Santos
Barros para além da poesia
José Henrique Santos Barros (1946-1983)
foi um poeta açoriano, natural de Angra do Heroísmo, que não cheguei a
conhecer, pois só cheguei à Terceira para exercer a minha profissão de
professor em outubro de 1980 e o mesmo já havia sido forçado a sair da sua
terra em 1975.
A propósito da sua saída dos Açores,
primeiro para Lisboa e depois para Grândola, António Brandão Moniz, num texto
intitulado “Santos Barros: poeta da minoria”, publicado na revista “A Ideia”,
nº 30 e 31 de outubro de 1983, escreveu: “sofreu a guerra colonial, o miopismo
político e extremista do separatismo e o «cortejo de misérias que são inerentes
às do intelectual cada vez mais mecanizável mesmo quando simula o contrário»”.
Estava ainda a trabalhar na Escola
Secundária de Angra do Heroísmo quando tomei conhecimento do seu falecimento em
Espanha vítima, tal como sua mulher Ivone Chinita, de um acidente de viação, no
dia 20 de maio de 1983.
Sobre a sua vida profissional e a sua
atividade política pouco tem sido escrito. Num texto de João de Melo publicado
na Enciclopédia Açoriana apenas se fica a saber que, depois de concluir o
ensino secundário, foi funcionário público e que “animou
cooperativas, sindicatos, rádios e jornais”.
Militante do MES – Movimento da Esquerda Socialista,
José Henrique Santos Barros esteve presente no primeiro comício
nacional daquele partido realizado, a 21 de agosto de 1974, no Clube Atlético
de Campo de Ourique, onde falou dos problemas do povo açoriano.
De acordo com uma curta notícia publicada no Diário
Insular de 25 de agosto de 1974, Santos Barros, depois de enumerar as múltiplas
facetas de exploração de que têm sido vítimas, salientou que os açorianos foram
uma das maiores reservas da guerra colonial” e defendeu “o fim imediato da
concessão de bases aos Estados Unidos, França e NATO, frisando a propósito: “A
burguesia tem influenciado no povo a ideia de que as Lajes estão ali para nosso
bem e para “defesa do mundo”, para afastar o que chamam “perigo comunista…”
No chamado PREC esteve ligado ao jornal “O
Trabalhador” que se publicou em Angra do Heroísmo em 1974 e 1975. Aquele órgão
de informação “do povo para o povo” pretendeu ser “um jornal de trabalhadores
açorianos ao serviço da sua libertação, pois que só os trabalhadores libertarão
os trabalhadores”.
Tal como as sedes do PCP, do MDP/CDE e do MES, no dia
17 de agosto de 1975, a sede do jornal “O Trabalhador” foi assaltada por
“lavradores” que destruíram todo o seu recheio e atiraram para a rua (Rua de
São João) mobiliário, documentação e arquivos. No mesmo dia, em reunião de
“lavradores” foi exigida a transferência dos padres, ligados àquele jornal,
Avelino Soares, Olegário Paz, Manuel António e António Moniz “por estarem a
fomentar o ódio no seio da comunidade católica desta terra”.
A leitura da revista “Memória da água-viva” de que foi
diretor mostra-nos um Santos Barros interessado em conhecer a história dos
Açores para a partir dela tirar lições para o presente.
No número zero da revista, de março de 1978, da
responsabilidade de Santos Barros há a divulgação de uma carta do
Capitão-General das ilhas dos Açores e Barão da Vila da Praia ao Bispo de
Angra, D. Fr, Manuel de Almeida, onde se nota uma semelhança entre as atitudes
da igreja em épocas diferentes, a da revolução liberal e da “revolução” dos
cravos.
Outro texto de Santos Barros que merece ser lido
intitula-se “As ideias autonomistas nos Açores segundo Faria e Maia”. Antes de se se referir à obra mencionada, Santos
Barros considera que “levantada ao sabor dos ventos políticos, usada como
estratégia de pressão ou integrada abstratamente nas campanhas eleitorais , a
autonomia breve descambou em separatismo…”e acrescenta que “o uso e abuso
autonómico, reduzido ao simplismo da sua ambiguidade… não tem permitido a
apreensão do fenómeno, o seu correto equacionamento em termos históricos e
políticos”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32217, 26 de agosto de 2020, p.9)
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