domingo, 23 de julho de 2017

Salto do Cabrito



Trilhos com história (4)
Salto do Cabrito
Conhecemos, desde o início da década de 70 do século passado, vários trilhos pedestres com passagem ou tendo por ponto de referência o Salto do Cabrito, queda de água com cerca 38 metros, localizada no concelho da Ribeira Grande.

O primeiro roteiro do Salto do Cabrito foi por nós elaborado, em 1990, no decorrer do "Curso de Património Histórico-Artístico, Natural e Etnográfico para Professores do Ensino Básico e Secundário", da responsabilidade do Centro Nacional de Cultura, tendo a sua publicação ocorrido em 1993, por iniciativa dos Amigos dos Açores.

Visitado pelos Amigos dos Açores quase anualmente, por vezes servindo de alternativa em caso de mau tempo, no ano 2000, o percurso do Salto do Cabrito foi o primeiro a ter uma marcação, na sequência de uma ação de formação promovida pelos Amigos dos Açores, intitulada “Pedestrianismo e Percursos Pedestres”, e ministrada por um técnico da Federação Portuguesa de Campismo e Montanhismo.

Parte do trilho referido constitui o “Percurso da Energia”, iniciativa da Ecoteca da Ribeira Grande que visava promover a educação ambiental a nível local e sensibilizar para a utilização de fontes renováveis de energia. Com texto de Manuela Livro foram publicadas duas edições do roteiro “Percurso da Energia- Das Caldeiras da Ribeira Grande à Central da Fajã Redonda”.

O trilho oficial do Salto do Cabrito é muito idêntico ao proposto pelos Amigos dos Açores. Com efeito, tal como o daquela associação, é circular, possui uma extensão de 7,5 km e está classificado como fácil.

O trilho começa nas Caldeiras da Ribeira Grande local descrito por Silva Júnior, em 1932, do seguinte modo: "Caldeiras. Uma dúzia de casas dispersas entre o arvoredo. Um presépio a que nem mesmo falta o lago, aqui de água sulfúrea a fumegar".

Das Caldeiras, parte-se em direção às Lombadas até se chegar à “Zona dos Canos”, assim chamada devido à existência da conduta que leva a água que vem da barragem até à central do Salto do Cabrito.

Na zona envolvente à barragem, localizada a 300 m de altitude, com 15 metros de altura e pode represar cerca de 23 mil metros cúbicos de água, a vegetação é constituída, essencialmente, por acácias, criptomérias, plátanos e conteiras.

Na margem direita do lago, existiu a famosa Gruta das Lágrimas que foi descrita por, Joseph e Henry Bullar, que estiveram nos Açores em 1838 e 1939, do seguinte modo: "Do tecto da caverna, revestido de fetos e de musgo fino, caiam constantemente gotas de água pura e cristalina, como chuva, sobre fofo tapete de musgo, formando pequeno regato de cristal, que, descendo a encosta da montanha, se confunde com a ribeira Grande".

Depois da visita à barragem, regressa-se à Zona dos Canos e continua-se a caminhar para norte até encontrar o portão que dá acesso à Central da Fajã do Redondo. Depois de passar pelo mesmo, caminha-se até àquela Central que entrou em funcionamento em 1927 e que hoje está desativada. Esta Central que foi conhecida por “Luz Nova do Cordeiro” possuía uma potência instalada de 808 kW e chegou a ter uma produção média anual de 1870 MWh.

Depois de se atravessar a ribeira continua-se a caminhar em direção ao norte, através de um passadiço que nos leva até ao Salto do Cabrito e à Luz Velha do Cordeiro. Esta, a Central do Salto do Cabrito, é a segunda central hidrelétrica construída em São Miguel e uma das mais antigas de Portugal.

A central do Salto do Cabrito entrou em serviço em Setembro de 1902, aproveitando os 38 metros de queda do salto com o mesmo nome e o caudal médio de 340 l/s da ribeira Grande. Depois de ter sido posta fora de serviço em Dezembro de 1972, foi remodelada e voltou a funcionar em Julho de 2006.

Vale a pena ir para o meio da ribeira e apreciar o imponente Salto do Cabrito. Aqui, incensos, acácias, algumas figueiras, eugénias constituem a vegetação predominante. É muito comum observar-se junto à cascata, entre outras aves, alvéolas.

Embora o percurso seja circular, recomenda-se o regresso ao ponto de partida pelo mesmo caminho.
Teófilo Braga

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