segunda-feira, 3 de julho de 2017

A propósito de um poema de Victor Cruz (Pai)


A propósito de um poema de Victor Cruz (Pai)

No dia 3 de fevereiro de 1972, o jornal Correio dos Açores publicou um poema de Victor Cruz (Pai) intitulado “Angra, a divina – Na “linha” da fraternidade” que, pelo seu interesse e atualidade, pelo menos no que diz respeito a touros e touradas, a seguir transcrevemos:
Siga a locomotiva a resfolgar,
Nunca faltará lenha p’ra caldeira,
Num mais que justo anseio de empurra,
Todas as regalias p’ra Terceira!

Nixom e Pompidou ao aterrar,
Projectam Angra à cúpula cimeira!...
Nobre e sempre leal, vai comandar
As outras Ilhas, à sua maneira …

Todas lhe pagarão o tributo
(Se os valores que alegam, não são lérias)
San Miguel dará leite e criptomérias …

Angra, em coche real, fuma charuto!
E p’ra cumulo de tantas regalias:
Tourada vai haver todos os dias!...

O crescimento do número de touradas nos últimos anos confirma a previsão de Victor Cruz. Com efeito, no início do século passado o número de touradas era muito menor do que o atual como se pode ler no seguinte extrato publicado no jornal “Primeiro de Maio”, do dia 6 de setembro de 1902: “No meu tempo, eram consideradas clássicas três touradas: São João de Deus, Serreta e Terra Chã. Depois a pretexto d’isto e daquilo, anunciava-se uma tourada à corda; mais tarde a política tanto esticou a corda, que esta trouxe o bravo até ao centro da cidade.”

Sobre a ligação das touradas às festividades religiosas, que nem sempre existiu, o mesmo autor escreveu: “…Depois veio a festa da Senhora de Lourdes, nos Altares, …etc. etc. de modo a que cada Senhora arranjou a sua festa e o bom povo da localidade, como complemento e suplemento, a iluminação da véspera, a respetiva ladainha, e, na segunda-feira a competente tourada. E assim ficou subentendido que à festa religiosa se devia aliar …a dos touros, e o povo que pagava as primeiras, impôs-se, e as segundas vieram, como parte obrigatória, a despeito de muitos ralhos de algum prior refratário à inovação de se misturar o sagrado com o profano.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31209, 4 de julho de 2017, p.16)

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