Mariano d’Arruda, um vila-franquense ignorado
Mariano
d’Arruda, formado em direito, que exerceu as funções de oficial do registo
civil, filho de Mariano José d’Arruda foi um vila-franquense que pelas suas
convicções e dedicação aos ideias republicanos continua a ser vergonhosamente
esquecido na sua terra natal que ao longo dos tempos tem homenageado pessoas de
duvidosa conduta moral ou de medíocre desempenho cívico ou político.
Muito
novo, enquanto frequentava o liceu de Ponta Delgada filiou-se no Partido
Republicano, ainda no tempo da monarquia. Mesmo antes de terminar o seu curso,
através de conferências realizadas em Vila Franca do Campo, deu a conhecer o
que pretendiam os republicanos aos seus conterrâneos.
Com
a implantação da República, a 5 de outubro de 1910, Mariano Arruda tomou posse
como administrador do concelho no dia 8 daquele mês. O jornal “O Autonómico”,
que não morria de amores pelos republicanos, no dia 15 de outubro do ano
referido, referiu-se ao facto nos seguintes termos:
“Foi bem aceite e merecida a sua nomeação,
tanto mais quanto o sr. Mariano d’Arruda se tem manifestado em fervoroso
apóstolo da República e dado provas de competente e prudente para as atuais
circunstâncias.
No desempenho do espinhoso
cargo ambicionamos-lhe as maiores felicidades.”
A
proclamação solene da República Portuguesa ocorreu no dia 16 de outubro de 1910
na sala de sessões da Câmara Municipal com discursos de Jaime Maria Borges e
Mariano d’Arruda, com o arriar da bandeira monárquica e o içar da bandeira
republicana. A cerimónia foi abrilhantada por um orfeão infantil, regido por
Francisco Botelho Costa e pela filarmónica Lealdade.
Mariano
d´Arruda foi colaborador assíduo do jornal “A Pátria”, órgão do Centro Escolar
Republicano de Vila Franca do Campo que se publicou entre 27 de outubro de 1910 e 29 de junho de 1911. A sua dedicação
era tal que com a sua saída o jornal deixou de se publicar.
Esteve também fortemente ligado ao jornal “O Debate”, órgão
do Centro Republicano Democrático de Ponta
Delgada que iniciou a publicação em 17 de abril de 1915. Assim, Mariano
d’Arruda, a partir do número dois, de 24 de abril de 1915, até ser substituído
em 22 de julho do mesmo ano por Carlos José Borges, por ter sido eleito
deputado, foi seu diretor.
Depois
de ter tido um bom desempenho como Procurador à Junta Geral do Distrito,
Mariano d’Arruda foi eleito deputado a 6 de julho de 1915, tendo estado em
funções muito pouco tempo em virtude de ter falecido vítima de tuberculose no
dia 20 de dezembro daquele ano.
No
parlamento nacional, foi um defensor intransigente dos Açores, tendo para o
efeito apresentado um projeto de lei que autorizava a Junta Geral do Distrito
de Ponta Delgada a subsidiar os cultivadores de ananases de São Miguel para
fazer face a uma crise por que passava aquela cultura.
Para
além daquele projeto também foi aprovado uma proposta da sua autoria no sentido
de autorizar o governo a abrir novo concurso de navegação para os Açores.
A
sua morte prematura foi sentida pelos seus correligionários e os seus inimigos
políticos também reconheceram a sua dedicação à causa pública.
De
entre as personalidades que manifestaram o seu pesar, recordo as feministas
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. De um longo texto de Alice Moderno,
datado de 23 de dezembro de 1915, destacamos o seguinte: “Foi deputado e soube
defender com calor e convicção, sem se meter em questiúnculas inúteis, os
interesses económicos do distrito que o elegeu.”
O
monárquico “O Autonómico”, por sua vez registou o seu falecimento nos seguintes
termos: “Conquanto nos víssemos por vezes constrangidos a sustentar com o
extinto vigorosas e aturadas polémicas, simplesmente por não sermos radicais e
discordarmos das suas ideias morais, políticas e sectárias, jamais lhe negámos
faculdades de trabalho que melhor orientadas com o tempo e a experiência dos
homens e das coisas, poderiam de futuro tornar-se mais proveitosas aos seus
concidadãos”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32574, 3 de novembro de 2021, p.15)
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