quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Nespereira


Nespereira

A nespereira ou moniqueira (Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl.) é uma árvore da família Rosaceae que pode atingir 10 m de altura, com folhas perenes, alternadas, simples e verde-escuras na página superior e arruivadas na inferior, apresentando nervuras bem evidentes. As flores são brancas e em cachos com três a dez flores e os frutos são elipsoides com uma casca aveludada e amarelo-alaranjada, quando estão maduros.

A nespereira, que é originária da China, foi introduzida em São Miguel, por volta de 1819, pelo Barão de Fonte Bela como árvore ornamental, tendo devido aos seus frutos com um sabor “tão particular e esquisito” passado a ser uma das plantas mais cultivadas. De acordo com uma notícia publicada no “Agricultor Micaelense”, em 1849, “não há quinta nem quintal, aonde se não encontre a Nespereira. Nos meses, em que os laranjais começam a escassear, vem as nêsperas consolar-se avantajadamente de sua ausência.”

As nêsperas chegaram a ser exportadas para Inglaterra, tendo o Açoriano Oriental, em 1949, publicado a seguinte notícia: “Temos a satisfação de fazer constar a nossos leitores, que o sr. Amâncio Gago, na sua primeira especulação de Nespras japónicas, enviadas para Inglaterra, obteve mais de 20 reis líquidos por cada fruto.”

Francisco Maria Supico (1830-1911), farmacêutico e investigador da história local, nas suas “Escavações”, explica que a exportação dos frutos não podia ter sucesso porque os mesmos tinham pouca duração e que os mesmos eram muito apreciados, pois era costume “de se fazer um apreciável presente com uma pequena quantidade do seu fruto.”

As nêsperas podem ser comidas como fruta fresca, em saladas de fruta ou em compotas. Também podem ser usadas para fazer vinho, licor ou aguardente.

Para os interessados em fazer, deixo aqui uma recita de doce de nêspera, encontrado num recorte de jornal recolhido pela professora primária Maria Emília Pereria:

“Nêsperas sem pele nem caroço, 1 quilo; açúcar branco, 1 quilo; canela q.b.; água 2 colheres. Põem-se as nêsperas, o açúcar e a água dentro de uma vasilha, que se leva ao lume. Deixa-se ferver o tempo bastante para formar uma compota. Deve mexer-se constantemente com uma colher de pau e conserva-se o lume brando.”

Por sua vez, o licor de nêspera pode ser obtido assim:

“Faz-se uma infusão de 200 gramas de caroços de nêspera em 1 litro álcool alimentar (ou aguardente) e guarda-se num local escuro durante vários meses (1 mês, agitando o conteúdo várias vezes por semana). Depois, junta-se meio quilograma de açúcar a meio litro de água e leva-se ao lume durante algum tempo até se obter uma calda grossa. Depois de deixar arrefecer até ficar morno, junta-se 0, 75 litros da infusão e mexe-se bem (pode-se juntar um pau de canela ou raspa de limão). Por último filtra-se e coloca-se em garrafas.”

Os ramos são usados em arranjos florais, sobretudo na época do Natal, e a árvore também é utilizada como ornamental.

O Dr. Oliveira Feijão refere o uso dos “frutos como antidiarreicos e anti-hemorrágicos internos e a casca da árvore como adstringente externo” e acrescenta que “o cozimento da casca (40 g de casca fresca ou 20 g de casca seca, para um litro de água) dá um excelente gargarejo adstringente contra as anginas, estomatites, etc.”

Cursépius (1997) refere que os frutos são ricos em várias vitaminas e possuem uma ação antidiarreica. Segundo ela, “a casca da árvore em decocção – 20g/l de água é adstringente e serve para bochechos e gargarejos.”

8 de dezembro de 2023
Teófilo Braga

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