Apontamentos sobre o
Padre João José de Amaral (2)
Em
texto anterior, escrevemos sobre o Padre João José de Amaral, nomeadamente
sobre a sua dedicação ao ensino. No de hoje, a temática principal é a sua
preocupação com a florestação e a agricultura em São Miguel.
O
padre João José de Amaral teve uma vida preenchida com atividades de diversa
índole. Assim, pertenceu a várias instituições, como o partido cartista, a
Sociedade de Beneficência, que presidiu, a Sociedade dos Amigos das Letras e
Artes e a SPAM-Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense.
Para
além das entidades referidas, tal como grande parte dos principais dirigentes
das diversas organizações do seu tempo, como José do Canto, José Jácome
Correia, António Feliciano de Castilho ou José Pereira Botelho, o padre João
José de Amaral pertenceu à maçonaria.
De
acordo com António Lopes, autor do livro “A maçonaria portuguesa e os Açores,
1792-1935”, o padre João José de Amaral “foi provavelmente iniciado na Loja existente
em Ponta Delgada no início da década de vinte, vindo posteriormente a ser
obreiro da Loja União Açoreana”.
O
contributo do padre João José de Amaral para o desenvolvimento da agricultura
micaelense foi enorme, sobretudo através da sua dedicação à SPAM, quer enquanto
membro da sua direção, recordo que em 1850 foi o sócio mais votado para aquele
órgão, quer enquanto colaborador do seu órgão de informação “O Agricultor
Micaelense”.
No
que à agricultura diz respeito, um dos temas mais abordados pelo padre João
José de Amaral foi o das laranjeiras e os seus problemas. Assim sobre o assunto
há textos dele no “Agricultor Micaelense”, no “Cartista dos Açores” e no
“Almanaque Rural dos Açores.
Ainda
no que diz respeito às laranjeiras o padre João José de Amaral presidiu a uma
comissão da SPAM que teve por encargo examinar a ação de um “remédio” proposto
por Domingos Torres para exterminar o inseto destruidor das mesmas.
A
preocupação do padre João José de Amaral foi também relativa à desflorestação
da ilha de São Miguel, tendo sobre o assunto escrito um texto publicado, em
1843, no jornal “O Monitor”, de Ponta Delgada, onde abordava as vantagens da
plantação de árvores, apresentando, entre as principais, o “gozo de madeiras de
carpintaria, e construção, o aumento de combustíveis, os abrigos dos terrenos,
a salubridade dos
ares”.
Abaixo,
transcreve-se algumas das suas propostas:
“Parece-nos
que com a semeadura de giesteira pelas sumidades dos montes, e depois, ou ao
mesmo tempo, com a da semente da nossa faia, ou doutras árvores,
a arbítrio de cada um, se conseguiria o que pretendemos. As aves, os ventos, e
as chuvas fariam depois o resto. Toda a dificuldade está, diz Rosier em caso
análogo, na germinação da semente, e na conservação da planta do primeiro ano.
Por pouca, porém, que nasça e por pouca que se conserve, repetindo-se, a
operação nos anos consecutivos, teremos a final povoados de árvores os montes,
com imediato proveito dos donos, com utilidade geral e pública, com beleza e
aumentos da riqueza insulana. Assim o praticaram muitas nações europeias...
proibindo ao mesmo rotear, e cultivar os cumes das montanhas, até uma certa
distância.
Resta
desfazer uma objeção. Os montes da ilha são pela maior parte, pertencentes a
vínculos, cujos terrenos andam arrendados, servindo esses montes de pastos às
rezes dos rendeiros. Como poderá, pois, praticar-se no plano indicado, ou
outro, que tenda ao mesmo fim? Em duas palavras responderemos.
Se
os Administradores dos vínculos quiserem entender os seus interesses no aumento
da fertilidade dos terrenos, e, por conseguinte, no do preço das rendas,
deverão até premiar a quem povoe de árvores os montes. Se os rendeiros forem suscetíveis
de melhores ideias, do que as que em Agricultura possuem, deverão por uma vez
acabar de persuadir-se que a quantidade do gado e também a qualidade cresce na
razão da cultura das terras.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32442, 27 de maio de 2021, p. 14)
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