sexta-feira, 31 de maio de 2019

PICO DAS CAMARINHAS E PONTA DA FERRARIA


PICO DAS CAMARINHAS E PONTA DA FERRARIA


Em Outubro de 1998, a Associação “Amigos dos Açores” elaborou e remeteu à Direcção Regional do Ambiente uma proposta para classificação do Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria como Área Protegida. Passados quase seis anos, foi com satisfação que tomámos conhecimento que se encontra em discussão pública um projecto de Decreto Legislativo Regional que irá classificar aqueles locais como Monumento Natural.
O Pico das Camarinhas é um cone de escórias basálticas, localizado no extremo Oeste de São Miguel, sendo assim designado, segundo Gaspar Frutuoso (séc. XVI), nas Saudades da Terra, por “ter árvores desta fruta no seu cume”. Alguns séculos antes da descoberta dos Açores, por volta de 1140, o Pico das Camarinhas terá entrado em erupção, tendo a escoada lávica emitida fluido para Oeste, originando o delta lávico da Ponta da Ferraria.
Localizado junto ao caminho que liga os Balneários à nascente termal, pode-se encontrar um pequeno cone com uma cratera circular no seu topo que é designado por cone litoral ou pseudocratera. Aquele cone não possui uma conduta de alimentação profunda e ter-se-á formado na sequência de pequenas explosões resultantes do contacto da base da escoada lávica com a água do mar.
Para além do atrás mencionado, a região do Pico das Camarinhas e da Ponta da Ferraria apresenta outro aspecto de interesse geológico: a presença de rochas granulares ricas em olivina e piroxena, formadas em profundidade e trazidas à superfície no decurso de episódios vulcânicos posteriores.
No que diz respeito à nascente termal, em 1964, o Dr. Carlos Pavão de Medeiros, num artigo da revista Insulana a ela se refere do seguinte modo: “O seu caudal é abundante sendo a temperatura de 62,5º; mineralização de 20,9584 gramas por litro com teor de cloreto de sódio de 16,982 por litro. É uma água muito alcalina, cloretada, sulfatada, bicarbonatada, sódica, cálcica e magnésica”. De acordo com o mesmo autor, as águas da Ferraria eram utilizadas principalmente para o tratamento de reumatismos e nevrites.
Em termos florísticos, no Pico das Camarinhas existe uma das últimas formações de Myrica faya - Erica azorica existente na ilha e mesmo nos Açores e na fajã regista-se a presença de endemismos, como o bracel (Festuca petraea), planta outrora usada pelos caiadores para fabrico dos pincéis.
São várias as espécies de aves presentes no Pico das Camarinhas e na Ferraria. Entre elas destacamos o melro-negro (Turdus merula azorensis), a toutinegra (Sylvia atricapila), o canário-da-terra (Serinus canaria) e o tentilhão (Fringilla coelebs moreleti). Além das aves, merecem destaque alguns insectos endémicos associados à urze e à faia (Myrica faya), nomeadamente Ascotis fortunata azorica, Cyclophora azorensis, Argyresthia atlanticella e Cixius insularis.
A preservação ambiental do Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria em conjunto com a sua utilização racional para fins recreativos e turísticos, enquadrada pelo Farol da Ferraria e pelo Miradouro do Escalvado, poderá contribuir para a conservação da paisagem desta zona da ilha e para o desenvolvimento económico das freguesias limítrofes.

Teófilo Braga

(Terra Nostra, nº 233, 30 de abril de 2004)

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