Jardim
António Borges em livro
Afazeres
profissionais impediram-me de mais cedo ler o livro Jardim António Borges, que
me foi oferecido pela senhora presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada,
Maria José Lemos Duarte, a quem reconhecidamente agradeço.
Com
fotografias magníficas de Pedro do Canto Brum, o livro coordenado por Isabel
Albergaria conta com textos de, entre outras pessoas, Rosalina Gabriel, Ana
Moura Arroz, João Porteiro, Maria de Fátima Melo e Clara Neto e Sousa.
De
leitura obrigatória para quem quer conhecer a história do que para muitos
visitantes era e é o mais belo jardim de Ponta Delgada do ponto de vista
paisagístico e saber um pouco mais sobre a vida do seu fundador António Borges
da Câmara Medeiros (1812-1879), este livro inclui também interessantes textos
sobre 15 espécies das plantas pertencentes aos 239 táxones existentes, de
acordo com o levantamento feito, em 2020, por Raimundo Quintal.
A
grande novidade, pelo menos para mim, relativamente a anteriores obras sobre o
Jardim António Borges, é a inclusão de duas pequenas rubricas, uma sobre
líquenes e briófitos e outra sobre vertebrados terrestres.
De
entre os líquenes, é dado destaque à urzela (Rocella tinctoria) que era
usada em tinturaria desde os primórdios do povoamento e que de acordo com
Carreiro da Costa ainda era referida no século XVIII “nas instruções que, a 2
de Agosto de 1766, o Conde de Oeiras transmitia ao primeiro capitão-general dos
Açores, recomendando que a mesma deveria ser objeto de cuidada vigilância por
forma a evitar o seu contrabando, porquanto se tratava de um monopólio que
importava manter.”
No
que diz respeito aos vertebrados terrestres, se não haveria muito mais a dizer,
sobre o morcego (Nyctalus azoreum), o único mamífero endémico dos Açores
ou sobre os anfíbios e répteis, pois apenas podem ser encontrados a rã-verde (Rana
perezi) e a lagartixa-da-madeira (Lacerta duguesii), no que diz
respeito à avifauna, a referência a outras aves que lá são possíveis observar
enriqueceria muito o livro. Acredito que a autora não o terá feito por
limitação de espaço, pois ela é uma das maiores conhecedoras da avifauna da
nossa terra.
Numa
reedição do livro, seria de todo o interesse uma ampliação do texto sobre os
vertebrados com a inclusão de imagens de todas as espécies referidas e de outras espécies que facilmente podem ser
encontradas no jardim, como a alvéloa (Motacilla cinerea patriciae),
subespécie endémica dos Açores, o santantoninho (Erithacus rubecula) ou mesmo o mocho
(Asio otus), a nossa única ave de rapina noturna.
A
refletir sobre o passado e o presente e a pensar nos tempos que virão, merece
uma leitura atenta o texto “Gestão corrente e compromisso para o futuro”.
Como
problemas do presente é destacada a escassez de recursos humanos e o
envelhecimento da equipa e é posto o dedo na ferida, isto é, “mão de obra pouco
qualificada, consequência da carreira de jardineiro ser mal remunerada e pouco
valorizada, tornando-se por isso menos apelativa para as gerações mais jovens”.
Uma palavra a dizer sobre o assunto têm os políticos, nomeadamente os autarcas
e as escolas profissionais deverão apostar em cursos de formação de jardinagem.
Outro
problema levantado foi o dos maus usos que estão associados ao vandalismo e ao
tráfego e consumo de estupefacientes. Esta situação para ser ultrapassada exige
uma fiscalização permanente por parte de Serviços de Vigilância que já existem
e uma maior ocupação e dinamização de atividades no jardim, pois muitas vezes
os prevaricadores oportunisticamente ocupam lugares que não estão a ser
frequentados ou dinamizados.
Sobre
o assunto a autora do texto aponta um dos possíveis meios para ultrapassar o
problema referido, a dinamização do “espaço criado na antiga cisterna, cedida à
Associação de Botânicos dos Açores”. Como muito bem escreveu: “o Jardim é um
recurso inigualável para o desenvolvimento da educação ambiental e cívica, e a
formação de gerações ambientalmente conscientes e sustentáveis”.
Como,
segundo julgo saber, a edição foi limitada seria de todo o interesse uma
segunda edição destinada a todo o público sedento por mais informação.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32457, 16 de junho de 2021, p.15)
Sem comentários:
Enviar um comentário