terça-feira, 26 de dezembro de 2023
Rícino
Rícino
Quando observo uma planta de rícino sou transportado para a minha infância, mais propriamente para o ano em que frequentava a escola primária da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, quando alguns alunos ao observarem as sementes do rícino que existia no recreio da escola decidiram comê-las, dizendo que eram feijões. Recordo que muitos deles se sentiram mal e que tiveram de ser assistidos no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Vila. Eu que não havia ingerido nenhuma fui alvo, em casa, de um interrogatório quase pidesco, por parte da minha mãe que queria confirmar se havia ou não provado “o fruto proibido”.
Durante muito tempo, pensei que aquela planta “venenosa” não tinha qualquer utilidade, até que já adulto comecei a interessar-me pelos livros e pelo mundo animal e vegetal que me rodeava. Estava redondamente enganado, como se poderá constatar a seguir.
O rícino, mamona, bafureira ou carrapateira (Ricinus communis L.) é uma planta pertencente à família Euphorbiaceae, oriunda da África Oriental. Hoje, o rícino encontra-se naturalizado em todas as ilhas dos Açores
É um arbusto ou pequena árvore, que pode atingir 3 m de altura, com caule lenhoso na sua base que apresenta folhas de tonalidades avermelhadas, alternas, palmadas e lobadas. As flores femininas são verdes ou avermelhadas e as masculinas são amarelo esverdeadas, podendo ser vistas de abril a novembro. Os frutos são cápsulas globosas.
Desconhece-se a data da introdução do rícino no nosso arquipélago, mas já em 1799 o Governador dos Açores, em ofício dirigido a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, menciona o uso do óleo de rícino na iluminação particular.
Depois de algumas dificuldades em arranjar mercado, em 1849, o “Agricultor Micaelense” dá conta da venda em Lisboa de sementes de rícino produzidas em São Miguel “a razão de 600 rs moeda insulana, por cada alqueire de mamona, também medida insulana.”
No ano seguinte, no mesmo jornal, José do Canto informa que um laboratório de Lisboa estava a preparar o óleo de rícino para ser usado com fins medicinais e que os agricultores micaelenses não tiveram capacidade para satisfazer as encomendas de sementes. Também menciona que gostaria que “nunca a nossa indústria agrícola pudesse ser tratada de negligente e descuidosa”.
Francisco de Carvalhal que se dedicou à adaptação da cultura do rícino nos Açores, desde 1914, escreveu no Correio dos Açores de 1931 que a cultura do rícino era mais rentável a partir do segundo ano de produção do que a do trigo, do milho, do tabaco e da beterraba sacarina. Sobre o uso da planta também menciona que “as sementes de rícino, esmagadas e misturadas em farinha e qualquer gordura, são consideradas excelente veneno para os ratos”.
Ramos (1871) refere que das suas sementes é extraído “o óleo de rícino, que é um laxante suave e d’um uso frequente em todas as partes do globo.”
Gomes (1993) menciona que o óleo de rícino é “um purgante” para combater a “solitária (ténia)”.
Corsépius (1997) refere o uso do óleo como purgante, mas adverte que a planta “é tóxica não devendo por isso ser utilizada em preparações caseiras. A ingestão das sementes pode mesmo causar a morte!”
Dadas as contraindicações e os efeitos secundários o seu uso só deverá ser feito mediante o acompanhamento de um especialista. De acordo com o livro “Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais” As sementes de rícino não devem ser ingeridas, pois 3 ou 4 podem matar uma criança, e cerca de 15, um adulto”.
Hoje, o óleo de rícino é ainda muito usado na indústria química e o biodiesel produzido a partir do rícino é um dos melhores do mercado.
27 de dezembro de 2023
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário