terça-feira, 9 de novembro de 2021

Mariano d’Arruda, político e poeta vila-franquense

 


 


Mariano d’Arruda, político e poeta vila-franquense

 

Em texto anterior fizemos referência à atividade do Dr. Mariano Arruda, como administrador do seu concelho natal, Vila Franca do Campo, como procurador à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada e em Lisboa no parlamento nacional, onde pugnou pela melhoria socioeconómica das populações insulares.

 

No mesmo texto, mencionámos a sua ligação ao jornal “A Pátria”, de Vila Franca do Campo, de duração efémera, que acabou de se publicar devido à ida de Mariano d’Arruda para Ponta Delgada, para se dedicar à Junta Geral. De igual modo, foi feita menção à sua colaboração no jornal “O Debate”, de que foi um dos fundadores e um colaborador assíduo até ir para Lisboa, onde acabou por falecer pouco tempo depois.

 

Através de Alice Moderno, tomei conhecimento de que Mariano Arruda não foi apenas um prosador exímio sempre em defesa do ideal republicano, mas também um apreciador de literatura.

 

Sobre a sua amizade com Mariano d’Arruda, no jornal “O Debate”, de 24 de dezembro de 1915, Alice Moderno escreveu o seguinte:

 

“Pobre Mariano! Conheci-o desde o dia em que veio timidamente oferecer-me um exemplar do seu primeiro livro! E nunca mais, nem quando aluno do liceu, nem quando estudante da Universidade, nem depois de bacharel, e, recentemente, de deputado deixou de me procurar e de ter para comigo atenções bem dignas da sincera estima que sempre lhe tributei.”

 

Alice Moderno, no mesmo texto, referiu-se ` a atividade jornalística de Mariano d’Arruda nos seguintes termos:

 

“Formou-se com uma boa classificação. Foi jornalista de combate e soube sê-lo sem envergonhar a classe, sob os pontos de vista da intelectualidade e da dignidade profissional”

 

Por sua vez, através de uma pequena nota publicada no “Açoriano Oriental” ficamos a conhecer uma apreciação à sua obra como poeta. Abaixo transcrevo um extrato:

 

“O sr. Mariano d’Arruda era um rapaz inteligente e afável.

 Foi na sua mocidade um poeta muito apreciável, tendo deixado vários volumes de versos”

 

Não sabemos quantos livros publicou, mas na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, encontramos dois: “Devaneios” e “Horas de expansão”.

 

O primeiro a ser publicado, “Horas d’Expnsão” (prosa e verso), datado de 1902, tem 198 páginas e foi editado pela Livraria do Telegrapho - Empresa Editora. O outro, “Devaneios” (poesias), datado de 1903, tem 128 páginas, foi prefaciado por Francisco Maria Supico e impresso na Typographia Ruy Moraes, de Ponta Delgada.

 

Outras obras da sua autoria foram anunciadas, mas não foi possível confirmar a sua publicação. Foram elas: Páginas Açorianas (descrição e análise crítica), Cenas Principescas (Romance) e Homens e Letras (crítica).

 

Da sua autoria, apresentamos duas quadras de um poema intitulado Saudação, escrito em Vila Franca do Campo.

 

Em teu rosto formoso

Dá-te hoje a Primavera

O beijo gracioso

Que sorrindo te espera

 

Não vês as avezinhas

Como o teu nome cantam?

Té as próprias florinhas

De o ouvirem se encantam!...

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32580, 10 de novembro de 2021, p.15)

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