terça-feira, 2 de julho de 2019

Que Educação Ambiental?



Que Educação Ambiental?

Que educação ambiental se faz entre nós, nomeadamente o que fazem as associações de defesa do ambiente dos Açores?

Não sendo fácil responder à questão, vamos em primeiro lugar recorrer a Viola (1992) que nos diz que o papel das associações de defesa do ambiente na educação ambiental tem sido o de: 1) através da sua acção difundir valores ecológicos; 2) implementar programas próprios de educação ambiental; 3) colaborar com programas do sistema de ensino formal e 3) procurar envolver a população em programas de conservação ou restauração do ambiente danificado.

Desconhecendo-se qualquer reflexão por parte das ONGAS dos Açores sobre educação ambiental, o que conhecemos da sua prática leva-nos a concluir que a modalidade mais comum será a difusão de valores ecológicos, seguida da colaboração com programas do sistema de ensino formal.

A educação ambiental que temos tido, sofre de um desvio naturalista e conservacionista, tendo como preocupação “salvar” o ambiente, entendido como recurso que é necessário “preservar para manter a maquinaria produtiva e reprodutiva do capital” (CARTEA, 2006). A corroborar estas afirmações, são elucidativas as declarações da senhora Secretária Regional do Ambiente a propósito de uma putativa Estratégia Regional de Educação Ambiental que segundo ela existe nos Açores: “ Estamos a construir um sistema de Centros de Interpretação, que irão apoiar a visitação e o usufruto das áreas classificadas dos Açores…A abordagem não é apenas a transferência de informação, mas também o servir de alicerce para investimentos paralelos e privados”(Faustino, 2007).

Do nosso ponto de vista, para escolhermos que educação ambiental fazer, há que fazer opções: antes de mais há que escolher o modelo de sociedade que queremos. Havendo várias opções, limitar-me-ei a mencionar duas delas: a que tem subjacente o conceito de desenvolvimento sustentável ou a que propõe um decrescimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável é “o que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir as suas próprias necessidades”(Tabacow, 2006). Acerca deste conceito, concordo com alguns autores que o consideram vago, e “pouco efectivo em termos concretos”(FBOMS, 2002, citado por Tabacow, 2006), permitindo que em seu nome tudo se possa fazer, como continuar a defender um crescimento económico ilimitado num mundo em que os recursos são finitos, ou como um “fetiche útil na medida em que o seu significado depende de quem o usa, do contexto em que é usado e para que é usado”. Por seu turno, para o conceito de decrescimento sustentável, não está em causa, apenas, a diminuição dos consumos, mas também o modo de funcionamento da economia actual (produção- distribuição- consumo), propondo uma “ruptura da lógica subjacente ao modelo capitalista de um crescimento constante e auto-alimentado, que origina o consumismo”(Janela, 2006).


BIBLIOGRAFIA

CARTEA, P., (2006), “Elogio de la Educación Ambiental”, Trayectorias, ano VIII,nº 20-21.
FAUSTINO, P., (2007), “Nos Açores haverá cobertura de 100% no Licenciamento Ambiental”, 100 Maiores Empresas dos Açores 2006, Açormédia, Ponta Delgada
JANELA, J., (2006), “A Pegada Ecológica e o Decrescimento Sustentável”, Utopia, nº 21

TABACOW, J.(2006), Sustentabilidade, euforia utópica ou logorréia estéril?, in GERRA, A. (org), Iniciativa Solvin 2006: arquitectura sustentável. Romano Guerra Editora, São Paulo.
Viola, E. (1995), “O ambientalismo multissetorial no Brasil para além da Rio-92: o desafio de uma estratégia globalista viável”, in Viola, E, LEIS, H., SCHERER-WARREN, I., GUIVANT, J., VIEIRA, P., KRISCHKER, P., Meio Ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais, Cortez/UFSC, Florianópolis.

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 337, 18 de Janeiro de 2008, p. 11)

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