Apontamentos
sobre José Orlando Bretão (1)
José Orlando
de Noronha da Silveira Bretão nasceu em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, a 14
de abril de 1939 e faleceu na mesma cidade a 24 de outubro de 1998.
José Orlando Bretão foi
um opositor à ditadura do Estado Novo, tendo sido, em Coimbra, onde estudou,
dirigente associativo e um dos fundadores da Real República Corsários das
Ilhas. A 19 de maio de 1962, sendo membro ativo do movimento estudantil, foi
detido pela PIDE naquela cidade e enviado para Caxias, onde esteve preso na
prisão política existente naquela localidade.
Depois de se licenciar
em Direito, na Universidade de Coimbra, José Orlando Bretão regressou à sua
ilha onde, a partir de janeiro de 1969, foi consultor jurídico do movimento
sindical.
Ligado ao movimento
cooperativo, José Orlando Bretão, antes do 25 de Abril de 1974, foi cofundador
de instituições de carácter cultural, como a Unitas-Cooperativa Académica de
Consumo e a Centelha, editora livreira, ambas sediadas em Coimbra. No que diz
respeito à cooperativa Sextante (1970-72), criada em Ponta Delgada, José
Orlando Bretão foi um dos sócios que esteve envolvido na criação de uma delegação
na Ilha Terceira. Já em democracia, foi também um dos fundadores da cooperativa
livreira Semente.
No
âmbito cultural, José Orlando Bretão esteve ligado à Fanfarra Operária, onde
foi cofundador do Círculo de Iniciação Teatral, foi sócio efetivo
do Instituto Histórico da Ilha Terceira e do Instituto Açoreano de Cultura, foi
Sócio Honorário da Sociedade Recreativa Nossa Senhora do Pilar das Cinco
Ribeiras e da Sociedade Filarmónica Recreio de Santa Bárbara e foi Presidente
da Academia Musical da Ilha Terceira. Foi também presidente da Assembleia Geral
do Cineclube da Ilha Terceira e das Assembleias Gerais do Teatro Experimental
de Angra “O outro Teatro” e da Associação Cultural Oficina d’Angra.
José Orlando
Bretão também se dedicou à pintura, estando como pintor naif representado em
várias coleções públicas e particulares.
Estudioso do
folclore açoriano, em especial das danças de Carnaval e das Festividades do
Espírito Santo, José Orlando Bretão foi autor de vários trabalhos, de que destacamos
o seguinte: “As danças do entrudo, uma festa do povo”, editado pela Direção
Regional da Cultura.
A paixão de José
Orlando Bretão pelo desporto, fez com que colaborasse ativamente com o seu
clube, o “Sport Clube Lusitânia”, fundado em 1922. Assim, foi diretor do jornal
do clube, "O Lusitânia" durante 21 anos, entre 22/4/1970 (jornal nº
159), até o mesmo jornal deixar de se publicar em 1991 e também presidiu à sua Mesa
da Assembleia-Geral.
No que diz respeito à política, para
além do seu passado antifascista, não é conhecida qualquer ligação sua a
partidos políticos, tanto antes como depois do 25 de abril de 1974., embora,
como afirma Carlos Enes, no seu livro “A violência da FLA quase tomou conta da
ilha”, “se dissesse que era simpatizante da UDP (União Democrática Popular).
Sobre o seu posicionamento político e
sua independência face a todos os partidos políticos, no livro citado pode ler-se
o seguinte:
“a minha sobrevivência aqui se deve, grandemente, ao facto de não ter
pertencido nem pertencer a qualquer organização político-partidária. Todas as
tentativas de direita para me colarem “emblemas” falharam redondamente. A
população que me conhece de perto sabe que “não sou pelo governo”, que sou de
esquerda, servindo, como posso e sei, os pobres e ofendidos (sem literatura).”
Termino
este primeiro artigo sobre o cidadão exemplar, José Orlando Bretão, que conheci quando vivi em Angra
do Heroísmo, entre outubro de 1980 e junho de 1893, com um exceto de um texto
que publicou a 30 de maio de 1974, no Diário Insular:
“As torturas, os
medos, as mortes, os roubos, as mentiras, as traições, as subserviências
esquecem-se, não é? Para quê perturbar os espíritos, lembrar coisas passadas, a
“Pátria somos todos”, os bons e os maus, os torturadores e os torturados, os
carrascos e as vítimas, não é?
Pois somos.
Sejamos. Senhores e servos, como vem na História. Com “civismo”, não é? Ou com
“cinismo” que se escreve quase da mesma maneira?
Em Angra, que foi
E SERÁ do Heroísmo, muita coisa se vai ainda passar. Porque “virá um vento
rijo, um vento forte, vindo da raiz da História”. Um vento chamado JUSTIÇA”:
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32448, 3 de junho de 2021, p.14)
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