domingo, 10 de dezembro de 2023

As plantas e a medicina popular no Pico da Pedra (4)


As plantas e a medicina popular no Pico da Pedra (4)

Prosseguindo a série de textos sobre plantas usadas na medicina popular, para este número da VOZ POPULAR, decidi escrever sobre o milho.

O milho, cujo nome científico é Zea mays, é uma planta herbácea, anual, ereta, de colmo oco entrenós, com folhas oblongas e lanceoladas, da família Poaceae originária dos Andes e América Central.

Trazido da América para a Europa pelos espanhóis foi, de acordo com alguns autores, os portugueses a espalhá-lo pelo mundo.

Nos Açores, o milho foi introduzido no século XVII, tendo-se intensificado o seu cultivo depois de uma crise agrícola ocorrida em 1647, ano em que a produção de trigo foi muito reduzida.

Depois de muitos anos a ser usado principalmente na alimentação humana, nos nossos dias a sua cultura está relacionada com a alimentação do gado bovino. Associada ao seu cultivo, as folhas que cobrem as maçarocas eram usadas no fabrico de tapetes e na confeção das “bonecas de folha de milho”. Uma tradição que se mantém bem viva é a venda de milho cozido nas fumarolas na freguesia das Furnas, na ilha de São Miguel.

Um uso que muito apreciava na minha infância era o do fabrico das chamadas papas grossas ou de carolo que até meados do século passado eram uma das principais iguarias da culinária popular. Na sua confeção era usado o carolo, farinha de milho muito grossa, leite gordo vindo diretamente das pastagens e açúcar.

O médico Oliveira Feijão, no seu livro “Medicina pelas Plantas”, publicado em 1986, sobre o milho escreve que é uma “planta forraginosa e alimentícia, rica em vitamina A, B1e B2.” Depois de referir os uso dos estigmas (barbas) como diurético e sedativo escreve que “externamente emprega-se a “farinha de milho” tal como se usa a de linhaça, isto é, como emoliente; diluída em água fervente, dá boas cataplasmas calmante (queimaduras, herpes, escoriações, etc.).

Proença da Cunha, Alda Silva e Odete Roque, no livro “Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia”, depois de referirem que os estiletes e estigmas do milho são usados “como diurético em afecções geniturinárias, gota, edemas, obesidade acompanhada de retenção de líquidos”, mencionam que “no caso de hipertensão, cardiopatias ou insuficiência renal moderada ou grave, só deve usar-se os estiletes, como diurético, sob controlo médico.” Também indicam que “a utilização prolongada e excessiva dos estiletes e estigmas podem provocar vómitos, cólicas e diarreia” e aconselham a “não usar mais do que 4 a 8 g por dia.”

As barbas de milho, segundo o Eng.º Silvano Pereira (1953), eram usadas “em medicina popular, em decocto, como um enérgico diurético”.

Em São Jorge, de acordo com José Guilherme Machado, as “barbas” de milho eram usadas “em chá” para tratar “problemas urinários”.

Na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, para além do uso no tratamento das pessoas, o “chá das barbas de milho era usado para tratar o gado bovino”.

De acordo com as respostas a um inquérito realizado, em 1992, no Pico da Pedra, uma moradora da Rua das Almas referiu que as barbas do milho amarelo, que eram colhidas em outubro, secas e conservadas num saco, eram usadas para combater problemas dos rins e da bexiga.

Pico da Pedra, 12 de novembro de 2023
Teófilo Braga

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