terça-feira, 5 de dezembro de 2023
Espadanas
Espadanas
A espadana, linho-da-nova-zelândia, filhaça, amarradeira, atadeira ou tabua (Phormium tenax J. R. Forst. & G. Forst ) é uma planta herbácea perene que pertence à família Xanthorrhoeaceae.
A espadana, que pode atingir uma altura de 3 metros, apresenta folhas verdes bastante longas em forma de lâmina e inflorescências são altas, com numerosas flores, sendo o seu período de floração entre dezembro e março.
Originária da Nova Zelândia e da ilha Norfolk, a espadana está naturalizada em quase todo o mundo em regiões temperadas e subtropicais, sendo cultivada como ornamental ou fonte de fibra. Nos Açores, encontra-se em todas as ilhas.
A chegada das sementes de espadana a São Miguel ocorreu por volta de 1828, através de Jacinto Ignacio Rodrigues da Silveira, 1º Barão da Fonte Bela, que cedeu algumas ao seu cunhado Francisco Lopes d’Amorim que foi administrador do concelho da Vila das Capelas.
Em 1848, Francisco Amorim ofereceu à Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, cujo secretário era José do Canto, algumas sementes de espadana e uma amostra de “linho” que havia processado para “que a Sociedade por seus conhecimentos, e assíduos trabalhos, possa descobrir outro processo mais prompto, e económico, para se obter na sua pureza o tecido filamentoso d’esta rica planta, o que por certo seria de mui considerável vantagem aos habitantes d’esta Ilha.”
Em 1871, Acúrcio Garcia Ramos referia-se à espadana como sendo “a planta têxtil por excelência”, sendo “a sua rijeza muito acima da do linho, do cânhamo, da piteira e de outras plantas filamentosas” e acrescentava: “Esta riquíssima planta é empregada pelos habitantes da Nova-Zelândia na fabricação das suas redes de pesca e de um grande número de estofos”. Sobre a sua presença nos Açores, o mesmo autor escreve: “cultiva-se para cordas em S. Miguel, onde se dá perfeitamente”.
Em 1880, por iniciativa de José Bensaude e José Jácome Correia, chegou a Ponta Delgada uma máquina para desfibração da espadana que havia sido plantada na Serra de Água de Pau.
No início do século XX, foi José de Sousa Jorge quem promoveu um grande desenvolvimento da indústria da espadana de tal modo que em 1930, só na ilha de São Miguel existiam 7 fábricas de desfibração.
Das fábricas que trabalharam a espadana, recordo as ruínas de uma localizada, em Água d’Alto no caminho que dá acesso à levada cuja água alimenta a central hidroelétrica “Nova” e as instalações da Fiação e Tecelagem Micaelense, mais conhecida por Fábrica de Linho da Ribeirinha, que visitei em 1992 e que chegou a laborar lã para o fabrico de tapeçarias, algodão na produção de chitas e espadana para a produção de cordas.
De acordo com uma publicação do Centro de Artesanato dos Açores, a Fábrica de Espadana no Mato da Praia de Água de Alto “tinha como função principal a desfibração da espadana. Os capachos eram utilizados como utensílios domésticos, principalmente no mundo rural, ou em objetos decorativos nas casas dos mais abastados. A técnica utilizada nos capachos e nas esteiras era a do entrançado, os artesãos entrecruzam, em forma de trança várias fibras e só depois, cosendo ou entrelaçando essas tiras de vegetais é que dão forma definitiva às esteiras e aos capachos.”
Na minha infância e juventude recordo o uso da espadana para amarrar produtos diversos da terra, como molhos de lenha, os manchos de milho antes de os colocar nas arribanas, etc. Também era muito comum ver-se nas casas capachos de espadana que eram feitos em Água de Pau e que também podiam ser usados para a secagem de cereais, nomeadamente do milho.
Hoje, praticamente desaparecido o uso da espadana para o fabrico de cordas ou esteiras, bem como o seu uso na agricultura, a planta é usada essencialmente com fins ornamentais.Nos nossos jardins ou mesmo nas bermas de algumas estradas e caminhos é possível encontrar a Phormium tenax ‘Variegata”, com folhas com riscas verdes e amarelas, e a Phormium tenax ‘Purpureum’ com uma coloração púrpura.
Pico da Pedra e Vila Franca do Campo
6 de dezembro de 2023
Teófilo Braga
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