouvi
falar, pela primeira vez, em José Maria Álvares Cabral quando na qualidade de
presidente dos Amigos dos Açores-Associação Ecológica fui contatado por uma sua
filha que pretendia oferecer um livro que havia pertencido ao pai e que,
segundo ela, seria mais útil a uma associação que também se dedicava ao estudo
das aves do que se ficasse numa estante de uma biblioteca qualquer.
A
doação concretizou-se e o livro “Guide des oiseaux”, a que recorri várias vezes
para identificar algumas aves, está disponível para consulta de todos os
membros na sede da referida associação, no Pico da Pedra.
Mas
quem foi José Maria Álvares Cabral?
José
Maria Álvares Cabral nasceu em Ponta Delgada no dia 11 de novembro de 1911 e
faleceu na mesma cidade a 4 de fevereiro de 1988.
Depois
de ter estudado em Ponta Delgada e na Suíça, em 1937, na Bélgica, obteve o
bacharelato em Filosofia Tomista e, em 1951, completou o curso de engenharia
agronómica na Universidade Católica de Lovaina.
Profissionalmente,
foi professor de Filosofia na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada e
foi funcionário do Museu Carlos Machado. Primeiro foi diretor da Secção de
Botânica e mais tarde do próprio Museu, tendo atualizado a nomenclatura das
espécies existentes no departamento de Zoologia.
José
Maria Álvares Cabral dedicou-se ao estudo das aves, tendo colaborado com
ornitólogos estrangeiros. Sobre esta sua faceta, na revista “Açoreana”, de
junho de 1989, pode ler-se o seguinte: “A ornitologia mereceu-lhe carinho
particular, sendo os seus dotes de observador atento e incansável investigador
de campo imensamente úteis no complemento de obras de vulto sobre os Açores,
entre as quais se destaca "Birds of the Atlantic Islands", de David
Bannerman.”
No
Museu Carlos Machado, de entre os inúmeros trabalhos que efetuou, destaca-se na
área da ornitologia, a elaboração, em 1959, da primeira lista das aves
presentes nas coleções daquela instituição, agrupando-as pelas seguintes
categorias: residentes, migradoras e migradoras ocasionais.
No
que diz respeito à botânica, a revista mencionada refere que o eng. Álvares
Cabral “realizou ainda a determinação nomenclatorial das espécies vegetais do
Jardim António Borges, trabalho particularmente difícil pelo número de espécies
exóticas que ali se encontram.”
Em
relação ao mencionado jardim, José Maria Álvares Cabral elaborou uma “Lista das
Plantas existentes no Jardim António Borges”, não datada, onde faz referência
às diversas espécies lá existentes, indicando se fazem ou não parte da lista
mandada elaborar por António Borges, propõe novas designações, considera
algumas duvidosas ou mesmo afirma que para a determinação do nome da espécie
necessita de mais tempo.
No
que ao Jardim José do Canto diz respeito, José Maria Álvares Cabral foi o autor
da compilação e crítica científica do “Catálogo por ordem alfabética das
espécies plantadas entre maio de 1865 e setembro de 1867 no Jardim José do
Canto” que pode ser consultado, por todos os interessados, na Biblioteca
Pública de Ponta Delgada.
O
eng. Álvares Cabral foi autor de, entre outros, diversos artigos publicados na
revista Insulana, do Instituto Cultural de Ponta Delgada, de que se destaca o
texto intitulado: “Importância dos estudos de ciências naturais nos Açores e
papel que os mesmos podem
desempenhar as bibliotecas e museus existentes
no arquipélago, principalmente o de Carlos Machado, em Ponta Delgada».
É também da sua autoria a
brochura “Observations
ornithologiques dans l'île de São Miguel (Açores): 1960-1963”, publicado
em 1964, pela Tipografia Andrade, de Angra do Heroísmo.
Teófilo
Braga
(Correio dos Açores, 32427, 5 de maio de 2021, p.12)
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