quarta-feira, 24 de novembro de 2021

José Fontana amigo de Antero de Quental

 


José Fontana amigo de Antero de Quental

 

Quando se pesquisa sobre a atividade cívica e política de Antero de Quental, entre outros, surge o nome de José Fontana.

 

Quem foi José Fontana e o que o liga ao nosso filósofo e poeta?

 

José Fontana, de seu nome completo Giuseppe Silo Domenico Fontana, nasceu em Cabbio, na Suíça, no dia 28 de outubro de 1840, filho do italiano Giovanni Baptista Fontana e da portuguesa Maria Clara Bertrand Bonardelli, e faleceu em Lisboa a 2 de setembro de 1876.

 

Amigo inseparável de Antero de Quental, com este esteve envolvido em diversas iniciativas e organizações ligadas à defesa dos mais desfavorecidos, nomeadamente das classes trabalhadoras.

 

Em 1871, José Fontana e Antero de Quental e outros reuniram com uma delegação espanhola da AIT-Associação Internacional dos Trabalhadores, organização que agrupava diversas tendências socialistas. Os objetivos das reuniões, algumas realizadas a bordo de um bote cacilheiro, foram divulgar as finalidades daquela associação e criar uma secção em Portugal, tendo esta tarefa ficado a cargo dos dois.

 

Fundado em 1852, agrupando liberais, socialistas e republicanos, o Centro Promotor das Classes Laboriosas, a partir de 1972 opta pelo socialismo. Dele fizeram parte Antero de Quental e José Fontana que pertenceu, com Francisco Sousa Brandão, Luís Eça, J.C. Nobre França e Eduardo Maia, à comissão redatora do novo projeto de estatutos.

 

Tendo como um dos objetivos “tratar, por meio da cooperação, dos desenvolvimentos intelectuais e morais das classes operárias”, em 19 de janeiro de 1872, foi fundada a Fraternidade Operária, com estatutos redigidos por José Fontana inspirado nos da AIT. 

 

Fontana e Antero de Quental para apoiar aquela associação criaram o semanário “O Pensamento Social” que a partir do seu nº 25 passou a ser o órgão oficial da Fraternidade Operária.

 

Maria Manuela Cruzeiro, num texto publicado em 1990, intitulado “Vida e Acção de José Fontana”, que é a principal fonte de informação para esta nota, sobre o jornal referido escreveu o seguinte:

 

“Nele, os companheiros mais activos de José Fontana deixaram impresso o seu pensamento político e social. Mas ele constitui principalmente a tribuna onde Antero e José Fontana comunicavam com o operariado desse tempo, dando notícias do que ia acontecendo nos outros países onde o movimento operário se desenvolvia, mantendo-os ao corrente do que se passava em Portugal e redigindo textos de pedagogia política, económica e social.”

 

Para além de ser um dos principais organizadores do movimento cooperativo, José Fontana foi fundador, em 1875, do Partido Socialista Português.

 

Os dois amigos que se completavam, Antero seria o cérebro e Fontana o braço, acabaram os seus dias de forma muito semelhante. Com efeito, José Fontana que sofria de uma doença que naquela época não era tratável suicidou-se, justificando em carta dirigida a amigos que o fazia por não ter força para suportar a doença.

 

Manuela Cruzeiro defende que, tal como terá acontecido mais tarde com Antero, as verdadeiras razões foram de natureza psicológica. Segundo ela, “em José Fontana havia razões traduzidas num desencanto político-partidário. Convencera-se da impossibilidade de fazer triunfar os direitos humanos na sociedade que o rodeava por saber do retrocesso das lutas operárias, retrocesso que seria temporário, mas cuja filosofia o fez sucumbir.”

 

Se Antero de Quental, ou pelo menos uma parte da sua vida e obra, é pouco conhecido na sua terra, José Fontana é totalmente desconhecido na atualidade, o que é inadmissível, mas se compreende depois da extinção, por quem se dizia seus discípulos, das duas fundações que tinham o nome dos dois “heróis” do movimento operário português.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32592, 24 de novembro de 2021, p.15)

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