sexta-feira, 14 de março de 2025

Sobre a Delegação dos Açores do NPEPVS-DA

 


Sobre a Delegação dos Açores do NPEPVS-DA

 

No arquipélago dos Açores, antes da Delegação dos Açores do NPEPVS-DA-Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem, existiram duas organizações de algum modo ligadas à natureza, o CJN-Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria e “Os Montanheiros”, da ilha Terceira, mas nenhuma delas teve uma intervenção social digna de registo. Com efeito, enquanto o CJN se limitava ao estudo e à divulgação do património natural, “Os Montanheiros”, apresentavam um carácter meramente desportivo e de ocupação dos tempos livres. O NPEPVS-DA, por seu lado, foi mais além, isto é, procurou associar as duas vertentes: a educação não formal dos cidadãos e a intervenção pública junto das entidades governamentais.

Tendo como principais dinamizadores, Duarte Furtado e Gérald Le Grand, em janeiro de 1982, começou a funcionar, em São Miguel, uma delegação totalmente autónoma do NPEPVS- Núcleo Português de Estudo e Proteção da Vida Selvagem, organização fundada em 18 de dezembro de 1974, sediada na cidade do Porto e com delegações em Bragança, Coimbra e Lisboa.

Eram objetivos principais da delegação, entre outros, promover ou apoiar estudos sobre a fauna e a flora, realizar campanhas de sensibilização e interceder junto das entidades oficiais.

Na circular nº 1 de abril de 1982, o NPEPVS-DA anunciava as atividades previstas para aquele ano, de que se destaca a comemoração do Dia Mundial do Ambiente, uma campanha para a proteção das aves de rapina (milhafre e mocho) e conferências para divulgação do Património Natural dos Açores.

Em maio de 1982, a delegação do NPEPVS, cujo contacto era o da Universidade dos Açores, já disponibilizava aos associados e a todos os interessados, uma biblioteca e diverso material de divulgação e didático, como filmes, livros, posters, autocolantes e folhetos sobre a fauna e a flora.

Em junho de 1982, o delegado Duarte Soares Furtado, enviava aos responsáveis de ilha um documento de informação e divulgação sobre a Estratégia Mundial da Conservação. No mesmo mês, foram divulgados os nomes dos associados que tinham sido indigitados para responsáveis de ilha, respetivamente Gérald Le Grand, São Miguel, Dalberto Teixeira Pombo, Santa Maria, Teófilo Braga, Terceira, Maria José Silveira, São Jorge e Eduardo Carqueijeiro, Faial e Pico. Era competência de cada responsável de ilha, angariar o número máximo de sócios, informar a sede sobre os problemas concretos de cada ilha, interferir junto das autoridades regionais, no sentido de uma verdadeira proteção do ambiente e remeter bimensalmente para a sede os relatórios das atividades efetuadas em cada ilha.

No mesmo mês foi enviada aos responsáveis de ilha uma lista de livros que poderiam ser emprestados através da Bird Bookshop- Scottish Ornithologists’ Club. Os livros podiam ser pedidos diretamente para Inglaterra ou através da Delegação.

Em julho de 1982, foi envido aos responsáveis de ilha um documento sobre os Princípios e Funcionamento da CODA- Coordinadora para la Defensa de Las Aves, Secção Espanhola do Conselho Internacional para a Preservação das Aves (ICBP).

Em agosto de 1982, foi enviado aos responsáveis de ilha, para darem conhecimento a todos os associados e demais interessados, um caderno da série “Discussion Papers in Conservation”.

No mesmo mês, os responsáveis de ilha receberam o artigo “Baleia: ainda ameaçada apesar da reunião de Brighton”, da autoria de Luís Pinto Enes, publicado no semanário Expresso, de 31 de julho de 1982.

