quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Vimes


Vimes

Sentado à minha secretária em frente ao computador, vejo alguns trabalhos em vimes feitos por meu pai, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo. São dois pequenos cestos de asa que ele costumava oferecer às crianças, sobretudo às meninas, e um cesto um pouco maior que pode ser usado para os mais diversos fins, nomeadamente para colocar papéis velhos. Na cave, encontra-se um cesto que era usado para o transporte de uvas, durante as vindimas.

Para além do uso dos vimes em cestaria, meu pai também os usava para forrar garrafões de vidro e para amarrar as vinhas.

Que planta ou plantas são ou eram usados na cestaria?

Já vi cestos feitos com vardascas de espécies muito diferentes, como choupo-branco (Populus alba) ou salgueiro-chorão (Salix babylonica), mas a maioria deles será feita a partir do vimeiro (Salix x fragilis), ou do denominado vimeiro-francês (Salix viminalis).

Todas as espécies referidas pertencem à família Salicaceae, tendo Ruy Telles Palhinha, no seu Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966, referido também, da mesma família, a presença entre nós, do salgueiro (Salix atrocinerea) e do álamo, olmo ou choupo (Populus nigra). Todas as espécies referidas são cultivadas, podendo aparecer como subespontâneas.

O vimeiro (Salix x fragilis) é um híbrido de uma espécie (Salix alba) nativa da Europa e de outra (Salix euxina) nativa da Ásia ocidental, sendo característico de habitats ribeirinhos. Trata-se de uma planta caducifólia, geralmente de tamanho médio, com folhas lanceoladas.

O Salix viminalis é um arbusto ou pequena árvore que em média tem uma altura de 3 a 5 metros (raramente atinge os 10 m) com ramos direitos, folhosos e flexíveis e com folhas quase lineares e um pouco acunheadas na base.

A cultura do vimeiro existe em São Miguel desde o início do povoamento. A comprovar o afirmado Gaspar Frutuoso nas Saudades da Terra refere a presença, próximo da Maia, da Ribeira dos Vimes “por plantarem ali os primeiros no princípio da povoação da ilha”.

Para a manufatura dos cestos usavam-se vimes com casca ou descascados. Os vimes eram descascados numa fumarola nas Furnas e numa fumarola na Caldeira Velha, na Ribeira Grande, mas também nas várias localidades. Assim, de acordo com uma nota publicada num dos volumes do “Apontamento Histórico-Etnográfico S. Miguel e Santa Maria”, publicado em 1982, em Água de Pau, procedia-se do seguinte modo:

“…de um caldeirão formado por diversas chapas de ferro com as dimensões de 3x2x2 m, por debaixo da qual se acende uma fornalha durante algumas horas, o suficiente para a água ferver e os vimes cozerem. Depois de cozidos são descascados com o auxílio da unha ou do dente, sendo a seguir postos ao sol a secar. Na opinião dos entendidos, os vimes assim tratados podem aguentar-se por muito tempo e destinam-se à chamada “obra fina.””

Para além dos diversos tipos de cestos, como o cesto de vindima, o cesto de estercar, o cesto de pastel, com os vimes faziam-se várias peças de mobiliário, como cadeiras, sofás, mesas e arcas. Também eram de vimes os seirões que se colocavam nos dorsos dos animais de tiro, um deles era o seirão dos porcos, onde colocavam os bacorinhos que eram vendidos porta a porta, e as sebes dos carros de bois.

Eram também de vimes que eram manufaturados os cofinhos, pequenos cestos circulares que se colocavam no focinho dos bezerros para que estes não mamassem nas vacas.

Pico da Pedra, 13 de dezembro de 2023
Teófilo Braga

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