quarta-feira, 16 de junho de 2021

Jardim António Borges em livro

 


Jardim António Borges em livro

 

Afazeres profissionais impediram-me de mais cedo ler o livro Jardim António Borges, que me foi oferecido pela senhora presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Maria José Lemos Duarte, a quem reconhecidamente agradeço.

 

Com fotografias magníficas de Pedro do Canto Brum, o livro coordenado por Isabel Albergaria conta com textos de, entre outras pessoas, Rosalina Gabriel, Ana Moura Arroz, João Porteiro, Maria de Fátima Melo e Clara Neto e Sousa.

 

De leitura obrigatória para quem quer conhecer a história do que para muitos visitantes era e é o mais belo jardim de Ponta Delgada do ponto de vista paisagístico e saber um pouco mais sobre a vida do seu fundador António Borges da Câmara Medeiros (1812-1879), este livro inclui também interessantes textos sobre 15 espécies das plantas pertencentes aos 239 táxones existentes, de acordo com o levantamento feito, em 2020, por Raimundo Quintal.

 

A grande novidade, pelo menos para mim, relativamente a anteriores obras sobre o Jardim António Borges, é a inclusão de duas pequenas rubricas, uma sobre líquenes e briófitos e outra sobre vertebrados terrestres.

 

De entre os líquenes, é dado destaque à urzela (Rocella tinctoria) que era usada em tinturaria desde os primórdios do povoamento e que de acordo com Carreiro da Costa ainda era referida no século XVIII “nas instruções que, a 2 de Agosto de 1766, o Conde de Oeiras transmitia ao primeiro capitão-general dos Açores, recomendando que a mesma deveria ser objeto de cuidada vigilância por forma a evitar o seu contrabando, porquanto se tratava de um monopólio que importava manter.”

 

No que diz respeito aos vertebrados terrestres, se não haveria muito mais a dizer, sobre o morcego (Nyctalus azoreum), o único mamífero endémico dos Açores ou sobre os anfíbios e répteis, pois apenas podem ser encontrados a rã-verde (Rana perezi) e a lagartixa-da-madeira (Lacerta duguesii), no que diz respeito à avifauna, a referência a outras aves que lá são possíveis observar enriqueceria muito o livro. Acredito que a autora não o terá feito por limitação de espaço, pois ela é uma das maiores conhecedoras da avifauna da nossa terra.

 

Numa reedição do livro, seria de todo o interesse uma ampliação do texto sobre os vertebrados com a inclusão de imagens de todas as espécies referidas e de  outras espécies que facilmente podem ser encontradas no jardim, como a alvéloa (Motacilla cinerea patriciae), subespécie endémica dos Açores, o santantoninho (Erithacus rubecula) ou mesmo o mocho (Asio otus), a nossa única ave de rapina noturna.

 

A refletir sobre o passado e o presente e a pensar nos tempos que virão, merece uma leitura atenta o texto “Gestão corrente e compromisso para o futuro”.

 

Como problemas do presente é destacada a escassez de recursos humanos e o envelhecimento da equipa e é posto o dedo na ferida, isto é, “mão de obra pouco qualificada, consequência da carreira de jardineiro ser mal remunerada e pouco valorizada, tornando-se por isso menos apelativa para as gerações mais jovens”. Uma palavra a dizer sobre o assunto têm os políticos, nomeadamente os autarcas e as escolas profissionais deverão apostar em cursos de formação de jardinagem.

 

Outro problema levantado foi o dos maus usos que estão associados ao vandalismo e ao tráfego e consumo de estupefacientes. Esta situação para ser ultrapassada exige uma fiscalização permanente por parte de Serviços de Vigilância que já existem e uma maior ocupação e dinamização de atividades no jardim, pois muitas vezes os prevaricadores oportunisticamente ocupam lugares que não estão a ser frequentados ou dinamizados.

 

Sobre o assunto a autora do texto aponta um dos possíveis meios para ultrapassar o problema referido, a dinamização do “espaço criado na antiga cisterna, cedida à Associação de Botânicos dos Açores”. Como muito bem escreveu: “o Jardim é um recurso inigualável para o desenvolvimento da educação ambiental e cívica, e a formação de gerações ambientalmente conscientes e sustentáveis”.

 

Como, segundo julgo saber, a edição foi limitada seria de todo o interesse uma segunda edição destinada a todo o público sedento por mais informação.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32457, 16 de junho de 2021, p.15)

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