quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ilhas Oceânicas (I)



Ilhas Oceânicas (I)


As ilhas oceânicas são reconhecidas como laboratórios biológicos, estando a sua biodiversidade e composição de espécies relacionadas com a sua história geológica e com o seu isolamento, os quais facilitam os processos de especiação – segundo os quais uma espécie dá origem a outras distintas. Nas ilhas, é possível encontrar duas espécies de endemismos: os neo-endemismos e os paleo-endemismos.

Os neo-endemismos, mais comuns nas ilhas vulcânicas oceânicas recentes, como as constituintes dos arquipélagos da Macaronésia, são espécies formadas de novo por processos de especiação a partir de propágulos- qualquer estrutura capaz de dar origem a uma nova planta- que chegam às ilhas com uma fracção pequena da diversidade genética, especiando por fenómenos de deriva genética- modificação das características das espécies ao longo do tempo. Para além deste processo, poderão ocorrer outros dois: radiação adaptativa, quando uma única espécie original, ao longo da história evolutiva, dá origem a várias espécies adaptadas a diferentes nichos ecológicos e por ocupação de zonas novas adaptativas, como acontece nas cavidades vulcânicas. Por seu lado, os paleo-endemismos, comuns em ilhas muito antigas, são espécies que ocorrem apenas numa determinada ilha ou arquipélago porque as populações continentais da mesma espécie se extinguiram.

Para além do referido, a desarmonia das suas faunas e floras é outra característica importante das ilhas oceânicas, notando-se a ausência de grupos inteiros de organismos (ordens, famílias, géneros) comuns nas zonas continentais, por dificuldades de se dispersarem para as ilhas, de que são exemplos, nos Açores, no caso dos vertebrados a ausência de mamíferos (com excepção de duas espécies de morcegos), anfíbios e répteis.

De particular importância é o facto das ilhas Macaronésicas (Canárias, Madeira e Açores), conjuntamente com a zona Mediterrânica, por possuírem um elevado número de espécies endémicas fazerem parte de um dos 26 “Hotspots” de Biodiversidade do planeta.

Nota - este texto é a primeira parte de uma síntese de um capítulo do relatório “Portugal Millenium Ecosystem Assessment”, elaborado por um grupo de investigadores do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, liderado pelo Prof. Doutor Paulo Borges.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 345, p. 31, 21 de Março de 2008)

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