sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Castanheiro


O Castanheiro

O castanheiro (Castanea sativa), que pertence à família Fagaceae, é uma árvore de folha caduca que pode atingir 20 a 30 metros de altura. Nos primeiros anos o tronco é liso e cinzento tornando-se mais tarde gretado e castanho. As folhas são lanceoladas e dentadas verdes brilhantes. Os frutos desenvolvem-se no interior de um invólucro, o ouriço. De uma longevidade elevada, o castanheiro, que é originário da Ásia Menor, norte de África e sudeste da Europa, pode chegar aos 1000 ou mais anos de idade. Num terreno existente na Ribeira Nova, há um castanheiro, plantado por um antepassado meu, que quando era criança já tinha a altura que tem hoje, o que me leva a concluir que será centenário.

De acordo com Jorge Paiva, do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, “estudos polínicos de material fossilizado de turfeiras na Serra da Estrela indicam a ocorrência do castanheiro naquela área há cerca de 8000 anos. Estes dados, assim como o registo de pólen fossilizado de castanheiro naquela Serra, o qual data de há 4300-3200 anos, não deixam dúvidas sobre a existência pré-romana do castanheiro em Portugal.”

Os castanheiros chegaram aos Açores no início do povoamento, de tal modo que Gaspar Frutuoso refere a sua presença na Agualva, na Ilha Terceira, onde um só castanheiro dava “mais de meio moio de castanhas cada ano”. Em São Miguel, o mesmo autor menciona a presença de castanheiros gigantes na Ribeira da Praia, em Vila Franca do Campo.

Desde muito cedo, vários responsáveis empenharam-se na plantação de várias espécies. Assim, de acordo com Francisco Maria Supico, “por antigas ordenanças se obrigaram os lavradores ao plantio de amoreiras, castanheiros e nogueiras e outras árvores, nos vales e ribeiras, e ainda no ano de 1571 incorriam na pena de reis 10$000 aos lavradores açorianos que não apesentassem certidão de terem plantado até Outubro de cada ano um certo número daquelas árvores.”

Em 1848, o Agricultor Micaelense publicou uma nota sobre o uso das folhas de castanheiro. Assim em algumas regiões daquele país, durante o inverno, era costume alimentar bois e vacas com as folhas. Estas eram conservadas em grandes vasilhas, misturadas com partes iguais de sal e cinza fina. De vez em quando era lançada água sobre elas para não secarem e para as apertar eram colocadas pedras.

António Emiliano Costa, num dos Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores (BCRCAA), depois de descrever um castanheiro, “árvore das mais úteis e rendosas”, existente em São Vicente Ferreira, lamenta a pouca atenção que é dada à espécie.

O mesmo autor, referindo-se a São Miguel, escreveu o seguinte:

“O castanheiro merece de nós um pouco mais de atenção e carinho. Possuíamos aqui na Ilha, antigamente, alguns pequenos soutos que nos abasteciam o mercado do saboroso e bastante alimentar fruto e mais tarde forneciam madeira preciosa para todos os fins. A febre arboricida do último meio século e a doença da tinta…reduziram de tal modo o número dos castanheiros existentes nesta ilha, que hoje não é fácil comer umas castanhas assadas e muito difícil construir uma mobília dessa madeira”. Para além de ser uma árvore com interesse ornamental, a madeira do castanheiro é de excelente qualidade, podendo ser usada no fabrico de mobílias e na construção de portas, soalhos e pipas de vinho. Contudo, historicamente, a principal importância do cultivo do castanheiro está relacionada com o uso dos seus frutos, as castanhas, na alimentação humana, por apresentarem elevado valor nutritivo.

O Dr. Carreiro da Costa, no BCRCAA nº 25, menciona o cozimento das cascas de castanheiro, na tinturaria vegetal, para a obtenção da cor castanha. Yolanda Corsépius (1986) menciona o uso das folhas de castanheiro para debelar a tosse e do córtex para combater a diarreia.

Atualmente, é na ilha Terceira onde a área de cultura é maior, destacando-se a freguesia da Terra Chã, localidade onde se realiza anualmente a Festa da Castanha.

Solstício de inverno, 22 de dezembro de 2023

Teófilo Braga

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