José
Fontana amigo de Antero de Quental
Quando
se pesquisa sobre a atividade cívica e política de Antero de Quental, entre
outros, surge o nome de José Fontana.
Quem
foi José Fontana e o que o liga ao nosso filósofo e poeta?
José
Fontana, de seu nome completo Giuseppe Silo Domenico Fontana,
nasceu em Cabbio, na Suíça, no dia 28 de outubro de 1840, filho do italiano Giovanni
Baptista Fontana e da portuguesa Maria Clara Bertrand Bonardelli, e faleceu em
Lisboa a 2 de setembro de 1876.
Amigo
inseparável de Antero de Quental, com este esteve envolvido em diversas
iniciativas e organizações ligadas à defesa dos mais desfavorecidos,
nomeadamente das classes trabalhadoras.
Em
1871, José Fontana e Antero de Quental e outros reuniram com uma delegação
espanhola da AIT-Associação Internacional dos Trabalhadores, organização que
agrupava diversas tendências socialistas. Os objetivos das reuniões, algumas
realizadas a bordo de um bote cacilheiro, foram divulgar as finalidades daquela
associação e criar uma secção em Portugal, tendo esta tarefa ficado a cargo dos
dois.
Fundado
em 1852, agrupando liberais, socialistas e republicanos, o Centro Promotor das
Classes Laboriosas, a partir de 1972 opta pelo socialismo. Dele fizeram parte
Antero de Quental e José Fontana que pertenceu, com Francisco Sousa Brandão,
Luís Eça, J.C. Nobre França e Eduardo Maia, à comissão redatora do novo projeto
de estatutos.
Tendo
como um dos objetivos “tratar, por meio da cooperação, dos desenvolvimentos
intelectuais e morais das classes operárias”, em 19 de janeiro de 1872, foi
fundada a Fraternidade Operária, com estatutos redigidos por José Fontana
inspirado nos da AIT.
Fontana
e Antero de Quental para apoiar aquela associação criaram o semanário “O
Pensamento Social” que a partir do seu nº 25 passou a ser o órgão oficial da
Fraternidade Operária.
Maria
Manuela Cruzeiro, num texto publicado em 1990, intitulado “Vida e Acção de José
Fontana”, que é a principal fonte de informação para esta nota, sobre o jornal
referido escreveu o seguinte:
“Nele,
os companheiros mais activos de José Fontana deixaram impresso o seu pensamento
político e social. Mas ele constitui principalmente a tribuna onde Antero e José
Fontana comunicavam com o operariado desse tempo, dando notícias do que ia
acontecendo nos outros países onde o movimento operário se desenvolvia,
mantendo-os ao corrente do que se passava em Portugal e redigindo textos de
pedagogia política, económica e social.”
Para
além de ser um dos principais organizadores do movimento cooperativo, José
Fontana foi fundador, em 1875, do Partido Socialista Português.
Os
dois amigos que se completavam, Antero seria o cérebro e Fontana o braço,
acabaram os seus dias de forma muito semelhante. Com efeito, José Fontana que
sofria de uma doença que naquela época não era tratável suicidou-se,
justificando em carta dirigida a amigos que o fazia por não ter força para
suportar a doença.
Manuela
Cruzeiro defende que, tal como terá acontecido mais tarde com Antero, as
verdadeiras razões foram de natureza psicológica. Segundo ela, “em José Fontana
havia razões traduzidas num desencanto político-partidário. Convencera-se da
impossibilidade de fazer triunfar os direitos humanos na sociedade que o
rodeava por saber do retrocesso das lutas operárias, retrocesso que seria
temporário, mas cuja filosofia o fez sucumbir.”
Se
Antero de Quental, ou pelo menos uma parte da sua vida e obra, é pouco conhecido
na sua terra, José Fontana é totalmente desconhecido na atualidade, o que é
inadmissível, mas se compreende depois da extinção, por quem se dizia seus
discípulos, das duas fundações que tinham o nome dos dois “heróis” do movimento
operário português.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32592, 24 de novembro de 2021,
p.15)
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