NICOLAU
RAPOSO DO AMARAL (PAI) E OS CANÁRIOS
O
canário (Serinus canaria) é uma espécie endémica da Macaronésia, estando
presente nos arquipélagos das Canárias, dos Açores e da Madeira. Há populações
de canários noutros locais do mundo, como Bermudas, Havai e Brasil, que terão
resultado de introduções a partir de um dos três arquipélagos mencionados.
De
acordo com a médica-veterinária Valentina Vecchi, depois da ocupação das
Canárias pelos espanhóis, em 1478, os mesmos aperceberam-se da possibilidade da
criação de canários em cativeiro, tendo sido os monges quem o fez primeiro com
sucesso.
Segundo
a mesma autora, para evitar que qualquer pessoa pudesse fazer negócio com a
comercialização dos canários criados em cativeiro, os espanhóis apenas vendiam
os machos até que “quando um navio carregado de
canários naufragou, em 1662, e os tripulantes soltaram os pássaros que se
espalharam por toda a Europa, encerrando assim o monopólio espanhol e dando início
a mutações da espécie, como o Canela, e o Roller.”
Ave
facilmente identificável, mesmo por não especialistas, o canário, também
conhecido por canário-da-terra, segundo Rui Martins, Armindo Rodrigues e Regina
Cunha, no seu livro Aves Nativos dos Açores, possui as seguintes
características:
São
aves de pequeno porte com cerca de 12,5 cm de comprimento, possuindo um bico
curto e cónico.
Relativamente
à plumagem pode observar-se um dimorfismo sexual bem marcado. A fêmea apresenta
uma plumagem de tonalidade mais acastanhada do que o macho, distinguindo-se
este último pela coloração amarelo-vivo da superfície ventral. Ainda no que diz
respeito à plumagem, quer os machos quer as fêmeas temos bordos das penas das
asas de cor acinzentada. A cauda é cinzento-acastanhada e de comprimento
médio.”
Alimentando-se
de sementes diversas e de cereais, no passado os canários eram grandes inimigos
dos cultivadores de trigo que empregavam alguma mão de obra, sobretudo rapazes
que irem para os terrenos, segundo se dizia, vigiar a praga.
De
acordo com Carlos Pereira e Cecília Melo, em texto publicado no “Guia da Fauna
Terrestre dos Açores”, o canário “a par do tentilhão é a ave mais abundante do
arquipélago, podendo ser observada desde o nível do mar até às cotas mais altas
da Montanha do Pico.”
Nicolau
Maria Raposo do Amaral (1737-1816) poderá ter sido um dos que contribui para a
expansão dos canários para outras paragens. Com efeito enviou por diversas
vezes canários para o Brasil.
Abaixo,
faz-se o registo do resumo das cartas datilografadas pelo Eng.º José Maria
Álvares Cabral, a partir de uma cópia que me foi disponibilizada pelo seu neto
Rui Álvares Cabral.
Numa
carta dirigida a José Vaz Salgado, datada de 6 de junho de 1788, Nicolau Amaral
escreveu o seguinte: “Vejo-me envergonhado com V.M. pelo que respeita à
encomenda dos canários que me pediu. Eles são tantos nesta Ilha, que fazem a
total ruína dos linhos, nem pode ser extinguir-se esta diabólica praga: mas
querendo pôr em execução a sua ordem não me foi possível achar um só alqueire
de milho miúdo de venda, sendo este o motivo porque lhos não remeto, ainda que
seria preciso sustentar dez mil canários para lhe chegarem dez vivos, que isto
vem a ser o que V.M. ignora.”
A
2 de agosto de 1789, em carta dirigida a José Vaz Salgado, fica-se a saber que
o mesmo enviará para o Brasil pavões e canários.
No
ano seguinte, em carta datada de 30 de julho de 1790, com o mesmo destinatário,
é feita referência ao envio de canários e pavões.
Em
data que não foi possível apurar, mas possivelmente entre de julho de 1790 e
setembro do mesmo ano, foram enviados 37 canários para José Vaz Salgado.
Por
último, segundo uma carta de 15 de setembro de 1792, Raposos do Amaral envia para
o mesmo destinatário 5 canários e respetivas fêmeas, cada um na sua gaiola.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 9 de fevereiro de 2022, 32654, p.
15)
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