quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A PROPÓSITO DE UMA EXPOSIÇÃO SOBRE FRANCISCO DE ARRUDA FURTADO




A propósito de uma exposição sobre FRANCISCO De ARRUDA FURTADO

No passado dia 1 de fevereiro, tive a oportunidade de visitar uma exposição temporária sobre a vida e a obra de Francisco de Arruda Furtado que pode ser vista em Lisboa, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, até ao próximo dia 2 de agosto.

Na exposição através de cerca de uma centena de peças é dado a conhecer o trabalho científico do açoriano autodidata, Francisco de Arruda Furtado, que foi, segundo a jornalista do “Público”, Teresa Sofia Serafim, para “quem estudou o seu percurso … uma figura ímpar na ciência nacional e até internacional do seu tempo.”

Francisco de Arruda Furtado nasceu a 17 de setembro de 1854, em Ponta Delgada, e faleceu, muito novo, na Fajã de Baixo no dia 21 de junho de 1887, curiosamente no dia em que iria ser admitido na Academia Real das Ciências. A este propósito a “Persuasão” publicou, a 24 de dezembro de 1890, o seguinte: “Arruda Furtado, o ilustre naturalista, que a morte nos roubou na flor da vida, era eleito membro daquela alta corporação científica, no dia em que expirou em Ponta Delgada”.
Arruda Furtado começa a estudar no Liceu Nacional de Ponta Delgada, no ano letivo 1866/67 e termina os seus estudos no ano letivo 1869/70. Nesta época já começa a interessar-se pela observação e estudo da natureza.
Em data que se desconhece começa a trabalhar na Repartição da Fazenda distrital de Ponta Delgada, tendo, em 1876, passado a ser escriturário da Casa de José do Canto. No ano referido, começa a colaborar com o Dr. Carlos Machado na constituição de um museu de história natural no Liceu de Ponta Delgada.

Em 1881, publica “O Homem e o Macaco (Uma questão puramente local)” que foi a primeira publicação feita em Ponta Delgada de divulgação do evolucionismo. De acordo com Conceição Tavares, o texto de Arruda Furtado “agressivo e contundente” surgiu “como resposta às críticas ao darwinismo, lançadas em alguns sermões pelo Padre Rogério, cónego da Sé de Angra do Heroísmo e a alguns artigos publicados num jornal pelo padre Sena Freitas, como o autor referiu em carta enviada a José do Canto.

O envio da publicação mencionada a José do Canto, que professava a Religião Católica Apostólica Romana, fez com que este reagisse através de uma carta que dirigiu, em 8 de abril de 1881, a Francisco Arruda Furtado, onde afirma: “Por mim exerço os deveres da minha religião como a minha fragilidade o permite, sem ostentação, nem alarde, mas sem vergonha, e nenhum acto meu, de que tenha conhecimento, me pode desmentir”. Na mesma carta José do Canto mostra o seu desagrado pelo facto de Arruda Furtado ter proclamado “a necessidade de pôr um machado à raiz de todas as crenças primitivas” e acrescentou o seguinte: “Por curiosidade literária, e desde muitos anos, tenho lido, superficialmente é verdade por falta de sólido alicerce, Darwin, Haeckel, Broca, Topinard, e outros, sem que a minha crença fosse abalada.”.

Depois de ter trabalhado durante mais de sete anos com José do Canto, que duvidou da sua probidade, Arruda Furtado foi despedido, tendo em 1884, publicado o texto “A minha saída da casa do sr. José do Canto”. No seu texto Arruda Furtado denuncia más condições de trabalho e defende a sua honra pessoal.

Em 1884, publica o trabalhoMateriais para o estudo antropológico dos povos açorianos. Observações sobre o povo micaelense”.

Em 1885, foi contratado para a secção zoológica do Museu de Lisboa, com a incumbência de organizar as coleções malacológica e conquiológica.

O leitor interessado, em conhecer melhor a vida e a obra de Arruda Furtado, pode encontrar as suas publicações e outras sobre ele na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, destacando-se o livro “Correspondência científica de Francisco de Arruda Furtado”, sendo responsável pela introdução, levantamento e estudo Luís M. Arruda.  Em formato digital, recomendamos a página “Arruda Furtado: Vida e Obra” (http://digital.museus.ul.pt/exhibits/show/arruda-furtado-vida-e-obra).

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32066, 27 de fevereiro de 2020, p.17)

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