Com os
pés na terra (504)
Bruno da Ponte: um editor micaelense
(quase) desconhecido
Bruno
Domingues da Ponte, formado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências
Económicas e Financeiras, nasceu em Ponta Delgada a 28 de agosto de 1932 e faleceu
na mesma cidade a 14 de dezembro de 2018.
Embora
tenha exercido várias profissões ou trabalhado em diversas áreas, como
tradutor, jornalista, professor universitário em Edinbourg, Escócia, diretor de
uma escola de jornalismo, em Maputo, Moçambique, galerista, etc., destacamos a
sua atividade como editor.
Para
além de ter trabalhado, enquanto viveu no estrangeiro, na editora DEFA, o nome
de Bruno da Ponte está ligado às seguintes editoras: Minotauro, Estampa, Teorema
e Salamandra.
A
editora Estampa foi criada, em 1960, por António Carlos Manso Pinheiro e
segundo Flamarion Maués era de esquerda da área política do PCP e a Teorema
surgiu em 1974 pelas mãos de Carlos Araújo e Carlos da Veiga Ferreira e, de
acordo com o autor referido, não apresentava uma posição política definida.
Bruno
da Ponte foi um dos fundadores da Editorial Minotauro que funcionou entre 1960
até ao final de 1966, altura em que foi encerrada pela PIDE e ele foi sujeito a
longos interrogatórios por parte daquela polícia política.
De
acordo com Bruno da Ponte, numa entrevista dada à revista “A Ideia”, a
Minotauro nasceu com “dois propósitos: a publicação de obras importantes do
passado que não haviam sido divulgadas entre nós e dar conhecimento de
movimentos e obras inovadoras, já firmados no estrangeiro, mas de que
permanecíamos alheados”.
De entre as obras
publicadas, destacámos “Surrealismo/Abjeccionismo” e “Peças em um Acto”. A
primeira pelo número de autores dado a conhecer e a segunda por ter levado ao
fim da editora.
A antologia
“Surrealismo/Abjecionismo” foi organizada por Mário Cesariny e contou com
textos e ilustrações de trinta e dois autores, como Alexandre O’ Neill, António
José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, José Sebag, Luiz Pacheco e
Mário Henrique Leiria.
O
livro “Peças em um Acto”, de Luís Sttau Monteiro, que, entre outras, incluía
duas peças de teatro, “A Guerra Santa” e “A Estátua”, foi considerado pelo
Ministério da Defesa Nacional uma afronta às tropas portuguesas que estavam a
combater em África. O autor acabou por ser detido e a editora viu as suas
instalações serem seladas e depois inundadas, pois os agentes da PIDE que lá se
deslocaram esqueceram-se de fechar as torneiras da água, fazendo com que livros
e quadros fossem destruídos.
Em
1985, Bruno da Ponte e Carlos Veiga Pereira criaram as “Edições Salamandra” que
recuperam parte do legado da Editorial Minotauro, através da reedição de
algumas das suas publicações, como “Surrealismo/Abjeccionismo” ou “O rapaz de
bronze”, de Sofia de Mello Breyner.
Das
muitas obras publicadas pelas “Edições Salamandra”, destaco os livros “Para
Além da Revolução” da autoria do genial e visionário arquiteto paisagista
Gonçalo Ribeiro Teles, “Nacionalismo, Regionalismo e Autoritarismo nos Açores
durante a Primeira República”, de Carlos Cordeiro e “Uma Mulher pioneira: Ideias,
Intervenção e Ação de Alice Moderno”, de Maria da Conceição Vilhena.
A divulgação
da obra de escritores açorianos também foi feita por Bruno da Ponte, através da
Coleção Garajau, das Edições Salamandra. Com efeito, segundo Daniel Melo,
naquela coleção foram publicados 121 títulos de 52 autores, entre os quais
destacamos Daniel
de Sá, Cristóvão de Aguiar, Borges Martins, José Martins Garcia, Onésimo
Teotónio Almeida, Álamo Oliveira e Urbano Bettencourt.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32432, 12 de maio de 2021, p.12)
Sem comentários:
Enviar um comentário