quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Feto-real


Feto-real

Embora alguns autores árabes e medievais europeus já tivessem escrito sobre o feto-real, o seu conhecimento científico não é recente, sendo a referência mais antiga a do médico e botânico alemão Valerius Cordus no seu livro “Historia Plantarum”.

O feto-real ou feto-de-flor (Osmunda regalis L.) é uma planta perene, pertencente à família Osmundaceae, nativa dos Açores que pode atingir 1,5 m de altura, com frondes largas verde-claras. Apresenta esporângios na extremidade das folhas férteis e os esporos são verdes.

O feto-real encontra-se espalhado por quase todo o mundo, em regiões temperadas e tropicais. Nos Açores existe em todas as ilhas, sendo, segundo Rui Elias (2022), raro em Santa Maria, muito raro na Graciosa e muito frequente nas Flores.

O feto-real prefere locais húmidos e abrigados, sendo comum nas margens de algumas lagoas como, por exemplo a Lagoa do Canário, na Serra Devassa, na ilha de São Miguel. Encontra-se, geralmente entre os 500 e os 1000 me de altitude.

Desconhece-se a partir de que continente o feto-real chegou aos Açores, nem como terá cá chegado. Poderá ter sido por ação do vento ou por intermédio das aves migratórias.

Sobre o feto-real, o Padre Ernesto Ferreira, no seu livro “A Alma do Povo Micaelense”, editado pela primeira vez em1927, escreveu o seguinte:

“O feito de Sam João (Em Portugal chamam-lhe feto real. É a espécie Osmunda regalis. Em Sam Miguel dizem geralmente feito em logar de féto.) também produz, na noite do austero Precursor, uma lindíssima flôr. Que ninguém jamais viu, mas que daria riquezas imensas a quem pudesse apanha-la. Consegui-lo-ia facilmente um padre indo, á meia-noite, paramentado como para celebrar missa.”

Em França, de acordo com o livro “Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais”, em alguns meios rurais era habitual encher os “colchões das camas de crianças débeis e dos doentes de reumatismo” com as frondes do feto-real.

Rosette Fernandes (1980), depois de afirmar que desconhecia o seu uso nos Açores, escreveu o seguinte:

“Em vários países da Europa é apreciada como planta ornamental e, mesta qualidade, várias formas têm sido obtidas por horticultores. Estes utilizam também muito o rizoma (juntamente com as bases envolventes das folhas velhas) para o cultivo de orquídeas, sendo tão procurada para esse fim que nalgumas localizadas já quase desapareceu. O rizoma, rico em amido, era outrora empregado para o engomamento (…). Finalmente, os médicos antigos usavam o rizoma em medicina e, segundo as várias aplicações indicadas (…) tais como tratamento de cólicas, “descentes”, obstruções do baço, feridas, contusões, «ruptures», «tachite» (raquitismo?), o remédio era quase panaceia universal.”

A maioria dos autores consultados não refere qualquer aproveitamento do feto-real nos Açores, contudo Yolanda Corsépius (1986) menciona o seu uso na medicina popular. Assim, segundo ela a planta possui as seguintes propriedades e indicações: “diurética-litíase renal e biliar; anti-inflamatória- contusões e equimoses.” A autora refere, ainda, que a planta é usada interna e externamente, sendo usado o rizoma seco.

Para o uso externo o modo de preparar é o seguinte: “50-60 g de água em decocção durante 15 min. Aplica-se em compressas.”

Embora já possa ser encontrado em vários jardins, como o Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, esta planta merecia ser muito mais utilizada como ornamental nos Açores.

Teófilo Braga

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