terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Ulmeiros


Ulmeiros

O ulmeiro, olmo ou negrilho (Ulmus minor Mill.) é uma árvore caducifólia, pertencente à família Ulmaceae, originária da Europa Norte, de África e do sudoeste da Ásia que floresce nos meses de fevereiro e de março.

Espontaneamente, o ulmeiro prefere solos frescos, sendo comum a sua presença junto a margens de cursos de água.

Embora por cá o ulmeiro seja usado sobretudo como planta ornamental, a sua madeira é muito boa dadas as suas características: dureza, elasticidade e resistência à humidade, sendo utilizada no fabrico de móveis, cabos de ferramentas e artigos de desporto.

O ulmeiro, que já era plantado pelos Romanos com fins ornamentais e para suporte das vinhas, possui uma longevidade muito grande, que pode atingir ou mesmo ultrapassar os 350 anos.

As folhas que na base são assimétricas e constituíram uma boa forragem para o gado, sendo também usadas para fins medicinais por possuírem propriedades depurativas, tónicas, sudoríferas e diuréticas. As sias flores são melíferas. A casca exterior é rica em tanino e a interior apresenta propriedades calmantes.

Desconhece-se a data da introdução de ulmeiros nos Açores, mas, em 1856, José do Canto já os incluía na sua lista de plantas existentes no seu jardim, em Ponta Delgada. Embora não muito abundantes, hoje, é possível, em São Miguel, encontrar ulmeiros nos seguintes locais: Parque de Estacionamento da Rua de Santana, Jardim do Palácio de Santana, Jardim Botânico José do Canto, Jardim da Universidade, Relvão, Parque Terra Nostra e Mata-Jardim José do Canto-Lagoa das Furnas.

Nas nossas ilhas o ulmeiro está classificado como casual, isto é, ocasionalmente escapado de cultura e pode ser encontrado em São Miguel, Santa Maria, Terceira, São Jorge, Graciosa e Faial.

Caso singular nos Açores foi o conjunto de ulmeiros existentes na Alameda Duque de Bragança (Relvão), cujo arranjo e primeiras plantações ocorreram em 1862.

O Relvão tem um valor histórico pois foi lá que se concentrou o exército libertador, para ouvir missa campal e uma proclamação de D. Pedro IV, antes do embarque para o Mindelo, donde arrancou para a vitória sobre o miguelismo. Os ulmeiros lá existentes, para além de constituírem um património natural têm também um forte simbolismo histórico por representarem os soldados do exército liberal.

A proteção dos ulmeiros nos Açores é uma medida importante para a proteção da espécie sabendo-se que os mesmos têm sido dizimados pela grafiose por toda a Europa e na América do Norte.

Sobre o negrilho da sua terra, o escritor Miguel Torga escreveu o poema que se transcreve na íntegra:

A UM NEGRILHO

Na terra onde nasci há um só poeta.

Os meus versos são folhas dos seus ramos.

Quando chego de longe e conversamos,

É ele que me revela o mundo visitado.

Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,

E a luz do sol aceso ou apagado

É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação

Serena!

Tu, imortal avena

Que harmonizas o vento e adormeces o imenso

Redil de estrelas ao luar maninho.

Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso

Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

26 de dezembro de 2023

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