Na primavera de 1983, foi editado o primeiro número do boletim “Priôlo”, com 24 páginas. Logo na primeira página, Duarte Furtado, explica a razão da escolha do nome que era o de uma espécie endémica dos Açores, única no mundo, bastante ameaçada de extinção. O boletim publica os textos: “Entomologia da idade média ao século XIX”, condensado por João Tavares a partir do livro Entomologia Geral, de Zilkar Maranhão, publicado em 1976, “Baleias! Eliminada a ameaça de extinção?”, de Teófilo Braga, membro do Grupo Luta Ecológica e dos Amigos da Terra, “O Milhafre (Buteo buteo) a nossa única ave de rapina diurna”, de Fátima Melo, “Paisagens Protegidas”, de Rolando Cabral, da Divisão do Ambiente da SRESocial, “Contra a Enxaqueca”, de Gerald Le Grand, “Plantas e saúde- A acácia”, de Dalberto Teixeira Pombo, do Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria, e “À mente humana”, de Mário Pinhal, do Grupo Ecológico da Universidade dos Açores.

No mesmo número do boletim, Geráld Le Grand relata o avistamento de um bando de uma nova espécie, o lugre (Carduelis spinus) que poderia tornar-se uma nova espécie para os Açores e são publicadas pequenas notícias, nomeadamente de observações de aves, como a de uma poupa em Santa Maria, pelo sr. Dalberto Pombo ou a da chegada dos cagarros à freguesia dos Mosteiros, em 23 de fevereiro de 1983, por Daniel Melo.

No dia 8 de fevereiro de 1983, por iniciativa do NPEPVS-DA, realizou-se uma conferência com projeção de slides sobre “O Mercantour”, um Parque Nacional francês com 68 500 hectares.

Em abril de 1983, foi publicada uma folha informativa em defesa das aves de rapina. Por não ter perdido atualidade, transcreve-se três das razões pelas quais as mesmas são úteis na natureza:

“- a cada uma que morre corresponde um aumento de proliferação de ratos, répteis e insetos, que fazem parte da sua alimentação habitação;

 

- grande parte das peças de caça que matam, é constituída por indivíduos doentes, feridos ou mais fracos;

 

- cada animal doente que as aves de rapina deixam de eliminar pode ser um foco de infeção para cada sadia.”

Com data de 12 de abril de 1983 foi divulgada uma circular onde são dadas notícias sobre a campanha de angariação de novos sócios e sobre a distribuição do boletim “Priôlo”. Na mesma circular foi publicado um texto sobre os golfinhos (toninhas) que continuavam a ser alvo de massacres e atrocidades cometidas pelo “homem”. No referido texto pode-se ler o seguinte:

 “A Delegação dos Açores do NPEPVS opõe-se frontalmente à continuação deste morticínio, exigindo das entidades responsáveis e competentes a imediata publicação da lei que permita a salvaguarda de tal espécie.

 

Apelamos desde já a todos os nossos Consócios para diligenciarem junto das comunidades piscatórias sobre as razões por que não se deverá abater tão bela espécie de manífero marinho.”

 Em maio de 1983, o NPEPVS-DA esteve presente, no hangar da marinha, na Exposição-Feira de Artesanato, com um pavilhão com material informativo, alertando para a importância de proteger a vida selvagem.

A 18 de junho de 1983, no âmbito das festas em honra de São João, foi inaugurada, em Vila Franca do Campo, a sede do NPEPVS, localizada na rua Padre Manuel José Pires, 11-13, na freguesia de São Pedro. A inauguração contou com a presença de António Daniel Carvalho Melo, presidente da Câmara Municipal e de Vasco Garcia, em representação do reitor da Universidade dos Açores.

No dia 16 de dezembro de 1983, o NPEPVA-DA promoveu uma exposição de cartazes alusivos à proteção do ambiente, no Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, na Povoação.

Na ocasião foram projetados slides e dois filmes. Na exposição que foi visitada por cerca de 500 pessoas, estiveram à venda autocolantes sobre avifauna e foram distribuídos panfletos sobre a importância da conservação das aves de rapina.

 

Nos dias 30 e 31 de dezembro de 1983 e 1 de janeiro de 1984, esteve patente ao público, na sede da Junta de Freguesia do Pico da Pedra uma exposição de cartazes com o objetivo de sensibilizar a população para a necessidade e o dever de proteger o ambiente.

