domingo, 5 de maio de 2019

Gonçalo Ribeiro Teles: uma vida dedicada ao ambiente


Gonçalo Ribeiro Teles: uma vida dedicada ao ambiente

Esta semana, chegou-me às mãos um texto publicado no jornal “Público”, no passado dia 15 de abril, onde a autora dá a conhecer a decisão da reitoria da Universidade de Évora de não abrir novas vagas, devido à diminuição do número de candidatos, para a licenciatura em Arquitetura Paisagística no próximo o ano letivo.

O curso referido foi criado pelo engenheiro agrónomo e arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, uma referência nacional e internacional para os ambientalistas, que em abril de 2013 recebeu a mais importante distinção internacional no âmbito da arquitetura paisagista, o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe.

Político monárquico, logo depois do 25 de abril de 1974, fundou o Partido Popular Monárquico e, em 1985, o Movimento Partido da Terra. Antes da chamada Revolução dos Cravos, Ribeiro Telles, ao contrário da maioria dos monárquico,s foi um opositor ao regime de António Salazar e de Marcelo Caetano.

Com um trabalho notável na área do ambiente e do ordenamento do território, a ele se deve o projeto de vários jardins urbanos, de que destacamos o da Fundação Calouste Gulbenkian e o Amália Rodrigues. A ele, também, se deve a criação, entre outras, da Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica Nacional. Por tudo o que fez, é considerado um dos pioneiros da defesa do ambiente e um dos inspiradores do movimento ambientalista português.

Para quem quiser aprofundar o seu conhecimento sobre a vida e a obra de Gonçalo Ribeiro Telles recomendo a leitura de dois dos seus livros: Para Além da Revolução, de 1985, e a Árvore em Portugal, publicado em 1999.

Publicado pelas Edições Salamandra, Para Além da Revolução é um livro onde o autor procura demonstrar “que é possível integrar Portugal, como Pátria livre e independente, no mundo diferente que se avizinha a passos largos” e pretende “contribuir para refazer a esperança, ciente de que esta deverá resultar mais do esforço coletivo e da responsabilidade de todos do que a acção isolada de cada um”.

No livro mencionado, é questionado o crescimento económico a todo o custo. Segundo Gonçalo Ribeiro Telles “o crescimento tem sido desequilibrado, uma vez que se têm apenas verificado em determinadas regiões, enquanto que outras se encontram sujeitas a uma exploração que conduz ao subdesenvolvimento e à fome” e acrescenta que as maiores inquietações se devem à “anarquia com que se processam os envenenamentos em cadeia ou a sistemática exploração das regiões subdesenvolvidas pela sociedade industrializada dos países ricos”.

Numa altura em que quase diariamente são cometidos atentados contra as árvores, o segundo livro A Árvore em Portugal, que tem como coautor Francisco Caldeira Cabral, por estar esgotado, deveria ser reeditado e de leitura obrigatória para autarcas, governantes e demais responsáveis por serviços públicos.

No prefácio à segunda edição, Ribeiro Telles lamenta não ter obtido os resultados desejados com a primeira edição, apesar do livro ter sido distribuído por todas as autarquias, “porque se continuaram a verificar plantações mal conformadas, impróprias para poderem resistir ao artificialismo do meio urbano e a efectuarem-se, sistematicamente, podas brutais tanto em muitas câmaras, como em instalações de outros serviços oficiais”.

Ribeiro Telles, no seu livro, refere que prefere “a árvore com a sua forma natural” e no que diz respeito às árvores de ornamento ou florestais acrescenta que “a poda não é uma operação cultural normal”.

Por último, em relação à escolha desadequada de plantas, no livro pode ler-se o seguinte: “Se não há espaço para a árvore é preferível plantar só o arbusto, ou mesmo só a flor e não contar depois com a tesoura para manter com proporções de criança o gigante que se escolheu impensadamente”.

Teófilo Braga
Correio dos Açores,31816,1 de maio, p.16)

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