domingo, 7 de julho de 2019

A Propósito do Programa Eco-escolas e da Educação Ambiental


A Propósito do Programa Eco-escolas e da Educação Ambiental

No passado dia 10 de Janeiro, vários órgãos de comunicação social noticiavam o facto do projecto Eco-escolas atingir nos Açores a maior taxa de implementação do programa em Portugal e uma das mais elevadas na União Europeia.
Para nós, não só este projecto bem como a educação ambiental que se faz nos Açores mereciam uma reflexão aprofundada da parte de todos os interessados, professores e educadores, associações de defesa do ambiente e da tutela da área do ambiente, nos Açores.
Por falta de disponibilidade de tempo e de espaço, a seguir, apenas apresentamos algumas notas soltas.
1-A projecção do Eco-escolas, nos Açores, resulta sobretudo do trabalho voluntário de alguns professores e educadores que tem contado, nos últimos anos, com o apoio e incentivo de alguns directores das ecotecas;
2-O apoio que os professores têm tido da tutela do ambiente contrasta com as dificuldades que têm sido levantadas pela Secretaria Regional da Educação. A prova disto, são os entraves que ao longo dos anos têm sido colocados à participação dos professores nas formações anuais, quer nos Encontros Regionais de Educação Ambiental quer nos Encontros das Eco-escolas, de tal modo que alguns se têm realizado aos fins-de-semana.
3-Em algumas escolas o projecto não é assumido pelos Conselhos Executivos, não passando de uma actividade marginal desenvolvida por um ou dois professores e envolvendo apenas uma ou outra turma;
4-O galardão “Bandeira Verde” está banalizado, já que é atribuído a “qualquer” escola que faça uma ou duas actividades e que apresente um relatório final. Quanto a nós, para que tal acontecesse seria necessário que houvesse um envolvimento significativo na escola e que alguns parâmetros do seu desempenho fossem alterados, como redução do consumo de energia, de papel ou de água, limpeza dos espaços interiores e exteriores, etc. A título de exemplo, no final do ano passado estava a passar junto a um estabelecimento de ensino de Ponta Delgada que tinha hasteada a Bandeira Verde e cujos jardins exteriores pareciam um matagal. Uma situação destas nunca deveria ocorrer.
5-Em relação à Educação Ambiental, desde o início existiu algum voluntarismo na sua implementação, mas nunca houve uma reflexão séria sobre o que se pretende com ela, e nunca se pensou na criação e implementação de uma Estratégia Regional de Educação Ambiental.
O único documento que conhecemos, é um “Plano Estratégico” publicado no boletim Ecológico, nº 10, de Setembro/Outubro de 1999, assinado por Eduarda Goulart (1), que não foi suficientemente divulgado e nunca foi alvo de qualquer discussão pública.
6-A própria Rede Regional de Ecotecas tem sido criada sem estar sujeita a um plano devidamente pensado que tenha em conta as necessidades das populações-alvo. Vejamos dois exemplos:
a. Depois de anunciada a sua abertura para o primeiro trimestre de 1998 (ver “Ecológico nº1, Fev/Mar de 1998), a primeira Ecoteca que estava prevista para Santa Maria, acabou por ser implantada no Pico em 1999. Razões para esta alteração são desconhecidas.

b. Nunca houve qualquer explicação ou justificação aceitável para a instalação da Ecoteca da Lagoa. Com efeito, o concelho da Lagoa, pela sua dimensão, pelo número de crianças em idade escolar, pela sua proximidade a Ponta Delgada não deveria ser uma prioridade. Pelo contrário, já existindo o Centro de Interpretação do Priôlo no Nordeste fazia todo o sentido que a terceira ecoteca em São Miguel, depois da da Ribeira Grande e da de Ponta Delgada, ficasse instalada em Vila Franca do Campo ou na Povoação.

(1) Na altura, Directora Regional do Ambiente e ex-presidente da ONGA, com sede no Faial, “Azórica”

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 390, p.23, 30 de janeiro de 2009)

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