terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O Eucalipto “globulus”


O Eucalipto “globulus”

Do género Eucalyptus existem mais de 700 espécies diferentes, sendo quase todas originárias da Austrália.

Pertencente à família Myrtaceae, o Eucaliptus globulus é uma árvore, originária da Austrália e da Tasmânia, cultivada em quase todo o mundo, sobretudo em regiões temperadas, subtropicais ou tropicais.

O eucalipto é uma árvore perenifólia que pode, em média, atingir 40-50 m de altura, as suas folhas novas são ovais e glaucas e as mais velhas são lanceoladas e em forma de foice. As flores, grandes, amarelo-esbranquiçadas, são apreciadas pelas abelhas e podem ser vistas de maio a outubro.

Não sabemos quando o eucalipto chegou aos Açores, mas as primeiras plantações próximas da Lagoa do Congro terão ocorrido por volta de 1846. No princípio do Século XX a sua plantação, em São Miguel, era recomendada.

Alice Moderno, no seu jornal “A Folha”, de 3 de fevereiro de 1907, sobre o eucalipto escreveu o seguinte: “Por mais de uma vez temos aconselhado aos nossos estimáveis leitores a plantação de eucaliptos, árvore que, além de ornamental, goza de propriedades antisépticas que tornam a sua vizinhança preciosa.”

Num texto publicado no jornal “A Estrella Oriental”, no dia 20 de abril de 1907, o autor recomendava a plantação de eucaliptos “por esses brejos maninhos e infectos, nas bordas das estradas, nas charnecas e regueiros que para mais nada servem” e sobre a espécie que estamos a tratar escreveu o seguinte: O eucalipto “globulus” é o mais comum em nossos climas e o que dá mais interesse ao proprietário. Dá-se muito bem nos vales e encostas húmidas pouco açoutadas da tempestade. Em Tasmânia não é raro encontrar eucaliptos de 100 metros d’altura por 30 de circunferência na base.”

Em 1987, nos Açores, apenas existiam, na ilha Terceira dois núcleos florestais com dimensão significativa e em São Miguel e em Santa Maria a área arborizada era reduzida não chegando aos 100 hectares.

Contrariamente ao esperado, dois anos depois a situação tinha-se alterado, de modo que na Terceira o eucalipto ocupava 50% da área das matas.

Pela mão de uma (ou mais?) empresa colonizadora de celulose, com a ajuda de colonos açorianos e de alguns jornalistas, um dos quais recomendou que os ambientalistas fossem inalar vapores de eucalipto, e com promessas extravagantes, como financiamento a projetos de interesse turístico, recuperação do boi açoriano ou a construção de um parque de caça ao veado, a febre do “ouro verde” havia chegado aos Açores de tal modo que proliferaram as plantações de eucalipto, mesmo em áreas onde tal não era permitido, com a passividade ou cumplicidade das autoridades oficiais, como no Pico da Praia, em Água d’Alto.

Sendo, hoje, o principal destino do eucalipto o fabrico de pasta de papel, o seu uso na medicina também é referido por vários autores. Assim, em 1894, Joaquim Cândido Abranches no seu livro “Medicina Popular Micaelense” menciona o uso do eucalipto na medicina popular nos seguintes termos: “as folhas por algum tempo de infusão em álcool, serve este depois em fricções para a cura do reumatismo”.

Emiliano Costa, em 1953, no nº XVII do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, escreveu que “em S. Miguel as folhas deste eucalipto servem para desinfeções, afuguentar as traças e mosquitos, para chás diversos, infusões anti-reumáticas e em certas localidades atribuem ao chá das folhas da árvore feminina certos efeitos emenagogos.”

Como não há bela sem senão, as plantações intensivas de eucalipto têm sido muito contestadas devido a impactos negativos diversos na água, nos solos, na fauna e flora, na economia e na cultura.

Afonso Cautela, um dos pioneiros do movimento ecologista/ambientalista em Portugal, no seu modo peculiar de abordar os vários temas, sobre a eucaliptomania escreveu o seguinte: “O tecnofascista manda plantar eucaliptos com a voracidade feroz do negociante que, sem nada fazer por isso, vê aumentar o seu pecúlio de argentário; o tecnofascista tem no eucalipto a maneira mais rápida de aumentar lucros.”

Nada tendo contra qualquer espécie, recordo que, de acordo com Raimundo Quintal, há um eucalipto “globulus” no Parque Terra Nostra que merece ser classificado como árvore de interesse público.

18 de dezembro de 2023

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