quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Em defesa das plantas exige-se mais ação e formação

 

Em defesa das plantas exige-se mais ação e formação

 

No passado nês de julho visitámos vários espaços verdes, nomeadamente os dois jardins de Vila Franca do Campo e várias ruas de Ponta Delgada, bem como, nesta cidade, o Parque Urbano, os Jardins Antero de Quental, Padre Sena Freitas e António Borges.

 

Nas visitas, impressionou-nos a riqueza em termos de número de espécies diferentes existentes não só nos jardins públicos, mas também nos pequenos jardins localizados em frente a algumas moradias.

 

Durante estas visitas, fomos interpelados por alguns transeuntes e por moradores que nos faziam várias questões e apresentavam algumas queixas.

 

No que diz respeito às queixas, na sua maioria estavam relacionadas com a afixação de uma numeração com pregos nos plátanos da Avenida Gaspar Frutuoso ou as podas exageradas na rua Antero de Quental, devido à escolha desadequada das espécies para o espaço disponível.

 

Um morador queixou-se do corte do tronco das plantas pelas roçadoras que terá levado à morte de muitas delas, situação que também observamos no Jardim Antero de Quental e no Parque Urbano. Segundo uma contagem que ele fez num ano foram mais de 20 o número de árvores que morreram, o que poderia ter sido evitado se à volta delas fosse feita uma caldeira e se não fosse esquecida a formação a quem faz os trabalhos de manutenção dos vários espaços.

 

Mas se houve quem se mostrou preocupado com o desrespeito pelas plantas e que manifestou curiosidade por saber que espécies estavam nas suas casas, também houve um caso em que uma pessoa se mostrou muito indignada por termos tirado uma fotografia a um arbusto.

 

Mesmo depois da explicação de que a fotografia, tirada da rua, era apenas da planta, não nos interessando o resto, a pessoa em questão não arredava pé, dizendo que a planta era dela e que não queria que tirassem fotografias ao que lhe pertencia. Primeiro ainda pensámos que poderia ser por uma questão de privacidade, mas sabendo que imagens de todas as casas estão escarrapachadas na internet (no Google Street View) com o desenrolar da conversa chegámos à conclusão de que o que estava em questão não era a privacidade, mas sim o ódio a todos os que em regime de voluntariado se dedicam a uma causa, pois ouvimos o seguinte: “são os defensores da ecologia, têm a mania que são os donos do mundo”.

 

No que diz respeito aos nossos políticos, infelizmente não temos razões para estarmos satisfeitos. Com efeito, não utilizam a autonomia que a Região tem para criar e aplicar legislação que proteja as plantas e quando o fizerem será a reboque do que é feito a nível nacional.

 

Oito anos depois de ter sido aprovada, a nível nacional, legislação que protege todos os exemplares e conjuntos arbóreos que pelo seu porte, raridade ou história carecem de cuidados redobrados de conservação e depois de ter sido recebida, em 2019, positivamente, pela ALRA, uma petição nesse sentido, até hoje, nada terá sido feito

 

Por último, enquanto por cá estão entretidos com outros assuntos ou preocupados em saber se continuarão nas listas de candidatos a deputados, no passado dia 3 de julho, a Assembleia da República recomendou ao governo a criação de uma estratégia nacional para o fomento do arvoredo urbano que tenha como fim “a preservação e alargamento de corredores e espaços verdes, articulados com as infraestruturas verdes e as estruturas ecológicas urbanas e não urbanas, em alinhamento com estratégias e planos de conservação e preservação, na prossecução de metas e objetivos ambientais.”

 

A Assembleia da República recomendou ainda que na referida estratégia, seja integrado “um manual de boas práticas na gestão do arvoredo em meio urbano, contendo regras adequadas aos objetivos a prosseguir” que inclua “Requisitos funcionais, operacionais, ambientais e paisagísticos para as intervenções de plantio, poda, limpeza e manutenção, abate e transplante de árvores em meio urbano e nos espaços públicos “ e “informação sobre espécies autóctones mais adaptadas a cada espaço urbano.”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32205, 12 de agosto de 2020, p.14)

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