sábado, 24 de fevereiro de 2024

Azevinho


Azevinho

O azevinho (Ilex azorica Gand.) é uma árvore dioica perenifólia, da família Aquifoliaceae, endémica dos Açores, que apenas não ocorre na ilha Graciosa.

O azevinho é uma árvore que pode atingir 14 m de altura. As folhas são pequenas e de forma elíptica-oblonga, glabras, verde-brilhantes na página superior. As flores que surgem em março, abril e maio, são brancas e os frutos são bagas vermelhas, quando maduras.

L Silva, M. Martins, G. Maciel e M. Moura no livro “Flora Vascular dos Açores Prioridades em Conservação”, editado em 2009, afirmam que o azevinho aparece em “locais fortemente expostos, locais húmidos, ravinas, matos de montanha, florestas naturais …escoadas lávicas recentes com vegetação pioneira, margens de lagoas”.

O botânico sueco Erik Sjögren, em 2001, considerava esta espécie em perigo na ilha de Santra Maria e na ilha do Corvo, onde apenas um exemplar havia sido encontrado em 1978. Por sua vez, Rui Elias, no livro “Flora Nativa dos Açores, publicado em 2022, considera o azevinho mais raro em Santa Maria.

Gaspar Frutuoso, por diversas vezes menciona a presença de azevinhos em várias ilha dos Açores. Assim, ao descrever a ilha de Santa Maria, no capítulo IX, do livro III, das Saudades da Terra, escreve o seguinte:

Dá-se nela também toda a sorte de hortaliça, e muito boa, principalmente de Outono. Cria muito muitos azevinhos, ginjas, louros, tamujos e uveiras, que dão muitas uvas de serra e as melhores que há nestas ilhas todas.

No capítulo XLVIII, do livro IV, do livro mencionado, Frutuoso escreve sobre uma utilização do azevinho nos seguintes termos:

“…E onde alcançou e cobriu cinzeiro e pedra pomes, já agora cria uma erva que se chama solda, que se quer parecer com erva ussa, mas cresce mais alta e comprida, e é sempre verde, proveitoso pasto para o gado, além de o ser também a rama das árvores do mato, de pau branco e de outras, especialmente a do azevinho que é mais prestadia, a qual por ser alta Iha cortam os pastores, e outra rama de louro, que alcança o gado ao dente, por ser mais baixa, de que há maior quantidade e abundância; mas, a rama da ginja, de Março por diante, na serra e em terra de mato sombria, o faz ourinar sangue.”

Em 1871, Acúrcio Garcia Ramos, sobre o azevinho e a sua utilidade, escreveu o seguinte:

“É notável arbusto, ás vezes arborescente, por suas folhas duras, firmes, extremamente ondeadas, e por seus contornos espinhosos. A madeira é tão pesada, que vae ao fundo da água, e por isso mesmo tem muito apreço dos torneiros. Os ramos novos, muito flexíveis, servem para vassouras; e a segunda casca, ou liber, fornece aos passarinheiros um precioso visco. Há algumas variedades d’esta especie com folhas malhadas, que prestam um magnífico ornato aos jardins.”

Um relatório, datado de 1932, citado por Carreiro da Costa (1989), ao descrever a situação da flora na ilha do Pico, quase repete as informações de Garcia Ramos. Assim podemos ler o seguinte, sobre o azevinho: “arbusto de ornamento, de madeira muito pesada e que vai ao fundo da água, de grande apreço para as obras de torno”.

A azevinho também marca presença na toponímia açoriana. Assim, Gaspar Frutuoso refere o Pico do Azevinho, no Nordeste, ilha de São Miguel e o Arrebentão do Azevinho, na ilha de Santa Maria. Carreiro da Costa (1989) menciona, na ilha de São Jorge, a Fajã dos Azevinhos e o Salto do Azevinheiro.

Hoje, desconhecemos qualquer utilização do azevinho para além da ornamental, sobretudo em parques e jardins públicos e privados. Assim, fora do seu habitat natural, há azevinhos no Pinhal da Paz, no Jardim da Universidade dos Açores, no Jardim Botânico José do Canto, no Parque Terra Nostra, na Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

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