António
José da Silva Cabral, um vila-franquense pelo coração
António
José da Silva Cabral nasceu nas Calhetas, concelho da Ribeira Grande, no dia 25
de abril de 1863 e faleceu, em Vila Franca do Campo, no dia 27 de outubro de
1953.
Chegou
a Vila Franca do Campo, depois de ter concluído em Coimbra o ensino secundário
e o bacharelato em Filosofia, em 1887, e em medicina, em 1891.
Em
Vila Franca, o dr. António José da Silva Cabral foi médico municipal e da Misericórdia,
entre 1892 e 1908.
O
Dr. Augusto Botelho Simas, num discurso que proferiu em sua homenagem,
referiu-se ao facto de o Dr. António da Silva Cabral em 17 anos da sua
permanência em Vila Franca como médico ter dado tão boa conta dos seus encargos.
Sobre os seus dotes de médico o Dr. Simas que o colocava “em lugar honroso no
quadro dos higienistas portugueses” escreveu o seguinte:
“Quando
entrava na casa do enfermo, com ele entrava a saúde, levada na face sorridente
e nas duas palavras amigas que eram os melhores instrumentos duma psicoterapia
involuntariamente exercida. Verdadeiro arquétipo nesta imposição de confiança,
nesta chamada à fé, quando muitas esperanças estavam perdidas, quantas vezes
nesse combate, que é a doença infeciosa, terá ele conseguido disciplinar
defesas orgânicas, já votadas à rendição e salvado o seu doente?”
O
mesmo Dr. Simas, no discurso que vimos referindo, publicado no volume XV, da
INSULANA, relativo ao 2º semestre de 1959, recordou que “o sempre lembrado
médico se tornou chefe político de supremo prestígio e servidor sem igual da
sociedade em que se estabeleceu”.
Da
sua atividade política fora do concelho de Vila Franca do Campo, no âmbito do
Partido Progressista, foi eleito procurador à Junta Geral (1901) e deputado às
Cortes na legislatura de 1906-07.
Foi
devido à sua visão de futuro que Vila Franca do Campo foi uma das primeiras
localidades do país a possuir iluminação pública e particular através de
energia elétrica que cá chegou pelas mãos do Eng.º José Cordeiro.
Depois
de assinado o contrato a 4 de março de 1899, a 18 de março de 1900 foi
inaugurada a luz elétrica em Vila Franca do Campo que era produzida na Fábrica
da Vila, localizada na Ribeira da Praia, onde foi instalado o primeiro grupo
hidroelétrico dos Açores.
Foi
no seu tempo que foram introduzidos assinaláveis melhoramentos, de que
destacamos o jardim que ostenta o seu nome, o cemitério, alguns arranjos feitos
no Aterro e melhorias no Largo Bento de Góis que recebeu muitas plantas
oferecidas por Sebastião do Canto.
Por
último, não poderia terminar este texto sem referir a sua paixão pelo
tratamento das plantas que ainda hoje é visível através do seu jardim
particular nas Hortas e no Jardim Dr. António das Silva Cabral, na freguesia de
São Pedro.
Em
relação ao jardim público, o Dr. António da Silva Cabral”
justificou a sua necessidade em São Pedro por naquela freguesia não haver
qualquer arborização, mas também porque servindo o jardim de distração,
evita-se que principalmente a classe operária, passe os domingos nas tabernas”
Sobre
a sua paixão pelas plantas, o Dr. Armando Cortes Rodrigues, na revista citada
escreveu o seguinte: “…com quem se fixou nesta Vila a tal ponto, que nela quis
vir fechar os olhos à vida na casa que tinha edificado, rodeada das árvores que
plantara por suas mãos de magia, que pareciam dar vida a todas as plantas, que
tocavam.”
Os
seus conhecimentos de jardinagem e fruticultura foram transmitidos a quem com
ele trabalhou, de tal modo que na Ribeira Seca de Vila Franca ainda deverá
existir alguma planta enxertada devido aos seus ensinamentos.
(Correio dos Açores, 32598, 1 de dezembro de 2021,
p.15)
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