quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
Marmeleiro
Marmeleiro
Os marmelos, que eram conhecidos pelos gregos pelo menos desde o século VII a. C., foram considerados como um dos frutos mais úteis, sendo utilizados na medicina popular devido à sua adstringência.
Em 1884, António Borges do Couto Moniz numa descrição que faz da ilha Graciosa menciona que naquela ilha existem muita abundância de marmeleiros, “que se exportam milhares de marmelos para as ilhas de S. Miguel e Terceira”.
O marmeleiro ou marmelo (Cydonia oblonga Mill.), pertencente à família Rosaceae, é uma planta originária do sudoeste e centro da Ásia, sendo cultivado em quase todo o mundo, especialmente em regiões de clima mediterrânico.
O marmeleiro chegou aos Açores nos primeiros anos do povoamento das ilhas, como se pode comprovar através da leitura das Saudades da Terra. Com efeito, ao descrever a costa sul da ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso, menciona a existência, em São Roque, de várias fruteiras:
“…porque tem um rico e grande pomar, com cento e sete grandes laranjeiras, todas arruadas por boa ordem, e um pinheiro de grande sombra e muitos limoeiros, limeiras, cidreiras e outras muitas fruteiras, de toda sorte de boa pomage, e diversas enxertias novamente feitas, pereiros, albricoqueiros, macieiras, marmeleiros, figueiras e amoreiras, tanta cópia que, do sobejo e podado, sustenta quase todo o ano a sua grande casa de lenha; grande vinha com seu lagar e casa; batatal, horta de toda a hortaliça, onde se criam muitos galipavos, patos e galinhas, em grande número;…”
Trata-se de uma árvore ou arbusto que pode atingir, em média, 4 m de altura, de folhas caducas e ovais e flores hermafroditas brancas ou ligeiramente cor-de-rosa. Os frutos são em forma aproximada de pera, de cor amarelo-dourado, quando maduros, e polpa áspera e muito aromática.
O marmeleiro, que pode ser plantado de outubro a março e prefere terras ricas e permeáveis, segundo Henrique de Barros e L. Quartim Graça, no seu livro “Árvores de Fruta”, multiplica-se “por mergulhia ou por meio de estacas que se obtêm os porta-enxertos para variedades de qualidade. No que diz respeito a podas, os mesmos autores escrevem o seguinte: “Deve ser muito moderada, não passando de simples limpeza no Inverno para equilíbrio e arejamento da copa que é muito ramificada.”
É cultivado para a produção de frutos que apesar de poderem ser comidos em fresco, devido à sua polpa áspera, é aconselhado o seu uso na preparação de compota ou marmelada.
Augusto Gomes no seu livro Cozinha Tradicional da Ilha Terceira apresenta a receita de “doce de marmelo” que a seguir se transcreve:
“Descascados os marmelos, pesam-se e deitam-se em água fria para não ficarem escuros, e em seguida cozem-se. Depois de cozidos, ralam-se e vão ao lume em um tacho com o mesmo peso de açúcar, deitando-lhe um pouco de sal, e deixando ferver até atingir o ponto de rebuçado.”
Numa brochura publicada nos primeiros anos do século XX, da autoria de Rosa Maria, intitulada “Cem maneiras de fazer doces económicos”, a autora explica como fazer geleia de marmelo. Segundo ela:
” A geleia de marmelo aproveita-se sempre dos desperdícios dos marmelos quando se faz a marmelada. Fervem-se as pevides, cascas e outros restos que ficaram na peneira, aproveitando a água que cozeu os marmelos. Depois de tudo bem fervido côa-se por um pano, mede-se depois e por cada medida de litro junta-se um quilo de açúcar; leva-se ao lume, estando pronta, logo que, deitando-se um pouco num pires e abrindo com um dedo o caminho, esse rasto permaneça”.
Entre outras utilizações, o Dr. Oliveira Feijão (1986) menciona o uso da “geleia de marmelo” como “alimento tónico e reconstituinte de crianças, convalescentes, doentes de peito, etc.”
Teófilo Braga
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