quarta-feira, 20 de março de 2024

Vinhático


Vinhático

Para este número da “Voz Popular”, optei por escrever sobre uma das plantas existentes no Jardim da Casa do Povo do Pico da Pedra, o vinhático.

O vinhático ou vinhoto (Persea indica Sreng.) é uma espécie da família Lauraceae, endémica da Madeira e das Canárias, que se encontra naturalizada, nos Açores.

O vinhático é uma árvore de folha perenifólia que pode atingir 20 m de altura e que está em floração de junho a novembro. As folhas, de cor verde-claro, tornando-se avermelhadas ao envelhecer, são lanceoladas. As flores são pequenas e esbranquiçadas e os frutos, que são bagas ovóide-elipsóides, primeiro verdes e depois negras, são parecidos às azeitonas.

O vinhático que normalmente aparece entre os 200 m e os 500 m de altitude, para além de ser cultivado em jardins e parques, na natureza pode ser visto em florestas de faia-da-terra e incenso.

No passado, o vinhático, que terá sido introduzido devido à boa qualidade da sua madeira, foi considerado por alguns autores uma espécie endémica, possivelmente por se encontrar nos Açores há muitos anos, isto é, pelo menos há três séculos.

Em 1849, o jornal “O Agricultor Michaelense”, citado por Carreiro da Costa, em 1952, sobre a utilização do vinhático escreveu o seguinte:

“As plantações que até hoje se hão feito em S. Miguel, e essas mui extensas nos últimos anos, tem por fim a produção de madeira para as caixas em que se exporta a laranja: com esse intuito, as árvores preferidas são o Vinhático- Laurus indica [atualmente Persea indica] – o Pinheiro comum – Pinus marítima – e o Álamo…”

O médico-cirurgião Accurcio Garcia Ramos, num livro intitulado “Noticia do Arqhipelago dos Açores e do que há mais importante na sua História Natural”, editado em 1851, sobre o vinhático escreveu o seguinte: “Madeira que imita o acajú, e que é empregada pelos marceneiros e ebanistas.”

Por sua vez, Vieira, Moura e Silva, no livro “Flora Terrestre dos Açores”, editado pelas Letras Lavadas edições, em 2020, sobre o uso do vinhático escreveram o seguinte:

“…Exploração e indústria da madeira (a madeira do vinhático é conhecida como mogno da Madeira, e muito utilizada em marcenaria e caixotaria; a casca era usada na curtição de peles). Presentemente a sua importância em termos de produção florestal é relativamente reduzida, embora o seu potencial seja grande.”

Um inquérito florestal relativo aos anos de 1932-1933, realizado pela Direção dos Serviços Silvícolas de São Miguel, indica que nesta ilha a área (aproximada) calculada para o vinhático era de 1,11 hectares, o que correspondia a apenas 0,02% da área arborizada, o que podemos considerar quase insignificante.

A importância do vinhático como espécie ornamental é muito grande, por tal motivo a espécie também pode ser vista no Pinhal da Paz, no Jardim da Universidade dos Açores, no Jardim Botânico José do Canto, no Jardim dos Fundadores do Hospital da Maia e no Parque Maria das Mercês Carreiro, na Avenida da Paz, no Pico da Pedra.

Termino este texto, fazendo referência a uma espécie do mesmo género cujo cultivo tem vindo a crescer, nos últimos anos, em São Miguel, devido às propriedades nutritivas dos seus frutos, os abacates. Trata-se do abacateiro ou pereira-abacate (Persea americana) que é oriunda da América Central.

Pico da Pedra, 1 de março de 2024

Teófilo Braga

(Voz Popular, 207, março de 2024)

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