 

Esta exposição do NPEPVS-DA, foi visitada por cerca de 110 pessoas e foi amplamente divulgada junto dos órgãos de comunicação social, tendo a RTP-Açores transmitido imagens da mesma no dia 30 de dezembro.  Para que a exposição fosse possível, o NPEPVS contou com a colaboração de várias pessoas da freguesia, como o carpinteiro José Ventura Almeida que cedeu material diverso e algumas horas de trabalho. Igualmente foi indispensável o trabalho de Lúcia Oliveira Ventura, Maria José Almeida, Maria de Lurdes Ventura e Paula Almeida.

 

O segundo número do “Priôlo”, com 40 páginas, surgiu em março de 1984. No “edital”, Duarte Furtado apela à colaboração de mais pessoas para “darmos o exemplo da completa defesa e preservação da fauna e flora da nossa região, grandemente ameaçadas, se medidas concretas de salvaguarda não forem desde já postas em marcha” e acrescentou que “o que, desinteressadamente, pudermos fazer em prol da sociedade, é certamente o que amanhã nos dará por certo uma maior alegria, permitindo ao mesmo tempo encarar o dia a dia, imensas vezes desgastante”.

 

No referido boletim, Margarida Medeiros, da Divisão de Ambiente da SRES, publica um “Alerta- A nossa flora corre perigo”, Teófilo Braga, escreve contra a caça à baleia, Geráld Le Grand publica um pequeno texto sobre o priôlo, António Frias Martins escreve sobre “O ilhéu de Vila Franca”, Erik Sjogren é autor de um artigo sobre “Plantas dos Açores”, Fátima Melo escreve sobre a nossa ave de rapina noturna “O mocho”, Rolando Cabral escreve sobre “A Vida na Cidade”, Dalberto Pombo é autor do texto “Plantas e Saúde- a salsa”, Maria Furtado assina o texto “A importância dos espaços verdes nos Centros Urbanos” e Geráld Le Grand é autor do texto “«Satus» e Distribuição da avifauna nidificante no arquipélago dos Açores”.

 

No boletim é também referido o início de uma campanha em defesa das aves de rapina e são dadas a conhecer algumas informações, nomeadamente de avistamentos de aves, como um falcão (Falco tinnunculus) na zona do Pico das Camarinhas, em São Miguel, no dia 18 de janeiro de 1984, ou a chegada dos pardais (Passer domesticus) à ilha das Flores.

 

Com data de 25 de maio de 1984, foi lançado uma folha informativa com um texto intitulado “Porque se anilham aves?”., extraído de uma folha informativa do CEMPA.

 

Por último, a 6 de junho de 1984, foi enviada ao todos os sócios a informação de que os mesmos poderão passar férias, apenas durante o verão, na ilha de Lanzarote, nas Canárias, bastando para tal colaborar em trabalhos domésticos.

 

O terceiro número do boletim não chegou a ver a luz do dia, mas através da consulta do material que já havia sido recolhido, fica-se a saber que o mesmo contaria com um novo colaborador, o Eng.º. Fernando Monteiro com um texto intitulado “Mensagem”. Pelo seu conteúdo, transcreve-se um extrato:

 

 “A conceção de uma sociedade progressiva, justa, equilibrada, hoje mais do que nunca, passa pelo melhor uso da natureza, logo no entendimento e respeito pela sua integridade e pela compreensão da sua inocuidade.

Mas os inimigos da natureza são inúmeros e ameaçadores.

Nos Açores a dinâmica vertiginosa da pecuária é, por exemplo, a maior ameaça ao equilíbrio natural.”

 

O mesmo número contaria com um texto de Paulo Alexandre Vieira Borges intitulado “Espeleologia nos Açores”, com a colaboração de Geráld Le Grand com o texto “Azores tern expedition” e de Dalberto Pombo intitulado “Plantas e Saúde- o girassol”. Estava também prevista a saída de um escrito intitulado “Como e porquê se anilham aves?”, extraído de um folheto informativo do Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves”.

Teófilo Braga

(associado nº 9 da Delegação dos Açores do NPEPVS)

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