quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

NICOLAU RAPOSO DO AMARAL (PAI) E OS CANÁRIOS





NICOLAU RAPOSO DO AMARAL (PAI) E OS CANÁRIOS

 

O canário (Serinus canaria) é uma espécie endémica da Macaronésia, estando presente nos arquipélagos das Canárias, dos Açores e da Madeira. Há populações de canários noutros locais do mundo, como Bermudas, Havai e Brasil, que terão resultado de introduções a partir de um dos três arquipélagos mencionados.

 

De acordo com a médica-veterinária Valentina Vecchi, depois da ocupação das Canárias pelos espanhóis, em 1478, os mesmos aperceberam-se da possibilidade da criação de canários em cativeiro, tendo sido os monges quem o fez primeiro com sucesso.

 

Segundo a mesma autora, para evitar que qualquer pessoa pudesse fazer negócio com a comercialização dos canários criados em cativeiro, os espanhóis apenas vendiam os machos até que “quando um navio carregado de canários naufragou, em 1662, e os tripulantes soltaram os pássaros que se espalharam por toda a Europa, encerrando assim o monopólio espanhol e dando início a mutações da espécie, como o Canela, e o Roller.”

 

Ave facilmente identificável, mesmo por não especialistas, o canário, também conhecido por canário-da-terra, segundo Rui Martins, Armindo Rodrigues e Regina Cunha, no seu livro Aves Nativos dos Açores, possui as seguintes características:

 

São aves de pequeno porte com cerca de 12,5 cm de comprimento, possuindo um bico curto e cónico.

Relativamente à plumagem pode observar-se um dimorfismo sexual bem marcado. A fêmea apresenta uma plumagem de tonalidade mais acastanhada do que o macho, distinguindo-se este último pela coloração amarelo-vivo da superfície ventral. Ainda no que diz respeito à plumagem, quer os machos quer as fêmeas temos bordos das penas das asas de cor acinzentada. A cauda é cinzento-acastanhada e de comprimento médio.”

 

Alimentando-se de sementes diversas e de cereais, no passado os canários eram grandes inimigos dos cultivadores de trigo que empregavam alguma mão de obra, sobretudo rapazes que irem para os terrenos, segundo se dizia, vigiar a praga.

 

De acordo com Carlos Pereira e Cecília Melo, em texto publicado no “Guia da Fauna Terrestre dos Açores”, o canário “a par do tentilhão é a ave mais abundante do arquipélago, podendo ser observada desde o nível do mar até às cotas mais altas da Montanha do Pico.”

 

Nicolau Maria Raposo do Amaral (1737-1816) poderá ter sido um dos que contribui para a expansão dos canários para outras paragens. Com efeito enviou por diversas vezes canários para o Brasil.

 

Abaixo, faz-se o registo do resumo das cartas datilografadas pelo Eng.º José Maria Álvares Cabral, a partir de uma cópia que me foi disponibilizada pelo seu neto Rui Álvares Cabral.

 

Numa carta dirigida a José Vaz Salgado, datada de 6 de junho de 1788, Nicolau Amaral escreveu o seguinte: “Vejo-me envergonhado com V.M. pelo que respeita à encomenda dos canários que me pediu. Eles são tantos nesta Ilha, que fazem a total ruína dos linhos, nem pode ser extinguir-se esta diabólica praga: mas querendo pôr em execução a sua ordem não me foi possível achar um só alqueire de milho miúdo de venda, sendo este o motivo porque lhos não remeto, ainda que seria preciso sustentar dez mil canários para lhe chegarem dez vivos, que isto vem a ser o que V.M. ignora.”

 

A 2 de agosto de 1789, em carta dirigida a José Vaz Salgado, fica-se a saber que o mesmo enviará para o Brasil pavões e canários.

 

No ano seguinte, em carta datada de 30 de julho de 1790, com o mesmo destinatário, é feita referência ao envio de canários e pavões.

 

Em data que não foi possível apurar, mas possivelmente entre de julho de 1790 e setembro do mesmo ano, foram enviados 37 canários para José Vaz Salgado.

 

Por último, segundo uma carta de 15 de setembro de 1792, Raposos do Amaral envia para o mesmo destinatário 5 canários e respetivas fêmeas, cada um na sua gaiola.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 9 de fevereiro de 2022, 32654, p. 15)


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