sexta-feira, 5 de julho de 2019

Ilhas Oceânicas (II)


Ilhas Oceânicas (II)

São oito os processos promotores de alterações nos ecossistemas açorianos, a saber:

Estrutura e Propriedade das Terras Agrícolas – o facto da maioria dos terrenos agrícolas ser organizada em unidades de pequena dimensão leva que a estrutura da propriedade dos Açores apresente um baixo impacte directo na biodiversidade;

Alterações do Uso do Solo – O processo de adaptação dos povoadores às ilhas levou a que estas deixassem de estar cobertas por densas florestas de Laurissilva, passando a existir, hoje, quatro grandes tipos de novos sistemas ecológicos: pastagens semi-naturais; pastagens intensivas permanentes ou semi-permanentes de média-baixa altitude; povoamentos florestais de exóticas, de criptomérias e eucaliptos., matos mistos (bosques introduzidos) e pomares, vinhedos ou incultos de baixa altitude. As alterações do uso do solo, em termos de alteração dos ecossistemas, têm um nível de importância elevada.

Erupções vulcânicas – que têm uma importância reduzida, não só provocaram alterações do uso do solo, mas também originaram novos habitats, nas ilhas.

Turismo – tem, ainda, uma importância reduzida, embora em São Miguel já se possam observar impactos em termos do consumo de energia e aumento de resíduos sólidos. Nesta ilha, que tem assistido ao aumento do número de turistas, observa-se uma tendência para um turismo de massas, enquanto nas ilhas do grupo Central observa-se uma tendência de crescimento mais sustentável e baseada num turismo (sazonal) de natureza.

Espécies Invasoras - A introdução de espécies exóticas, tem criado nos Açores problemas ecológicos sérios. Como exemplos de situações graves, destacaríamos a invasão da Zona de Protecção Especial (ZPE) do Pico da Vara pela espécie endémica da ilha da Madeira Clectra arbórea ou da ilha das Flores, pela hortênsia e do Pico e S. Miguel, pelo incenso. No que respeita a animais exóticos invasores salienta-se o caso dos ratos e da térmita (Cryptotermes brevis) que muito provavelmente será, por muitos anos, a praga urbana mais grave nos Açores.

Crescimento Económico – embora se tenha notado, depois do 25 de Abril de 1974, com a autonomia política e com a adesão do país à União Europeia, um crescimento económico nos Açores, verifica-se que o ritmo não é o mesmo em todas as ilhas, havendo uma clara distinção entre, sobretudo, São Miguel, mas também Terceira e Faial e as restantes, que se desenvolveram menos. Em termos globais, o crescimento económico que está igualmente associado a alterações do uso do solo históricas e actuais, apresenta uma importância média, sendo elevada em ilhas como o Corvo e a Graciosa, onde a área disponível é limitada.

Distribuição da População Humana - Ao nível do arquipélago a importância da distribuição da população Humana em termos de impacto é baixa. Contudo, como as zonas residenciais estão localizadas geralmente num anel junto à costa, verificam-se alguns impactes nestas, com poluição de arribas e pressão em termos de construção de casas de veraneio em zonas com clima privilegiado.

Legislação Ambiental e Atitudes – o rico património dos Açores foi sendo legalmente protegido, através de vários tipos de legislação. Salienta-se a que cria a Rede Natura 2000 e a que está em revisão relativa às áreas protegidas dos Açores.
Em termos de atitudes ambientais, destaca-se um conjunto de actividades na área da Educação Ambiental, promovidas sobretudo pelo Governo Regional (Ecotecas), pela Universidade dos Açores e por Associações de Defesa do Ambiente. Este factor é de importância alta.
Política e Mercado Agrícola Comum – Embora se desconheça qualquer estudo sobre o impacto ambiental da Política Agrícola Comum, uma coisa é certa, esta provocou alterações na pecuária e na agricultura. No início terá havido uma tendência para a intensificação das pastagens e modernização dos processos através de medidas estruturais (e.g. cursos de formação em empresários agrícola aos agricultores), com impactos reduzidos em ilhas como Pico, Flores e Santa Maria. A aplicação, recente, das políticas Agro-Ambientais, que nos Açores promovem a extensificação da agropecuária, tiveram um sucesso relativo. Nos últimos anos, apesar da subsistência das culturas do chá, da beterraba e da batata, a implementação das culturas forrageiras tem penalizado outras culturas, como as hortícolas.

Nota - este texto é a segunda parte de uma síntese de um capítulo do relatório “Portugal Millenium Ecosystem Assessment”, elaborado por um grupo de investigadores do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, liderado pelo Prof. Doutor Paulo Borges.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 350, p. 30, 25 de Abril de 2008)

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