Sobre um guia das plantas do Jardim
António Borges
Com
um intervalo de quinze dias, foram lançados, em São Miguel, dois livros sobre o
Jardim António Borges.O primeiro, que ainda não li, editado pela Câmara
Municipal de Ponta Delgada e o segundo, que é a razão deste texto, por parte da
Letras Lavadas edições.
Com
a edição do livro “Plantas do Jardim António Borges” a mencionada editora está
a proporcionar a todos os interessados, naturais, residentes ou visitantes da
ilha de São Miguel, informação que há alguns anos estava em falta para um
melhor conhecimento do rico património botânico de um dos mais emblemáticos
jardins dos Açores. Com efeito, através da sua leitura, é possível ficar a
conhecer, entre outras informações, o nome científico, o nome comum, a família,
a origem e os meses de floração de 219 dos 239 táxones existentes no jardim.
A
disponibilização deste guia ao público é também um forte contributo para a educação
ambiental de todos, nomeadamente dos mais jovens, tornando possível
aprendizagens sobre e com a natureza. Trata-se de um pequeno passo para ajudar
a cumprir a esquecida Carta de Belgrado que apresentava como meta da educação
ambiental: “formar uma população mundial consciente e
preocupada com o ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os
conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido
de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e coletivamente na
resolução das dificuldades atuais, e impedir que elas se apresentem de novo”.
Este
guia é, também, uma homenagem ao criador do jardim, António Borges da Câmara
Medeiros (1812-1879), rico proprietário da ilha de São Miguel, apaixonado pelas
plantas que, para além de ser o criador deste jardim que hoje ostenta o seu
nome, em Ponta Delgada, criou o Jardim Pitoresco, nas Sete Cidades, e foi um
dos responsáveis pelo surgimento do Parque das Murtas, atualmente conhecido por
Parque Beatriz do Canto, nas Furnas.
António
Borges, que no dizer do Dr. Urbano de Mendonça Dias, possuía um “reconhecido
gosto artístico”, foi o responsável pelo desenho dos seus jardins e não era
homem de se ficar pelo trabalho de gabinete. Com efeito, Alfredo Bensaúde, no
livro “A vida de José Bensaúde”, sobre António Borges escreveu o seguinte: “surpreendia-me
que uma pessoa tão distinta passasse o dia, ao sol e à chuva, a dirigir
trabalhos de jardinagem”.
Para
os seus jardins, nomeadamente o de Ponta Delgada, que começou a ser construído
em 1858, António Borges mandou vir ou comprou diretamente no estrangeiro muitas
plantas. Sobre o assunto, José do Canto, numa das cartas de Paris dirigidas ao
primo José Jácome Correa, onde considera António Borges “excessivo em todas as
cousas a que se aplica, e como é facilmente absorvido por ellas”, escreve que
naquela cidade se entregou “única e exclusivamente às plantas; o dia todo é nos
viveiros ou no Jardim das Plantas, e as noutes, com pequenas excepções, são
empregadas em folhear catálogos e tomar notas”.
O
autor do livro é Raimundo Quintal, doutorado em Geografia Física pela
Universidade de Lisboa, madeirense que, desde 1983, tem vindo a estudar a
fitodiversidade dos parques e jardins do nosso arquipélago e que foi o
coordenador científico do projeto de recuperação do Jardim José do Canto, entre
2014 e 2017.
Para
além dos livros já publicados da sua autoria, como “Jardim da Fundação Calouste
Gulbenkian- Flora” ou “Quintas, Jardins e Parques do Funchal- Estudo
Fitogeográfico”, Raimundo Quintal foi autor e realizador da série televisiva
“Madeira e São Miguel à Luz da Geografia”, gravada em 1993 e exibida, pela
primeira vez, em 1994, estando os quatro documentários disponíveis na página da
Associação dos Amigos dos Parque Ecológico do Funchal no Youtube.
Está
de parabéns a editora por, com esta iniciativa, valorizar um jardim que no
dizer do Visconde do Ervedal da Beira “não só é uma obra de arte em que a
natureza tomou grande parte, é também um poema, em que o seu autor revela
sentimento e coração”.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 32452, 9 de junho de 2021,p.14
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