O Dr.
Botelho e a medicina para todos
Ao longo da sua vida de médico o Dr. José
Pereira Botelho no exercício da sua profissão esteve ao serviço de todos, quer
fossem pobres, quer fossem ricos, tendo discriminado positivamente quem não
podia pagar.
O Dr. José Pereira Botelho, ao chegar a
São Miguel, depois de concluir o curso em Paris, em 1840, e de ter obtido o
diploma de aprovação na “Eschola Médico-Cirúrgica de Lisboa”, no mesmo ano, ao
fim de pouco tempo, no dizer do Dr. António Augusto Riley da Mota, alcançou “a
melhor clientela da Cidade”. Segundo a mesma fonte, “era o médico da moda,
fresco de Paris!” que possuía “clientes que o adoravam. Daqui e de fora da
Ilha!”.
Entre os seus pacientes de São Miguel, O
Dr. Riley da Mota, cita os seguintes: “morgado Barbosa, Ve. de Faria e Maia,
Barão de Nossa Senhora da Oliveira, Dr. Caetano de Andrade Albuquerque, António
do Canto Brum, etc.”. Dos de fora da ilha o mesmo autor destaca os seguintes: “Francisco
Gomes de Amorim, o conhecido biógrafo de Garrett, que viera experimentar (aliás
sem resultado) as águas termais das Furnas; António Augusto Coelho de
Magalhães, irmão de José Estevam; Conselheiro F.J. da Costa Lobo, par do reino,
do contracto do tabaco; Visconde da Luz, etc..”
O poeta Gomes de Amorim que, depois de ter
estado nas Furnas, foi acolhido pelo dr. Botelho em sua casa, onde foi muito
bem tratado, sobre o Dr. Botelho escreveu o seguinte: “…um médico, ilustre pelo
saber e grande pelo coração, que pratica a virtude com simplicidade antiga e
que professa a medicina por amor do género humano” e acrescentou: “aquele bom
doutor…dá aos pobres metade do que recebe dos ricos”. O dr. Riley da Mota,
acrescenta que “para o fim da vida, mas ainda muito válido, não exercia
clínica, mas atendia os velhos amigos e os pobres, de graça.”
Francisco Maria Supico, no Almanaque para
1886, escreveu uma pequena biografia do Dr. Botelho onde corrobora o acima
escrito nos seguintes termos:
“A
pobreza escrevia-lhe o nome com lágrimas de gratidão. Era para ela mais do que
médico cuidadoso e desvelado: era seu protetor assíduo e sempre generoso. Onde
a miséria punha a ausência de todo o conforto, punha a Providência,
personalizada no sr. Dr. Botelho, os sorrisos do conchego, as alvoradas da
esperança e as alegrias da saúde restabelecida.
E
quando para isso lhe não bastavam os recursos próprios, esmolava-os por tal
arte, que sempre lhe ficavam cativos os corações daqueles que associava a esta
santa missão de bem-fazer.”
O Dr. Botelho foi médico municipal, tendo
estado envolvido no combate a epidemias em várias localidades, tendo inclusive
se oferecido para tratar os doentes.
Não foram apenas as pessoas ou as famílias
desfavorecidas que beneficiaram dos seus préstimos, as instituições beneficentes
também puderam contar com ele. Assim, a título de exemplo, em 1856/7, registo a
sua dedicação às crianças do Asilo da Infância Desvalida, instituição que
atacadas durante muito tempo por uma “moléstia cutânea” foram socorridas
gratuitamente pelo Dr. Botelho.
Ao Asilo da Infância Desvalida, que
estiveram associados, entre outros José do Canto e sua irmã Maria Teresa do
Canto, o Dr. Botelho também dedicou parte do seu tempo, pois foi membro da sua
direção, na companhia de Eusébio Poças Falcão, Ernesto do Canto, Vicente Borges
de Sousa e César Augusto Ferreira Cabido (padre).
Apesar de ter um currículo exemplar, as
tricas partidárias de então, que parece serem como as de hoje, impediram com
que, em 1846, a sua candidatura a médico na Estação de Saúde do Porto de Ponta
Delgada fosse aceite. Sobre o assunto, Francisco Maria Supico escreveu o
seguinte:
“O
ilustre médico não foi despachado. Costa Cabral reassumira o poder como chefe
do governo, e proposto o proponente não lhe mereciam confiança política.
O
pundonoroso e abalizado médico nunca mais requereu nem exerceu cargo público
remunerado.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32211, 19 de
agosto de 2020, p.8)
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