A propósito de uma exposição
sobre FRANCISCO De ARRUDA FURTADO
No passado dia 1 de
fevereiro, tive a oportunidade de visitar uma exposição temporária sobre a vida
e a obra de Francisco de Arruda Furtado que pode ser vista em Lisboa, no Museu
Nacional de História Natural e da Ciência, até ao próximo dia 2 de agosto.
Na exposição através
de cerca de uma centena de peças é dado a conhecer o trabalho científico do
açoriano autodidata, Francisco de Arruda Furtado, que foi, segundo a jornalista
do “Público”, Teresa Sofia Serafim, para “quem estudou o seu percurso … uma figura ímpar na ciência nacional e
até internacional do seu tempo.”
Francisco de Arruda Furtado nasceu a 17 de setembro de 1854, em Ponta
Delgada, e faleceu, muito novo, na Fajã de Baixo no dia 21 de junho de 1887,
curiosamente no dia em que iria ser admitido na Academia Real das Ciências. A
este propósito a “Persuasão” publicou, a 24 de dezembro de 1890, o seguinte:
“Arruda Furtado, o ilustre naturalista, que a morte nos roubou na flor da vida,
era eleito membro daquela alta corporação científica, no dia em que expirou em
Ponta Delgada”.
Arruda Furtado
começa a estudar no Liceu Nacional de Ponta Delgada, no ano letivo 1866/67 e
termina os seus estudos no ano letivo 1869/70. Nesta época já começa a
interessar-se pela observação e estudo da natureza.
Em data que se desconhece começa a trabalhar na Repartição da
Fazenda distrital de Ponta Delgada, tendo, em 1876, passado a ser escriturário
da Casa de José do Canto. No ano referido, começa a colaborar com o Dr. Carlos
Machado na constituição de um museu de história natural no Liceu de Ponta
Delgada.
Em 1881, publica “O Homem e o
Macaco (Uma questão puramente local)” que foi a
primeira publicação feita em Ponta Delgada de divulgação do evolucionismo. De
acordo com Conceição Tavares, o texto de Arruda Furtado “agressivo e
contundente” surgiu “como resposta às críticas ao darwinismo, lançadas em
alguns sermões pelo Padre Rogério, cónego da Sé de Angra do Heroísmo e a alguns
artigos publicados num jornal pelo padre Sena Freitas, como o autor referiu em
carta enviada a José do Canto.
O envio da publicação mencionada a José do Canto, que professava a
Religião Católica Apostólica Romana, fez com que este reagisse através de uma
carta que dirigiu, em 8 de abril de 1881, a Francisco Arruda Furtado, onde
afirma: “Por mim exerço os deveres da minha religião como a minha fragilidade o
permite, sem ostentação, nem alarde, mas sem vergonha, e nenhum acto meu, de
que tenha conhecimento, me pode desmentir”. Na mesma carta José do Canto mostra
o seu desagrado pelo facto de Arruda Furtado ter proclamado “a necessidade de
pôr um machado à raiz de todas as crenças primitivas” e acrescentou o seguinte:
“Por curiosidade literária, e desde muitos anos, tenho lido, superficialmente é
verdade por falta de sólido alicerce, Darwin, Haeckel, Broca, Topinard, e
outros, sem que a minha crença fosse abalada.”.
Depois de ter trabalhado durante mais de sete anos com José do
Canto, que duvidou da sua probidade, Arruda Furtado foi despedido, tendo em
1884, publicado o texto “A minha saída da casa do sr. José do Canto”. No seu
texto Arruda Furtado denuncia más condições de trabalho e defende a sua honra
pessoal.
Em 1884, publica o trabalho “Materiais para o estudo antropológico dos povos açorianos. Observações
sobre o povo micaelense”.
Em 1885, foi contratado para a secção zoológica do
Museu de Lisboa, com a incumbência de organizar as coleções malacológica e
conquiológica.
O leitor interessado, em conhecer melhor a vida e a
obra de Arruda Furtado, pode encontrar as suas publicações e outras sobre ele
na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, destacando-se o
livro “Correspondência científica de Francisco de Arruda Furtado”, sendo
responsável pela introdução, levantamento e estudo Luís M. Arruda. Em formato digital, recomendamos a página
“Arruda Furtado: Vida e Obra” (http://digital.museus.ul.pt/exhibits/show/arruda-furtado-vida-e-obra).
Teófilo Braga
(Correio dos Açores,
32066, 27 de fevereiro de 2020, p.17)
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