quarta-feira, 15 de maio de 2019

José de Almeida Fernandes, pioneiro da Educação Ambiental


José de Almeida Fernandes, pioneiro da Educação Ambiental

Com 87 anos de idade, faleceu no passado dia 29 de abril um dos homens mais influentes em Portugal no que diz respeito à conservação da natureza e à educação ambiental, o biólogo José de Almeida Fernandes.

Figura (quase) desconhecida, mesmo por aqueles que promovem ou dinamizam ações ditas de educação ambiental no nosso arquipélago, José de Almeida Fernandes é recordado por mim em todas as ações de formação dinamizadas no âmbito da formação contínua de professores.

Este texto é o meu modesto contributo para que a sua obra não caia no esquecimento e a minha homenagem ao homem que dedicou a sua vida, quer em instituições públicas quer a nível associativo, à defesa do ambiente.

No que diz respeito ao associativismo, José de Almeida Fernandes foi durante três décadas dirigente da Liga para a Proteção da Natureza, a mais antiga organização de conservação da natureza da Península Ibérica, fundada em 1948 na sequência de um apelo do poeta Sebastião da Gama por ocasião da destruição da mata do Solitário, na Arrábida.

José de Almeida Fernandes, ainda durante o Estado Novo, desempenhou um papel importante na Comissão Nacional do Ambiente, criada a 19 de junho de 1971. Depois do 25 de abril de 1974, nomeadamente a partir de 1975, o seu trabalho prosseguiu e intensificou-se tendo representado o país em diversas organizações internacionais, presidiu ao Instituto de Conservação da Natureza e mais tarde ao IPAMB-Instituto de Promoção Ambiental, criado por ele em 1993 com o objetivo de promover ações no domínio da formação e informação dos cidadãos e apoiar as associações de defesa do ambiente.

José de Almeida Fernandes deixou-nos, entre outros, mais de 30 artigos científicos, um
trabalho sobre a sua paixão, a Arrábida, intitulado “A Serra da Arrábida: o seu interesse botânico perante o turismo”, publicado, em 1954, no Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciências Sociais e o livro, publicado em 2002, intitulado “Do Ambiente Propriamente Dito - Considerações pouco canónicas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento Humano”.

Denominando-se como ambientalista cético, mas não pessimista nem cínico, José de Almeida Fernandes no seu livro aborda temas como o lugar do homem na natureza, os recursos e a capacidade de carga da Terra, a conservação da natureza e as áreas protegidas, as crianças e o ambiente, a guerra como fenómeno ecológico e a educação ambiental.

José de Almeida Fernandes não foi nada meigo, diria que foi justo, quando criticou os que dizem uma coisa e fazem outra, os que não sabem o que dizem e os que usam determinadas palavras para, apenas, embelezar discursos.

Sobre o assunto escreveu que o “discurso do nosso tempo é, na realidade, um encadeamento mais ou menos lógico de palavras ditas e escritas para ocultar a lógica do discurso da vida” e acrescentou o seguinte: “A “muleta” ambiente é hoje indispensável à solidez” do discurso político, seja ele do poder ou do contra-poder. Com tal usura perdeu a força que devia ter dominada que foi pelo joio dos interesses, da mentira, da pseudopreocupação pela “gestão solidária” dos bens da terra”.

Ele que foi o grande impulsionador da educação ambiental no país, também denunciou os que usam e abusam da palavra educação para esconder a sua incapacidade para contribuir para melhorar a sociedade em que vivem.

A propósito da educação escreveu:

“Funciona como uma panaceia universal, que resolverá as asneiras que teimamos em cometer, ou que, como poeira nos olhos, perpetuará o poder, castrando conscientemente o Homem que existe dentro de todos nós”.

“Arma eleita pelo sistema, garante a reprodução do que interessa e o desprezo pela inovação que não seja “conveniente”. É, pois, urgente mondar a Educação, antes que o homem vá também acompanhar o joio na lâmina da gadanha da “ceifeira”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31828, 16 de maio de 2019, p. 8)

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