quinta-feira, 27 de julho de 2017

Sobre a Guerra Colonial


Sobre a Guerra Colonial

Hoje, sabe-se que, de 1961 a 1973, mais de 8000 jovens haviam desertado do exército para não irem combater para as colónias portuguesas e que na guerra colonial só entre os soldados brancos, os outros não contavam para o Estado Novo e continuam a não contar para a Democracia, houve 8 831 mortos e 20 000 feridos.

Na freguesia onde nasci, a Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, alguns jovens foram forçados a cumprir o serviço militar nas diversas colónias portuguesas, lembro-me de vários que estiveram na Guiné, de pelo menos dois que estiveram em Angola e de um que esteve em Timor.

Nas conversas que mantinha com os meus colegas e amigos de infância e juventude não falávamos de política porque nenhum de nós tinha conhecimentos para tal mas, sobretudo nos anos que antecederam o 25 de abril de 1974, à medida que a nossa idade ia avançando, a guerra colonial era um dos temas abordado.

Como não podia deixar de ser, falava-se muito do heroísmo dos soldados portugueses, das vitórias que iam conquistando, dos soldados ou oficiais que se distinguiam. Na altura, ninguém punha em causa a injustiça da guerra e todos achavam que era um dever de todos os portugueses combater para manter a pátria grandiosa, em suma para todos nós não ir para a tropa era uma traição à pátria e para traidor já bastava o Miguel de Vasconcelos.

Na altura, havia um facto que nos intrigava, se era um dever ir combater para o ultramar por que razão algumas pessoas conseguiram safar-se, pagando a outras para ir no seu lugar.

Mas, apesar da nossa idade, para além do amor à pátria que colocávamos em primeiro lugar, também manifestávamos receio pelo facto de um dia termos de ir para o ultramar e do que nos poderia acontecer. Assim, o que mais nos preocupava era ficarmos feridos ou mesmo morrermos como aconteceu com um filho do sr. Manuel “Luzia” que morou no Pico d’El Rei.

No que se refere aos mortos, o ano de 1969, foi um ano negro para duas famílias de Vila Franca do Campo. Com efeito, naquele ano João Natalino Vales, da freguesia de São Miguel, faleceu em Angola e no dia 24 de junho do mesmo ano morreu em combate João Manuel Simas Amaral, natural da freguesia de Água d’Alto.

Para além dos dois jovens referidos, no parágrafo anterior, não podemos esquecer os nomes de José Maria Furtado, José Jacinto Rodrigues, António dos Santos Pacheco, António da Mota Martins, Emanuel Aires Pacheco de Melo, José Madeiros Pacheco, João Manuel dos Santos e Mariano José Rebelo que, também, perderam a vida nas colónias portuguesas.

Só depois do 25 de abril de 1974 tomámos conhecimento do que realmente ocorreu em Portugal durante o Estado Novo e com muita ingenuidade acreditámos que com as independências das antigas colónias, seriam criados novos países onde reinaria a paz e sociedades mais livres e igualitárias.

Ao contrário do que prometiam e diziam, em vez de sociedades mais justas e democráticas, criaram regimes autoritários, onde a exploração do homem pelo homem e a miséria não desapareceram, continuando a sua população a ser uma das mais pobres do mundo. Assim, no caso de Angola, os dirigentes do MPLA que prometeram o socialismo, transformaram-se em capitalistas sem escrúpulos e organizaram purgas onde mataram muitos milhares dos seus antigos companheiros de armas e de ideais.

Os seus rivais da UNITA, dirigida pelo carismático Jonas Savimbi não ficaram atrás. Aquele dirigente, tão amigo de vários políticos portugueses, era um fervoroso adepto da “caça às bruxas”, como exemplifica a execução de Tito Chingunji, prestigiado dirigente daquele movimento, e de cerca de duas dezenas de familiares.

Continuo a não perceber a razão do apoio por parte do PCP a um partido, o MPLA, que mandou às urtigas o socialismo (não seria capitalismo de estado?) e promove o “capitalismo clientelista” e a razão do apoio dos partidos que em Portugal dizem defender uma democracia pluralista a um regime fortemente autoritário.

Teófilo Braga

26 de julho de 2017

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