quinta-feira, 20 de julho de 2017

Fernando António Monteiro da Câmara Pereira


Fernando António Monteiro da Câmara Pereira

Tenho escrito alguns textos sobre a vida e a obra de algumas pessoas, desde as consideradas personalidades que se distinguiram dos demais através do seu contributo para a sociedade onde estavam inseridos até às que consideradas pessoas comuns, também, deram o seu imprescindível e insubstituível contributo para uma Terra mais humana.
Sempre que pretendo escrever algo sobre açorianos recorro, em primeiro lugar, à Enciclopédia Açoriana. Mas, infelizmente, muitas das minhas pesquisas lá efetuadas não são bem-sucedidas, pois a mesma apresenta omissões inadmissíveis, como é o caso de nela não figurar um conjunto de personalidades que, quer se goste ou não do seu posicionamento político-partidário ou das ideologias que defenderam, foram figuras que se destacaram entre os seus contemporâneos.
Espero não ter sido inábil na pesquisa que efetuei sobre o engenheiro agrónomo Fernando António Monteiro da Câmara Pereira, pessoa que conheci muito bem, já que o mesmo era frequentador assíduo da casa de um familiar ligado ao Partido Socialista.
Embora sem qualquer ligação partidária, também colaborei com ele pontualmente numa sua iniciativa destinada a autarcas socialistas da Ribeira Grande, onde apresentei, em conjunto com outro membro dos Amigos dos Açores uma comunicação sobre autarquias e ambiente.
O Eng.º Fernando Monteiro, natural de Vila do Porto, onde nasceu a 24 de setembro de 1935, foi um político que se distinguiu pela sua dedicação às causas que abraçou, quer antes quer depois do 25 de abril de 1974. Licenciado em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, no ano de 1962, foi funcionário da Junta do Distrito Autónomo de Ponta Delgada e da Secretaria Regional do Comércio e Indústria, onde chegou a ser Adjunto.
Durante o Estado Novo foi Presidente da Comissão de Distrito da Ação Nacional Popular de Ponta Delgada, tendo apresentado a comunicação «Politização e participação da população na vida política» no único congresso daquela organização que se realizou, em Maio de 1973, em Tomar.
Foi também Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande e deputado na Assembleia Nacional, pelo Círculo de Ponta Delgada, tendo feito parte da Comissão de Política e Administração Geral e Local.
Na Assembleia Nacional, o Engº Fernando Monteiro teve uma participação ativa, com destaque para uma intervenção onde falou nas deficiências existentes nos transportes e comunicações nos Açores, para um requerimento sobre alguns aspetos do abastecimento de gás combustível nos Açores e outra intervenção onde abordou algumas carências da função pública.

Não vamos referir aqui todas as obras executadas pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, presidida pelo Eng. Fernando Monteiro, apenas registamos a sua preocupação com a educação que se traduziu na instalação, na Ribeira Grande, por sua iniciativa de uma Secção da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada.

O dinamismo que imprimiu à Câmara da Ribeira Grande e as suas qualidades pessoais, que se traduziam num bom relacionamento com os munícipes, fizeram com que houvesse resistência, ao contrário do que aconteceu noutros municípios, à sua substituição na presidência daquela autarquia, depois do 25 de Abril de 1974.

Para que o Engº Fernando Monteiro continuasse à frente da Câmara Municipal da Ribeira Grande foram recolhidas muitas assinaturas e realizou-se uma manifestação de apoio que contou com o apoio de parte da juventude. No folheto, assinado por um grupo de jovens, pode ler-se: “Ide todos, hoje Domingo 16 de junho, pelas 9 horas ao Largo Gaspar Frutuoso (Cascata) apoiar o nosso actual Presidente da Câmara, Eng. Fernando Monteiro que muito democraticamente tem representado os desejos do Povo Ribeiragrandense.”.

O Dr. Manuel Barbosa, conhecido opositor ao Estado Novo, classificou os apoiantes do Eng. Fernando Monteiro de “fascistas besuntados de democratas” e de “rapazelhos e marginais”. Mal sabia ele que entre os jovens que queriam a manutenção do Eng.º Fernando Monteiro no seu cargo estavam familiares seus.

Em breve, voltarei a escrever sobre este homem dinâmico, instruído e culto.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 19 de julho de 2017)

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