quinta-feira, 3 de junho de 2021

Apontamentos sobre José Orlando Bretão (1)

 


Apontamentos sobre José Orlando Bretão (1)

 

José Orlando de Noronha da Silveira Bretão nasceu em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, a 14 de abril de 1939 e faleceu na mesma cidade a 24 de outubro de 1998.

 

José Orlando Bretão foi um opositor à ditadura do Estado Novo, tendo sido, em Coimbra, onde estudou, dirigente associativo e um dos fundadores da Real República Corsários das Ilhas. A 19 de maio de 1962, sendo membro ativo do movimento estudantil, foi detido pela PIDE naquela cidade e enviado para Caxias, onde esteve preso na prisão política existente naquela localidade.

 

Depois de se licenciar em Direito, na Universidade de Coimbra, José Orlando Bretão regressou à sua ilha onde, a partir de janeiro de 1969, foi consultor jurídico do movimento sindical.

 

Ligado ao movimento cooperativo, José Orlando Bretão, antes do 25 de Abril de 1974, foi cofundador de instituições de carácter cultural, como a Unitas-Cooperativa Académica de Consumo e a Centelha, editora livreira, ambas sediadas em Coimbra. No que diz respeito à cooperativa Sextante (1970-72), criada em Ponta Delgada, José Orlando Bretão foi um dos sócios que esteve envolvido na criação de uma delegação na Ilha Terceira. Já em democracia, foi também um dos fundadores da cooperativa livreira Semente.

 

No âmbito cultural, José Orlando Bretão esteve ligado à Fanfarra Operária, onde foi cofundador do Círculo de Iniciação Teatral, foi sócio efetivo do Instituto Histórico da Ilha Terceira e do Instituto Açoreano de Cultura, foi Sócio Honorário da Sociedade Recreativa Nossa Senhora do Pilar das Cinco Ribeiras e da Sociedade Filarmónica Recreio de Santa Bárbara e foi Presidente da Academia Musical da Ilha Terceira. Foi também presidente da Assembleia Geral do Cineclube da Ilha Terceira e das Assembleias Gerais do Teatro Experimental de Angra “O outro Teatro” e da Associação Cultural Oficina d’Angra.

 

José Orlando Bretão também se dedicou à pintura, estando como pintor naif representado em várias coleções públicas e particulares.

 

Estudioso do folclore açoriano, em especial das danças de Carnaval e das Festividades do Espírito Santo, José Orlando Bretão foi autor de vários trabalhos, de que destacamos o seguinte: “As danças do entrudo, uma festa do povo”, editado pela Direção Regional da Cultura.

 

A paixão de José Orlando Bretão pelo desporto, fez com que colaborasse ativamente com o seu clube, o “Sport Clube Lusitânia”, fundado em 1922. Assim, foi diretor do jornal do clube, "O Lusitânia" durante 21 anos, entre 22/4/1970 (jornal nº 159), até o mesmo jornal deixar de se publicar em 1991 e também presidiu à sua Mesa da Assembleia-Geral.

 

No que diz respeito à política, para além do seu passado antifascista, não é conhecida qualquer ligação sua a partidos políticos, tanto antes como depois do 25 de abril de 1974., embora, como afirma Carlos Enes, no seu livro “A violência da FLA quase tomou conta da ilha”, “se dissesse que era simpatizante da UDP (União Democrática Popular).

 

Sobre o seu posicionamento político e sua independência face a todos os partidos políticos, no livro citado pode ler-se o seguinte:

 

“a minha sobrevivência aqui se deve, grandemente, ao facto de não ter pertencido nem pertencer a qualquer organização político-partidária. Todas as tentativas de direita para me colarem “emblemas” falharam redondamente. A população que me conhece de perto sabe que “não sou pelo governo”, que sou de esquerda, servindo, como posso e sei, os pobres e ofendidos (sem literatura).”

 

Termino este primeiro artigo sobre o cidadão exemplar, José Orlando Bretão, que conheci quando vivi em Angra do Heroísmo, entre outubro de 1980 e junho de 1893, com um exceto de um texto que publicou a 30 de maio de 1974, no Diário Insular:

 

“As torturas, os medos, as mortes, os roubos, as mentiras, as traições, as subserviências esquecem-se, não é? Para quê perturbar os espíritos, lembrar coisas passadas, a “Pátria somos todos”, os bons e os maus, os torturadores e os torturados, os carrascos e as vítimas, não é?

 

Pois somos. Sejamos. Senhores e servos, como vem na História. Com “civismo”, não é? Ou com “cinismo” que se escreve quase da mesma maneira?

 

Em Angra, que foi E SERÁ do Heroísmo, muita coisa se vai ainda passar. Porque “virá um vento rijo, um vento forte, vindo da raiz da História”. Um vento chamado JUSTIÇA”:

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32448, 3 de junho de 2021, p.14)

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