Em
defesa das plantas exige-se mais ação e formação
No
passado nês de julho visitámos vários espaços verdes, nomeadamente os dois
jardins de Vila Franca do Campo e várias ruas de Ponta Delgada, bem como, nesta
cidade, o Parque Urbano, os Jardins Antero de Quental, Padre Sena Freitas e
António Borges.
Nas
visitas, impressionou-nos a riqueza em termos de número de espécies diferentes
existentes não só nos jardins públicos, mas também nos pequenos jardins localizados
em frente a algumas moradias.
Durante
estas visitas, fomos interpelados por alguns transeuntes e por moradores que
nos faziam várias questões e apresentavam algumas queixas.
No
que diz respeito às queixas, na sua maioria estavam relacionadas com a afixação
de uma numeração com pregos nos plátanos da Avenida Gaspar Frutuoso ou as podas
exageradas na rua Antero de Quental, devido à escolha desadequada das espécies
para o espaço disponível.
Um
morador queixou-se do corte do tronco das plantas pelas roçadoras que terá levado
à morte de muitas delas, situação que também observamos no Jardim Antero de
Quental e no Parque Urbano. Segundo uma contagem que ele fez num ano foram mais
de 20 o número de árvores que morreram, o que poderia ter sido evitado se à
volta delas fosse feita uma caldeira e se não fosse esquecida a formação a quem
faz os trabalhos de manutenção dos vários espaços.
Mas
se houve quem se mostrou preocupado com o desrespeito pelas plantas e que manifestou
curiosidade por saber que espécies estavam nas suas casas, também houve um caso
em que uma pessoa se mostrou muito indignada por termos tirado uma fotografia a
um arbusto.
Mesmo
depois da explicação de que a fotografia, tirada da rua, era apenas da planta,
não nos interessando o resto, a pessoa em questão não arredava pé, dizendo que
a planta era dela e que não queria que tirassem fotografias ao que lhe
pertencia. Primeiro ainda pensámos que poderia ser por uma questão de
privacidade, mas sabendo que imagens de todas as casas estão escarrapachadas na
internet (no Google Street View) com o desenrolar da conversa chegámos à
conclusão de que o que estava em questão não era a privacidade, mas sim o ódio
a todos os que em regime de voluntariado se dedicam a uma causa, pois ouvimos o
seguinte: “são os defensores da ecologia, têm a mania que são os donos do mundo”.
No
que diz respeito aos nossos políticos, infelizmente não temos razões para
estarmos satisfeitos. Com efeito, não utilizam a autonomia que a Região tem
para criar e aplicar legislação que proteja as plantas e quando o fizerem será
a reboque do que é feito a nível nacional.
Oito anos depois de ter sido aprovada, a nível nacional, legislação
que protege todos os exemplares e conjuntos arbóreos que pelo seu porte,
raridade ou história carecem de cuidados redobrados de conservação e depois de ter sido recebida, em 2019, positivamente, pela
ALRA, uma petição nesse sentido, até hoje, nada terá sido feito
Por
último, enquanto por cá estão entretidos com outros assuntos ou preocupados em
saber se continuarão nas listas de candidatos a deputados, no passado dia 3 de
julho, a Assembleia da República recomendou ao governo a criação de uma
estratégia nacional para o fomento do arvoredo urbano que tenha como fim “a
preservação e alargamento de corredores e espaços verdes, articulados com as
infraestruturas verdes e as estruturas ecológicas urbanas e não urbanas, em
alinhamento com estratégias e planos de conservação e preservação, na
prossecução de metas e objetivos ambientais.”
A
Assembleia da República recomendou ainda que na referida estratégia, seja
integrado “um manual de boas práticas na gestão do arvoredo em meio urbano,
contendo regras adequadas aos objetivos a prosseguir” que inclua “Requisitos
funcionais, operacionais, ambientais e paisagísticos para as intervenções de plantio,
poda, limpeza e manutenção, abate e transplante de árvores em meio urbano e nos
espaços públicos “ e “informação sobre espécies autóctones mais adaptadas a
cada espaço urbano.”
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32205, 12 de agosto de 2020, p.14)
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